Colocar uma música divertida e sair dançando pela casa pode parecer uma cena rotineira para as pessoas. Mas quando um bebê está a caminho, não é incomum que a gestante repense na hora de mexer o corpo ou até mesmo adie as aulas de dança. Entretanto, o que explica os especialistas é que esta ideia não passa de um mito quando estamos falando de uma gestação saudável.
“Tanto as danças tradicionais quanto as contemporâneas, sem que tenham salto e impacto, podem ser feitas na gravidez”, esclarece Maria Cecília Santa Cruz Brein, obstetra do CEJAM. Mas o que reforça a especialista é que ela não é indicada em casos de riscos, como de abortamento, parto prematuro, e problema de dilatação precoce do colo do útero.
O obstetra e ginecologista Alberto d’Áuria, da Maternidade Pro Matre Paulista, também alerta sobre gestantes com doença hipertensiva. Neste caso, o médico precisa analisar caso a caso, para entender se a mulher está apta para a dança. Se for o seu caso, sinta a música e pode ir entrando na roda, porque a atividade, de fato, traz uma série de benefícios durante a gravidez.
Todo o corpo agradece
A primeira melhora trazida pelo movimento é o relaxamento, já que há a liberação da serotonina, conhecida como o hormônio da felicidade. Junto a ele, o contato com a música pode trazer sensações de acolhimento e prazer, repassadas para o bebê dentro da barriga, segundo Natália Lima, bailarina profissional e instrutora de pilates.
Essa ligação com a própria estrutura física e emocional é reforçada por Alberto. “Desde o início da gestação a mulher precisa desenvolver uma consciência corporal, fundamental para que seu corpo contribua para a permanência do embrião e do feto no útero durante os meses de gestação. E a dança, por ser um ritual que envolve movimentos rítmicos e cadenciados com diversos membros, contribui para essa construção corporal”, detalha o especialista.
Há também uma série de resultados positivos para o físico da gestante, especialmente no que se diz respeito ao condicionamento e fortalecimento da musculatura. É isso que exemplifica Adriana Arruda, formada em educação física e professora de dança no Espaço Vibre, no Rio de Janeiro.
“A dança é um movimento integral, em que todo o corpo mexe e há ação de vários músculos. Com os movimentos repetitivos e volume um pouco maior, o músculo se exercita e fica mais forte. Assim, melhora a densidade óssea, e circulação sangüínea da gestante, principalmente nos membros inferiores. Além de ter a manutenção da massa magra, e melhora do seu condicionamento físico”, detalha a especialista. Sim, gravidinha, vai ficar mais fácil subir a escada ou caminhar até o trabalho.
Maria Cecília também explica que é comum a gestante ficar com a coluna vertebral mais forçada durante a gestação para manter o equilíbrio conforme o crescimento da barriga. Isso pode resultar em dores gradativas tanto na lombar quanto na própria coluna. Com a dança, essa musculatura tende a relaxar, junto com a do quadril, e os incômodos diminuírem.
Mas por onde começar?
Com os benefícios da dança listados, a dúvida é por qual modalidade começar, já que nem todas são recomendadas. Por isso, o conselho da obstetra é que as gestantes que nunca fizeram exercício físico esperem até a 12ª semana da gravidez para dar início. E, mesmo assim, consulte o obstetra antes para que ele libere (ou não) a prática das atividades.
Além da avaliação médica, Alberto reforça que é essencial que a gestante seja acompanhada por um profissional capacitado para evitar acidentes. “Durante a gestação existe a produção de um hormônio chamado relaxina, que promove o relaxamento das articulações, o que explica o fato das gestantes terem mais entorses (estiramentos e rompimentos de ligamento)”. Com o instrutor correto ao lado, a gestante pode pedir ajuda para executar os movimentos, se levantar ou ainda caso sinta tontura.
Vamos aos poucos!
Com a permissão do obstetra em mãos, as orientações para gestantes que eram sedentárias antes de engravidar são de que iniciem com atividades de fortalecimento e baixo impacto, como alongamentos e hidroginástica. A bailarina profissional Natália, que dançou durante os seus nove meses de gestação, também indica o pilates para fortalecer o assoalho pélvico e o períneo.
“Ele trabalha os músculos profundos do corpo sem impacto e dentro dos limites do corpo. Por exemplo, se a gestante tem algum problema de lombar ou coluna, dentro da técnica do pilates, nós conseguimos trazer alívios para a dor de forma não farmacológica para que ela se sinta bem durante a gestação”, elucida a instrutora.
Conforme a gestante for evoluindo e tenha o aval médico, a dança pode entrar para as opções com aulas duas vezes por semana. Natália aconselha modalidades como Yoga dançante, dança circular, ou ainda ballet para gestantes no primeiro trimestre. Mas como lembra Maria Cecília, é essencial que nenhuma delas tenham movimentos de impactos intensos, como saltos ou elevem os batimentos cardíacos a uma frequência preocupante (como se sentir ofegante).
Já posso?
“O segundo trimestre é o melhor momento para a gestante praticar atividade física, porque normalmente acabou os enjoos, mal-estar, e sonolência. É quando ela vai se sentir mais bonita, ter mais disposição, e menos incômodos. Nesse período, aconselho qualquer tipo de dança, como ballet fitness, tradicional, aula de zumba, jazz, contemporâneo, e hits. Mas claro: dentro dos limites do corpo, sem forçar uma situação, e evitar pular”, pontua Natália.
No terceiro trimestre, não é incomum que a grávida volte a sentir alguns desconfortos, principalmente pelo tamanho e peso da barriga. Por isso, a orientação é diminuir o ritmo caso a canseira venha. Agora, se ela se sentir confortável para seguir o ritmo de antes e o obstetra concordar, tudo bem continuar as aulas. Inclusive, isso pode auxiliar na vinda do bebê ao mundo.
“No trabalho de parto, é importante conseguir relaxar principalmente a pelve para facilitar a descida do bebê. Portanto, alguns ritmos em que a gestante consegue mexer mais o quadril e promovem mais o relaxamento, ajudam que o bebê encaixe. Além da mulher conseguir ficar menos tensa e com isso ter menos dor no trabalho de parto”, explica Maria Cecília.
Quando a dança deve ser suspensa
Mesmo com os diferentes benefícios que a prática pode trazer, é importante que a gestante esteja atenta aos sinais de que a atividade física deve ser suspensa ou pelo menos pausada até uma avaliação médica.
O primeiro é a presença de contrações doloridas e ritmadas (em torno de dez a 12 contrações no mesmo dia). O que explica Maria Cecília é que com a chegada do quinto mês, pode acontecer contrações fisiológicas chamadas Braxton Hicks. Elas enrijecem a barriga, mas não são doloridas ou ritmadas (para saber mais a respeito, clique aqui!). Entretanto, se elas começarem a ter um comportamento significativo e doerem, é hora de parar as aulas de dança e procurar por avaliação.
O mesmo vale para caso a grávida tenha algum tipo de sangramento. Dependendo do período da gestação, ele pode ter significados diferentes, mas só um especialista pode pedir por exames que comprovem que está tudo bem com a mãe e o bebê.