Quando o bebê nasce, seus rins ainda não estão totalmente prontos para funcionar. Isso porque é a placenta que faz o papel de filtro para o sangue durante a gestação. “Nesse período, ele ainda não tem capacidade de concentrar a urina e pode fazer xixi até 15 vezes ao dia”, comenta Mariana Cunha, nefrologista pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.
No primeiro aniversário da criança, o pequeno rim já opera em plena capacidade, mas até lá a imaturidade do sistema urinário faz com que o conteúdo da fralda seja bem clarinho e inodoro. Só não se assuste se aparecerem manchas laranjas ou rosadas nos primeiros dias de vida do seu recém-nascido. “É bem comum que isso ocorra, trata-se da eliminação de cristais de urato pela urina, o que é normal”, tranquiliza a médica.
Outros sinais, entretanto, merecem atenção, entre eles odores fortes e cores diferentes. O amarelo escuro, por exemplo, pode indicar desidratação; já o avermelhado está relacionada a uma possível presença de sangue na urina. O problema é que não é tão simples notar que há algo errado no xixi do filho.
No caso da infecção urinária, por exemplo, o organismo do seu filho não manifesta os mesmos sintomas dos adultos. “Não dá para esperar o cheiro forte para suspeitar de uma infecção urinária”, orienta Mariana. Muitas vezes é só uma febre (ou nem isso), e o bebê pode ficar mais irritado e sentir dor ao urinar.
Portanto, se a febre durar mais de 24 horas sem outros sintomas ou se o xixi estiver mais escuro que o normal e não clarear com aumento da oferta de líquidos, melhor investigar. Especialmente porque a doença, quando acontece no começo da vida, geralmente está ligada a problemas internos.
“70% das infecções urinárias em crianças com menos de dois anos acontece devido a malformações do trato urinário”, aponta Marcelo Tavares, nefrologista pediátrico da Sociedade Brasileira de Nefrologia. “Além disso, quanto mais novo for o bebê, maior o risco de complicações como a infecção generalizada”, complementa Nilzete Liberato Bresolin, presidente do departamento de nefrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
O mais comum desses transtornos é o refluxo urinário, quando há um defeito na junção entre ureter, o caninho por onde desce o xixi, e a bexiga. “Parte da micção volta e se acumula ali, virando um meio de cultura para bactérias se proliferarem”, explica Tavares. A condição pode regredir sozinha com o tempo ou exigir tratamento cirúrgico.
Um problema dos meninos
Para os dois sexos, o jato de xixi deve ser forte. Mas no caso dos garotos, essa potência deve ser observada bem de perto, pois eles estão sujeitos a malformações específicas que diminuem o volume de xixi, como o prepúcio fechado demais, típico de quem tem fimose.
“Algumas alterações anatômicas exigem correção cirúrgica”, explica Mariana Cunha. Isso porque elas podem obstruir a passagem da urina e colocar em risco a saúde renal do bebê. Se o xixi está saindo fraquinho ou gotejando, melhor consultar o médico.
Por dentro do xixi
O corpo da criança produz no mínimo 1 ml de urina por quilo a cada hora – o que resulta em pelo menos seis xixis por dia quando o rim já está maduro. A maior parte do líquido, até 96%, é água, mas também há sais minerais, proteínas, açúcar e outras substâncias eliminadas pelo corpo. “Essa eliminação é apenas um reflexo das funções que os rins exercem no corpo”, destaca Tavares.
Entre elas estão o controle da pressão arterial, da acidez do sangue e a produção de um hormônio que regula a produção de glóbulos vermelhos na medula óssea. “Além disso, os rins regulam o metabolismo do cálcio e do fósforo. Ou seja, são indiretamente responsáveis pela saúde óssea da criança”, completa o médico.
Como manter o sistema urinário saudável
A dica básica é ficar atento à hidratação do bebê, de preferência com o leite materno e, depois dos seis meses, com oferta de água. Em regiões mais quentes, o xixi sai mais concentrado, o que indica a necessidade de tomar mais líquidos.
Alguns remédios ameaçam diretamente a fábrica da urina. “Anti-inflamatórios não hormonais, como ibuprofeno e nimesulida, devem ser ofertados com cuidado no primeiro ano de vida, pois podem lesionar os rins”, expõe Tavares.
De resto, é importante observar os sinais de alerta e a quantidade e aspecto da urina. Além da febre, outros sintomas ajudam a denunciar problemas no rim e no trato urinário. “Recusa alimentar, retenção urinária, choro frequente, perda de peso, vômitos e palidez são alguns sinais que levam o pediatra a investigar problemas renais”, conta Nilzete.
Depois do período de amadurecimento do rim, fazer muito xixi também merece atenção. “Algumas condições mais raras provocam a poliúria, que é a produção excessiva de urina, e isso pode atrapalhar a absorção de nutrientes e o desenvolvimento da criança”, conta Mariana Cunha.
“Algumas fraldas também mudam de cor com o contato do xixi, o que auxilia no monitoramento da quantidade que o bebê faz por dia”, ensina Mariana Nudelman, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.