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Como lidar com os desafios da alimentação da criança com Síndrome de Down

Eles podem aparecer já na amamentação - por isso, o acompanhamento de especialistas é fundamental desde cedo

Por Carla Leonardi
21 mar 2023, 13h55

Desde o aleitamento, logo que o bebê vem ao mundo, a alimentação é uma preocupação constante de mães, pais e outros cuidadores, afinal, é também pela ingestão de nutrientes que a criança crescerá forte e saudável. Mas é normal que algumas dificuldades surjam pelo caminho, principalmente se houver alguma questão especial, como é o caso da Síndrome de Down.

Patrícia Junqueira, fonoaudióloga e diretora do Instituto de Desenvolvimento Infantil, explica que algumas características possíveis da síndrome tendem a demandar mais atenção, como “hipotonia muscular [diminuição do tônus], cardiopatia congênita, macroglossia [língua maior], entre outras, que podem impactar diretamente na alimentação”.

Devido a essas questões, desde o início da amamentação é possível haver dificuldade para sugar o leite. Mais adiante, pode acontecer uma demora no aprendizado da mastigação, já que a mobilidade da língua é mais restrita, dificultando o movimento de lateralização, essencial para mastigar. Além disso, a associação de comorbidades, como a cardiopatia congênita, também torna o processo mais desafiador. Desde cedo, portanto, “é muito importante que a criança seja acompanhada por um fonoaudiólogo especialista em Motricidade Orofacial e/ou Disfagia com experiência em Síndrome de Down”, alerta Patrícia.

Síndrome de Down e cardiopatia congênita

Vale ressaltar que cerca de metade das crianças que nascem com a trissomia do cromossomo 21 apresentam cardiopatia congênita – alguma alteração significativa no funcionamento do coração. “Quando não há boa condição cardíaca, a respiração é impactada”, aponta a fonoaudióloga. E quando o ato de respirar não vai bem, a ingestão de alimentos pela boca fica prejudicada, podendo até mesmo trazer riscos graves. “Nesses casos, o suporte nutricional por via enteral pode ser necessário para garantir que o bebê mantenha a nutrição e o crescimento, mas com segurança”, destaca.

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Bebê sentado em cadeirão, pegando pedaços de comida colocados sobre a bandeja.
(kumacore/Getty Images)

A importância do acompanhamento desde cedo

A especialista lembra ainda que, quando não são bem conduzidas, as dificuldades alimentares podem se manter com o passar dos anos, já que o contato com a comida não se constrói de forma leve e saudável. “O mais importante é que a criança, desde cedo, estabeleça uma relação de confiança com os alimentos e com o momento da alimentação, e é a avaliação de um fonoaudiólogo que poderá detectar quais as condições e os desafios para que o bebê seja alimentado”, pontua.

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Por exemplo: existe a possibilidade de que bebês engasguem durante a amamentação, com risco de aspiração (a chamada disfagia). “Nesses casos, pode haver necessidade de ajustes na consistência do leite/fórmula para segurança e eficiência da mamada”, explica a fonoaudióloga, que acrescenta: “já durante a introdução alimentar, é frequente observarmos a dificuldade na transição para grãos e pedaços de alimentos. Isso também precisa ser identificado para que os pais sejam orientados a não forçar e não distrair o bebê para comer“, afirma.

Além dessas questões, a percepção e a discriminação sensorial oral, bem como os movimentos da língua, precisam ser trabalhados quando não funcionam bem. “É necessário ter conforto, segurança e habilidade para avançar no aprendizado alimentar, e a orientação quanto à escolha dos alimentos é essencial. Porém, se isso não acontece, as dificuldades podem se perpetuar por uma vida toda, pois comer se torna cansativo, desagradável e difícil”, finaliza Patrícia Junqueira.

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