Quando o assunto é o cuidado com o pequeno, a expressão “dos pés à cabeça” faz total sentido! Porque além de prestarem atenção se a criança está se desenvolvendo conforme o esperado, se alimentando e dormindo direitinho, os pais tem uma tarefa extra que é pensar em como anda a saúde da boca do seu filho.
E assim como várias dúvidas e saberes populares circundam o universo infantil, a dentição também é cheia de especulações. Você já deve ter ouvido por aí, por exemplo, que mamar antes de dormir não faz bem para o bebê ou que o uso de chupeta pode provocar cárie. Pois bem! Pensando nisso, chamamos especialistas para desvendar de uma vez os 12 mitos e verdades mais comuns sobre o tema. Vem ver o que eles disseram:
1. É preciso higienizar a gengiva do bebê
Mito. “Quando o bebê faz uso exclusivo do leite materno, não é recomendado higienizar nem a boca, nem a língua e nem a gengiva, porque a amamentação proporciona fatores de proteção que são benéficos para a criança. Assim, passar gaze, algodão ou limpar de alguma outra forma pode remover essas imunoglobulinas, que são anticorpos importantes na prevenção de doenças”, explica a cirurgiã-dentista Brunna Bastos.
2. Bebês podem ter cárie
Verdade. De acordo com a odontologista, o nascimento do primeiro dentinho de leite acontece, em média, entre seis e sete meses de idade, e sem os devidos cuidados é possível que a condição se desenvolva. “A partir daí, a criança pode ter cárie se fizer uma dieta que chamamos de cariogênica, com açúcar (que não é indicado até os dois anos) e outros alimentos fermentados e se não for feita a higienização correta do dente”, esclarece Brunna.
A ingestão desses alimentos ou até mesmo do leite materno sem a devida higiene dos dentes pode contribuir com o acúmulo da placa bacteriana que, segundo a especialista, é um fator predisponente para a cárie.
3. O dente pode nascer cariado
Mito. “Nascer com cárie é impossível, porque você não tem a placa bacteriana aderida ao dente”, responde a dentista. Ela acrescenta que a ação da bactéria da cárie se faz sobre a placa, “alimentando-se” dos resíduos de açúcar e produzindo um ácido responsável pela lesão (que aparece como pontinhos pretos que observamos).
4. O nascimento dos dentes de leite pode gerar febre no bebê
Verdade. Sintomas como febre, irritabilidade, diarreia, vômito, falta de apetite e sono agitado são alguns dos relatados pelos pais, de acordo com a Dra. Stella Dumke, dentista especializada em odontopediatria. As crianças também podem sentir a necessidade de morder por conta da coceirinha ocasionada pelo dente que irrompe na gengiva.
“Neste caso, o mais efetivo para aliviar o desconforto são objetos ou mordedores gelados, oferecer alimentos mais durinhos ou massagear a gengiva da criança”, recomenda Stella. Já em relação ao uso de gel tópico e medicamentos como analgésicos e antitérmicos, ela indica que seja sempre realizado com a orientação médica ou odontológica. “Automedicar o seu filho com soluções caseiras é perigoso, porque a febre ou algum outro sintoma podem ser uma coincidência e estarem relacionados a uma infecção de outro órgão, por exemplo”, alerta ela.
5. É preciso escovar já os primeiros dentinhos
Verdade. O cuidado deve começar desde o nascimentos dos primeiros dentes da criança, com escovas adequadas à faixa etária e gel dental fluoretado. “Existe muita polêmica em torno do uso do flúor mas, em quantidades adequadas, ele apresenta benefício comprovado com relação à prevenção da cárie”, diz Brunna. “Ele é inclusive recomendado pela Associação Brasileira de Odontopediatria e a única coisa que muda é a quantidade utilizada da pasta: meio grão de arroz cru até os dois anos; um grão de arroz cru dos dois aos quatro; e um grão de ervilha para crianças acima dos quatro anos”, complementa.
