Por que os bebês regurgitam e como saber se isso é um problema

Um pequeno guia para diferenciar as golfadas normais das preocupantes e entender como o refluxo se manifesta no começo da vida.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 9 jun 2017, 10h26 - Publicado em 8 jun 2017, 20h22
 (mmpile/Thinkstock/Getty Images)
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Depois de mamar, o bebê faz cara de quem vai chorar – ou, até pior, age como se nada demais estivesse acontecendo – e o leite volta pela boca em golfadas. Tirando os eventuais estragos na roupa, tudo volta ao normal em minutos, mas o episódio levanta dúvidas nos pais. Será que está tudo bem? “Regurgitar é muito comum nos primeiros meses depois do nascimento, mas na maioria dos casos não acarreta consequências à saúde”, tranquiliza Carlos Landi, pediatra da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Ocorre que, ao nascer, o sistema digestivo do bebê ainda está se desenvolvendo. Afinal, no útero da mãe ele não tem a oportunidade de treinar como engolir um alimento. “O esfíncter, espécie de anel que controla a passagem de comida entre o esôfago e o estômago, ainda não trabalha bem o suficiente, então às vezes o leite volta rapidamente para cima”, detalha Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra membro da Sociedade Brasileira de Neonatologia (SBN).

Essa regurgitada inofensiva é chamada de refluxo fisiológico, que, como o nome indica, é uma etapa normal do funcionamento do pequeno organismo. A partir dos cinco meses, as habilidades digestivas melhoram e o leite segue seu fluxo no sentido certo: só para baixo. Ainda é comum que alguns episódios ocorram até depois do primeiro aniversário.

Para uma pequena parcela de crianças, entretanto, a regurgitada é mais dramática. Há choros intensos antes e depois da amamentação – seja ela à base de leite materno ou fórmulas lácteas – e o líquido sai pela boca como um jato de vômito, intenso e volumoso. As contrações musculares são mais significativas e o esforço involuntário deixa o bebê irritado. Estamos diante do refluxo patológico.

Quando o refluxo vira doença

Aqui a disfunção também é na válvula que deveria manter o alimento no estômago, mas com um agravante. “Nesse caso, a comida volta com os ácidos que fazem a digestão no estômago, e essas substâncias causam lesões no aparelho digestivo”, diferencia Ejzenbaum. Além do mau funcionamento do esfíncter esofágico, alergias alimentares, como a ao leite, também estão envolvidas no aparecimento do refluxo patológico.

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O mal-estar nasce no esôfago, mas se espalha rapidamente. Com a acidez constante e a digestão prejudicada, a criança passa a perder peso ou ter dificuldade para ganhar novos quilos, tem tosse, chiado no peito e pode até ter algumas dificuldades no desenvolvimento. Por isso é tão importante diferenciar um do outro.

Na maioria das vezes, o diagnóstico é clínico, já que os sinais do estrago costumam ser aparentes. “Em quadros mais severos, usamos exames como a PHmetria, que exige sonda e anestesia, para analisar a incidência e o dano do refluxo”, descreve Ejzenbaum. Testes de sangue e imagem também entram em jogo se necessário.

A partir daí, o tratamento costuma envolver medicamentos conhecidos como protetores gástricos, que neutralizam o poder destrutivo dos ácidos estomacais, e outros remédios que ajudam a regular o funcionamento do sistema digestivo. Tudo para ajudar o corpo a passar por essa espécie de período de treino. Depois dos dois anos, a maioria das crianças melhora. “Em raríssimos casos, é preciso uma cirurgia para corrigir o problema”, explica Ejzenbaum.

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Como amenizar

No refluxo fisiológico, medidas simples já bastam. O bebê deve estar com a cabeça mais alta que o corpo na hora de mamar e, depois da refeição, o melhor lugar é no colo, inclinado sobre o ombro, onde o pequeno fica até que o período mais propício para a regurgitação termine – são cerca de quarenta minutos.

Já no berço, travesseiros antirrefluxo ou colocar um objeto de formato adequado embaixo do colchão são medidas que aliviam o desconforto. Mas eles, segundo os especialistas, são imprescindíveis mesmo apenas quando o refluxo vira doença.

Outros métodos, como fracionar a dieta em pequenas porções para que o estômago fique menos cheio, também só devem ser adotadas com a orientação do pediatra. “A criança mama o quanto precisa e, se o refluxo não é patológico, não é preciso adotar medidas além de manter a criança inclinada depois da alimentação”, resume o especialista da SBN.

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Soluções caseiras, aliás, não faltam. Tias, avós, amigos… Todos têm uma ideia para acabar com o aparente sofrimento do bebê. Por isso mesmo vale o recado: é melhor fugir delas. “O sucesso do tratamento depende de entender porque o refluxo ocorre, então ao perceber esses sinais, deve-se procurar orientação médica”, complementa Ejzenbaum.

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