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Poliomielite: tudo o que você precisa saber e o risco dessa doença voltar

Baixa cobertura vacinal deixa bebês de pelo menos 312 cidades expostos à volta da enfermidade que causa paralisia infantil, mas é completamente evitável.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 18 Maio 2021, 16h16 - Publicado em 3 jul 2018, 16h18

O recado claro do Ministério da Saúde foi dado pela Agência Brasil: a poliomielite, doença que assustou o país em várias ocasiões no século passado, pode voltar a qualquer momento. A ameaça é provocada pela baixa cobertura da vacinação, que está abaixo de 50% em 312 cidades, a maioria na Bahia. E não são só elas que devem se preocupar.

“Esses municípios estão em alerta maior, mas estamos com uma cobertura nacional de 77%, muito abaixo do ideal de 95%”, comenta Carla Domingues, coordenadora nacional do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde. A queda vem sendo observada há pelo menos três anos, o que aumenta a probabilidade da doença, que causa paralisia infantil e sequelas para o resto da vida, reaparecer.

“Há um grupo significativo de crianças suscetíveis, e, assim, maior chance de ter um caso esporádico que se transforme em um surto”, continua Carla. Isso porque, embora o último caso da doença no Brasil tenha sido registrado em 1990, ela ainda não sumiu do mundo. “A poliomielite é endêmica no Paquistão e no Afeganistão e, com o fluxo de pessoas que viaja pelo mundo, o vírus pode ser transportado para cá”, completa a gestora.

Você sabe o que é polio?

Uma das justificativas apontadas pelos especialistas para a queda da taxa de vacinação é o desconhecimento sobre a poliomielite, que não é vista há quase 30 anos. “Ou seja, pais, mães e profissionais de saúde nunca viram a doença, então há uma percepção de que não há mais risco”, explica Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Com essa distância e tantos obstáculos para cumprir o extenso calendário de vacinações do PNI, atualizado em postos que só funcionam de segunda à sexta em horários comercial, muitas vezes os pais têm que escolher entre a imunização contra os males que parecem mais graves, como meningite. Só que o vírus polio, apesar de ser em geral inofensivo, se espalha fácil e é aí que está o problema.

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Entenda a doença

O poliovírus, causador da polio, entra pelo corpo tanto pelas vias áreas quanto pelo alimento e água contaminados pelas fezes de indivíduos infectados. No geral, o quadro apresenta sintomas pouco específicos, semelhantes aos da gripe ou de infecções intestinais. Mas, em 1 a 5% dos casos, dependendo do tipo do vírus, a forma mais grave e perigosa da doença ocorre.

“Ele tem atração pelas terminações nervosas, causando uma inflamação que lesiona de maneira irreversível os nervos que comandam os músculos”, explica Kfouri. Crianças mais novas, em especial as com menos de um ano, estão mais suscetíveis a contrair esta apresentação aguda, que na maioria dos casos deixa sequelas definitivas: paralisias geralmente assimétricas, em uma das pernas, que deixam os membros mais flácidos e impedem que os músculos funcionem adequadamente.

“Em situações mais raras, a doença pode provocar a morte, pois a paralisia se agrava e atinge outros membros até, no final, chegar ao músculo respiratório”, explica Flávia Bravo, presidente da Regional RJ da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Para complicar, não existe um remédio para o vírus da polio, ou seja, é preciso esperar ela passar sozinha e dar suporte aos infectados que ficarem com sequelas depois.

O vírus vacinal: outro perigo

Na Venezuela, houve um caso suspeito de poliomelite neste ano que, depois, foi confirmado como sendo uma versão da doença provocada pelo vírus atenuado da vacina. Isso ocorre em algumas crianças e é um fenômeno raríssimo – 1 a cada milhão – que não pode ser transmitido a outras pessoas, pois o vírus é modificado para não conseguir se replicar.

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“Mas o micro-organismo pode entrar em contato com outros em circulação, como o rotavírus, e sofrer uma mutação em que volta a ser contagioso”, aponta Flávia. Em uma comunidade de pessoas não vacinadas – incluindo os adultos, que não ficam doentes, mas podem carregar o agente nocivo – há mais chances dessa versão fazer estragos iguais aos do vírus selvagem.

A ocorrência venezuelana, entretanto, não deve ser motivo para preocupação aqui. “A vacina que traz esse risco é a de gotinha, feita com o vírus vivo atenuado, quando aplicada na primeira e na segunda dose, mas aqui no Brasil usamos outra, feita com o vírus morto, para as primeiras doses”, esclarece Flávia.

Conheça a vacina

O único jeito de manter o perigo da poliomielite bem afastado é garantir proteção aos pequenos. A imunização é aplicada em cinco doses. A vacina injetável é usada aos 2, 4 e 6 meses de vida, período que não pode atrasar. “É a fase em que a criança está mais vulnerável”, destaca Kfouri. Depois, os reforços com a gotinha são feitos aos 15 meses e, posteriormente, no quarto ano de vida.

Além dos postos de saúde, a próxima Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite ocorrerá de 6 a 31 de agosto, quando haverão mais horários e locais disponíveis para tomar as doses. Enquanto isso, o governo reforça o alerta aos municípios e a atenção às fronteiras, por conta do susto na Venezuela há menos de um mês.

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“A doença se confirmou como oriunda da vacina e não do vírus selvagem, mas foi um sinal de alerta, e estamos vacinando todas as crianças que entram no país por essa região, não só para a polio, mas todas as outras doenças imunopreveníveis” destaca Carla. Como a baixa taxa de crianças protegidas não é um problema exclusivo da polio, vale ficar com os olhos bem abertos – e a carteirinha de vacinação em dia.

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