Desde abril deste ano, uma onda misteriosa de casos de hepatite infantil aguda sem causa conhecida gerou preocupação em pais e responsáveis por crianças. Neste período, o que não faltaram foram hipóteses levantadas na tentativa de encontrar o culpado (ou culpados) pelo surto da doença. Agora, parece que pesquisadores da Inglaterra finalmente conseguiram desvendar o enigma.
Analisados pelos especialistas da Universidade College London (UCL), dois estudos britânicos – pré-publicados na revista científica MedRxiv em julho deste ano – descobriram a presença do vírus adeno-associado 2 (AAV2) em 96% dos pacientes que apresentavam a hepatite misteriosa.
No entanto, o que se sabe sobre o vírus AAV2 é que a sua infecção normalmente não causa doenças e o agente não é capaz de se replicar no organismo sem “ajudantes”. Sendo assim, os pesquisadores acreditam que a gravidade do quadro de hepatite desenvolvido pelas crianças seja resultado de uma coinfecção do vírus adeno-associado 2 e um outro adenovírus – até mesmo um herpesvírus, identificado em algumas das amostras.
O primeiro estudo (conduzido em parceria com a Agência Nacional de Saúde Pública Escocesa) analisou 9 casos confirmados da doença e 58 pacientes saudáveis, enquanto a segunda pesquisa (com apoio da Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido) investigou a fundo 28 episódios da hepatite, incluindo amostras do fígado de cinco crianças que precisaram de transplante do órgão.
Para os cientistas, ainda não é possível saber com precisão o motivo por trás da onda misteriosa, mas se tem levantado a possibilidade de estarmos passando por um surto de contágio de adenovírus – uma infecção que pode ser evitada com cuidados básicos de higiene – após o período de isolamento por Covid-19, que contribuiu para a redução da imunidade geral da população e para a mudança nos padrões de circulação de vírus.
“Enquanto ainda temos algumas perguntas não respondidas sobre exatamente o que levou a este aumento em casos de hepatite aguda, esperamos que os resultados possam tranquilizar os pais preocupados com a relação deles com a Covid-19, visto que nenhuma das equipes encontraram qualquer ligação direta com o SARS-CoV-2”, afirmou o professor da UCL Judy Breuer em nota oficial.