Amamentar durante a gravidez: pode ou não? Veja o que dizem os médicos

O tema divide ginecologistas e pediatras, mas, na maioria das vezes, dá para manter o aleitamento seguindo alguns cuidados. Entenda!

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 3 jun 2018, 10h15 - Publicado em 3 jun 2018, 10h15
 (tatyana_tomsickova/Thinkstock/Getty Images)
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Muitas mulheres podem ser surpreendidas ou mesmo planejar uma nova gestação próxima da outra. Quando isso acontece, surge a dúvida: posso ou não continuar amamentando o bebê que já nasceu?

“Ela pode, desde que não haja contraindicação médica, como ameaça de aborto ou o fato de ter tido partos prematuros anteriores”, opina Elsa Giugliani, pediatra presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). A entidade segue a linha do Ministério da Saúde, que recomenda a amamentação se essa for a intenção da mulher e não houver intercorrências na gravidez.

A Associação Americana de Pediatria (AAP) concorda. “Muitas mães não querem abrir mão da experiência e da conexão emocional com o bebê e não precisam interromper a amamentação se assim desejarem”, aponta Joan Meek, presidente da Seção de Amamentação da AAP. Só é preciso monitorar fatores como a nutrição da mãe e o desenvolvimento do bebê na barriga, como explicaremos abaixo.

O outro lado

O assunto, contudo, não é unanimidade. “Quando a mulher descobre estar grávida recomendamos que ela se prepare para o desmame, especialmente por uma questão nutricional, pois ela precisa de mais energia e ambas as situações, gravidez e amamentação, são desgastantes”, diz Antonio Lages, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Aleitamento Materno da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

De fato, embora as pesquisas ao redor do mundo confirmem que o aleitamento não interfere no curso da gravidez ou no peso do bebê ao nascer, ainda são necessários mais trabalhos para entender se a nutrição da mãe é afetada e como os irmãos amamentados em conjunto se desenvolvem no futuro.

Mas amamentar não impede a gravidez?

A amamentação exclusiva, durante os seis primeiros meses de vida, impede novas gestações por conta da prolactina, hormônio que produz leite e inibe a ovulação. Mas nem sempre o fato de produzir leite significa que a gravidez não virá. O método contraceptivo baseado nessa relação, chamado MAL (Método de Amenorreia Lactacional), só funciona mesmo nesse período.

“E não o consideramos 100% confiável depois dos primeiros 60 dias, então recomendamos que a mulher use outro método, mesmo que menos eficiente, como a tabelinha, para complementar”, explica Lages. Também é importante saber diferenciar a volta da menstruação, que demora para chegar, dos pequenos sangramentos pós-parto, que são normais e podem ocorrer por até 3 semanas depois do nascimento.

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Hormônios do leite x gravidez

A prolactina, hormônio responsável pela fabricação do leite materno, não interfere na gravidez. Com o tempo, entretanto, seus níveis diminuem, e continuar produzindo leite depende mais do estímulo constante da sucção. Eis aí uma dificuldade em manter o aleitamento durante a gravidez.

Já a ocitocina, hormônio envolvido na ejeção do leite, está relacionada a contrações uterinas. “Em teoria, ela poderia provocar contrações e o parto prematuro de mães em maior risco, mas o útero responde à ocitocina a partir da 24ª semana”, aponta Sahira Long, pediatra e Diretora Médica do Children’s Health Center de Anacostia, nos Estados Unidos. “Mesmo assim, isso não é um problema em gestações de risco habitual e sem complicações”, completa a médica.

Quem deve evitar

“Em primeiro lugar, a mulher deve suspender a amamentação se se sentir desconfortável, pois os mamilos ficam mais sensíveis e a sucção pode incomodar”, explica Joan. “Fora isso, nossa única preocupação é com o risco de prematuridade em algumas mulheres”, completa a médica da AAP. Entram nesse grupo de risco as grávida com histórico de parto prematuro e outras condições. “Se houver ameaça de aborto na gestação a lactância também é contraindicada”, explica Elsa.

“Elas devem conversar com o médico sobre o assunto e perguntar por quanto tempo é seguro amamentar”, complementa Sahira. Mas, no geral, são aconselhadas a providenciar o desmame. O mesmo ocorre com gestações gemelares, que também estão ligadas à prematuridade e, por último, mulheres com condições que impedem o sexo durante a gestação — geralmente problemas na bolsa amniótica e sangramentos uterinos. “Se a mulher não pode ter relações sexuais, provavelmente também não poderá amamentar durante a gravidez”, relaciona Elsa.

Como garantir nutrientes aos dois bebês

A Associação Americana de Gravidez recomenda que a mãe coma 500 calorias a mais por dia se o filho já se alimentar por outras fontes, o que provavelmente já estará acontecendo, ou 650 calorias extras caso a gestação ocorra antes do primogênito completar seis meses de vida. Isso além do aporte que já deve ser maior por conta da gravidez – cerca de 350 calorias no segundo trimestre e 450 no segundo trimestre.

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Esse é um ponto importante, mas os especialistas apontam que o aumento ocorre naturalmente. “Uma mulher amamentando normalmente já sente mais fome e sede e o mesmo ocorre com a gravidez, então ela deve seguir seus instintos e não restringir a alimentação de jeito nenhum”, orienta Elsa.

Deve-se levar em conta, ainda, a qualidade nutricional dos alimentos e o fato de que, para garantir saúde aos filhos dentro e fora da barriga, a mulher precisa também descansar mais e receber apoio do parceiro e da família. Isso é uma responsabilidade de todos – e não só dela.

Amamentação em Tandem

Quando o bebê que está sendo gerado nascer, o mais velho pode continuar mamando também, o que é chamado de amamentação em Tandem. “A mãe produzirá mesmo assim o colostro nos primeiros dias de vida do caçula”, aponta Elsa. O leite, diferente no aspecto e na composição, pode parecer estranho ao paladar maior, mas não traz malefícios a ele.

Só é preciso tomar alguns cuidados, como privilegiar o recém-nascido, que depende exclusivamente do leite materno, enquanto o mais velho já tem, a partir dos seis meses, outras fontes de nutrientes. Outro ponto de atenção é a saúde da mãe, que deve ficar de olho em sinais de desconforto, fadiga e suas próprias necessidades nutricionais.

Não precisa forçar a barra

O sabor do leite muda, fica um pouco mais salgado e a produção também pode diminuir conforme a gravidez avança e o primeiro filho cresce. Outros fatores, como a perda do espaço para o colo, o aumento da sensibilidade dos mamilos e do cansaço – especialmente no início da gestação – dificultam o aleitamento.

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Por isso, não é raro as crianças desmamarem sozinhas, de maneira espontânea, quando a mãe engravida de um irmãozinho. Se isso ocorrer, tudo bem! Até mesmo porque provavelmente seu filho mais velho já recebeu os nutrientes do leite materno na época em que mais precisava deles: os primeiros seis meses de vida.

Só não vale se angustiar ou se cobrar em relação a isso, o que não fará bem nem para o bebê que já nasceu nem para o que ainda está crescendo na barriga. E muito menos para você, mãe, que é uma peça fundamental nessa história.

Colaboraram

– Eunice Francisca Martins, Livia de Souza Pancrácio de Errico e Paula Gonçalves Bicalho, professoras do Departamento de Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. (UFMG)

– Rosiane de Oliveira Cunha, enfermeira residente do Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais

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