6. É preciso fazer um pré-natal odontológico
Verdade. Ambas as especialistas concordam que o ideal é que os pais façam consultas informativas antes do nascimento do bebê em que o odontologista educa os adultos sobre os cuidados relacionados à saúde bucal do pequeno. “Eles recebem orientações sobre como higienizar a cavidade bucal da criança, sobre a importância da amamentação – que, com o movimento de sucção, ajuda a formar a musculatura facial da criança -, quando introduzir os alimentos, dentre outros”, diz a cirurgiã.
Depois que o bebê nascer, Brunna recomenda que ele visite o dentista assim que seus dentinhos aparecerem ou até antes disto. “A partir do terceiro mês, quando ele já tem mais anticorpos, pode ter sua primeira consulta, para que o profissional reforce os cuidados bucais”, indica.
7. O uso de chupeta pode provocar cárie
Mito. O uso de chupeta pode sim trazer prejuízos, mas não desta maneira. “O acessório não tem relação com a lesão de cárie, mas sim com a má oclusão (quando não há um encaixe perfeito entre as arcadas dentárias). A chupeta só pode colaborar para que o dente fique cariado caso os pais coloquem água com açúcar nela para acalmar a criança”, afirma Brunna.
8. Chupar o dedo pode influenciar na posição dos dentes
Verdade. “Ao posicionar o dedo no céu da boca, a criança dá uma mordida aberta, o que também pode incentivar a má oclusão”, pontua a cirurgiã-dentista. Se o bebê coloca o dedo na boca toda hora e tem a necessidade de sucção, ela recomenda que os pais optem pela chupeta, por ser um meio possível de controlar – embora nenhum dos dois mecanismos seja o ideal.
9. Mamar antes de dormir pode prejudicar a saúde bucal do bebê
Depende – e aqui estamos falando de um bebê que já tenha dentes, ok? A amamentação antes de dormir só é prejudicial se os dentinhos do pequeno não forem escovados depois do ato. “É possível até que gere cárie, porque o leite fica ‘parado’ no dente, o que aumenta a acidez da boca – até porque quando a criança dorme ela diminui a salivação”, explica Stella. Por isso, o ideal é higienizar os dentes depois da última mamada.
10. O uso de fio dental é recomendado desde cedo
Depende. O fio dental é importante inclusive para que a criança crie o hábito desde cedo, mas a Dra. Brunna indica o seu uso em um primeiro momento somente se o dentinho do paciente tiver com um contato mais estreito com o dente ao lado. “Neste caso, a escova não consegue alcançar o espaço entre os dentes, e já se torna necessário o uso do fio dental”, diz. Saiba mais sobre o uso do item em crianças pequenas.
11. Se a criança quebrar o dente é preciso reimplantá-lo
Depende. Mais uma vez – e ainda mais em uma situação delicada como esta, a resposta é variável. “Cada caso tem que ser avaliado individualmente. Muitas vezes quando quebra um dente da frente, que envolve estética e função, o indicado é que os pais levem até o dentista para que seja feito o reparo e a restauração”, esclarece Stella.
O procedimento, segundo Brunna, é que os pais tentem guardar o pedacinho do dente que ficou fraturado, conservando-o em uma solução de leite, soro fisiológico ou na própria saliva da criança. Em seguida, ela indica que levem para o consultório, para que o dentista tente proceder com o tratamento. “Não tentem reposicionar o dente e procurem levar até o consultório em até duas horas”, afirma.
12. A criança pequena pode ter bruxismo
Verdade. A condição não tem idade para aparecer, e pode se manifestar tanto durante a noite quanto quando a criança está acordada. Como principal sintoma, os pais podem notar a criança raspando os dentes de cima nos de baixo ou apertando-os.
“Caso surja a suspeita, é necessário levar ao especialista para que seja feito um trabalho de anamnese (uma conversa para entender os motivos) e de acompanhamento para descobrir as causas desse bruxismo – pode ter relação com respiração, ansiedade, fatores genéticos, dentre outros”, explica Stella. “Nós, como dentistas, vamos trabalhar na proteção desses dentes, porque o bruxismo desgasta-os e pode afetar negativamente a estrutura dentária”, finaliza ela.