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Estes são os alimentos considerados mais alergênicos para crianças

Evidências mostram que o consumo destes itens não precisa ser adiado, mas saiba como introduzi-los na alimentação infantil.

Por Nathalie Ayres
Atualizado em 14 jan 2021, 15h49 - Publicado em 14 jan 2021, 15h48

Quando o assunto é introdução alimentar, as mães sentem uma série de medos. Um deles é justamente oferecer algum alimento que possa desencadear uma alergia. A pediatra e alergologista Lucila Camargo Lopes de Oliveira, membro da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), explica que com a maioria das pessoas acontece a tolerância oral, um processo bastante ativo do nosso sistema imune para aceitar alimentos sem reagir.

No entanto, algumas pessoas podem não ter uma indução dessa tolerância, ocorrendo então uma reação, que pode ou não ser alérgica. Nesses casos, nosso corpo ataca esse componente, causando sintomas.

“Muitos fatores podem propiciar o desenvolvimento de uma alergia alimentar como predisposição genética, a não colonização por uma microbiota saudável (bactérias benéficas), uma permeabilidade intestinal aumentada (que é mais comum nos bebês), a não exposição a fatores tolerogênicos (aqueles que ajudam na indução da tolerância oral) como os presentes no leite materno, entre outros”, enumera a especialista.

Quais são os alimentos com maior potencial alergênico?

A lista de alimentos alergênicos inclui os seguintes itens:

  • Ovo: cuja clara possui itens como ovoalbuminas e ovomucoide;
  • Leite de vaca: tanto proteínas do soro como da sua porção sólida (caseína) podem deflagrar alergias, assim como a alfa-lactoalbumina e beta-lactoglobulina;
  • Amendoim: menos comum aqui no Brasil, possui maior potencial de alergia nos compostos Ara h1, Ara h2, Ara h3, Ara h6, Ara h8;
  • Outras oleaginosas: nozes, avelãs e castanhas apresentam risco de alergia devido às proteínas de estocagem ou depósito alergênicas;
  • Trigo: o problema está em frações como a gliadina e glutenina;
  • Soja: graças a substâncias como glicinina e conglicinina
  • Peixes e frutos do mar: apresentam mais de uma proteína em sua composição que podem deflagrar reações alérgicas, sendo as mais conhecidas as parvalbuminas e as tropomiosinas, respectivamente.

“Com menor prevalência são descritas alergias a alérgenos presentes no gergelim e em frutas como banana, kiwi e abacate”, completa a nutricionista Clarissa Fujiwara, coordenadora de Nutrição da Liga de Obesidade Infantil do HC-FMUSP e membro do Departamento de Nutrição da ABESO. Ela ressalta também que aditivos como tartrazina (corante de cor amarela), vermelho carmim, sulfitos e glutamato monossódico também podem entrar nesta lista.

Sabendo disso, eles devem ser evitados?

A recomendação continua a mesma: nos seis primeiros meses de vida, preferencialmente, mantenha apenas o aleitamento materno. Após esse tempo, por mais que os bebês ainda não tenham um sistema imunológico maduro, não é preciso necessariamente restringir sua alimentação. “Estudos têm mostrado que postergar a introdução de alimentos na infância não evita o desenvolvimento de alergia e sim podem até favorecer o surgimento da mesma, em alguns casos”, explica a médica Oliveira.

Fujiwara cita um estudo de 2015 publicado no New England Medical Journal, que mostrou que a introdução precoce do amendoim na dieta de lactentes aos 4 meses de idade apresentou um efeito protetor futuramente para a alergia em bebês de alto risco, que apresentam parente de primeiro grau (pai, mãe ou irmão) com alguma doença alérgica. “Há um Consenso Brasileiro sobre alergias na infância que também coloca que as evidências atuais (com base em estudos randomizados) não dão suporte à recomendação de se restringir a introdução desses alimentos para essas crianças a partir do sexto mês de vida”, menciona a nutricionista.

E isso vale mesmo que haja histórico de alergia a algum item específico na família do bebê. “Uma vez que haja histórico familiar de alergia, aumenta a chance sim de a criança vir a se tornar alérgica, mas não há a recomendação de se evitar alimentos mais comumente causadores de alergia e sim de não postergar a introdução”, ressalta a pediatra.

O mais importante é inserir um alimento novo de cada vez e observar as reações do pequeno, que podem incluir:

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  • Diarreia;
  • Sangue nas fezes;
  • Urticárias;
  • Inchaços;
  • Vômitos;
  • Sintomas respiratórios associados aos casos mais graves.

“Como esses sintomas podem estar presentes em outras manifestações não alérgicas é preciso passar com o especialista para confirmar o diagnóstico antes de se fazer uma dieta restritiva alimentar desnecessariamente”, acrescenta Oliveira.

Apenas se o pequeno apresentar sinais do tipo é que é necessária uma restrição de alimentos na dieta tanto do bebê quanto da mamãe que ainda esteja amamentando.

Alergias na infância podem ser revertidas

Um ponto importante, recordado por Oliveira, é que alergias na infância nem sempre são para a vida toda. “O bom é que, na enorme maioria, as alergias iniciadas nesta fase tendem a evoluir naturalmente para aquisição de tolerância com o passar dos anos, sendo o inverso na fase adulta”, comenta a especialista.

Outra questão séria, levantada por Fujiwara, é que não há substâncias ou protocolos capazes de prevenir a alergia. “O Consenso Brasileiro também coloca que não existem benefícios comprovados para o uso de prevenção de alergias, como os probióticos (as fibras que as bactérias da nossa microbiota intestinal usam)”, alerta.

No entanto, é sabido que o desmame precoce pode fazer com o bebê esteja mais propenso a desenvolver esse tipo de quadro, assim como consumo insuficiente de vitamina D e de ácidos graxos como ômega 3. Mas nada de suplementar: a alimentação é capaz de suprir esses substâncias, se for preciso peça orientação a um nutricionista especializado em crianças.

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