“Meu filho foi diagnosticado com câncer no dia do aniversário de 2 anos”

Após três duros anos de tratamento, o pequeno entrou em remissão. A mãe compartilha a história para dar um alento a quem passa por uma situação semelhante

Por Da Redação
Atualizado em 15 fev 2023, 12h05 - Publicado em 15 fev 2023, 10h40
duas polaroids lado a lado. Numa delas, quatro pessoas de costas andam em uma praia. Na outra, a mesma família, agora de frente, posa para a câmera
 (Foto/Arquivo Pessoal)
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Bolo, balões, chapeuzinhos, doces… É a tudo isso que o aniversário de 2 anos de uma criança deveria remeter. Para Gabriel Peratelli foi bem diferente. Internação, roupa de hospital, cirurgia e complicações marcaram a data. Foi em 27 de maio de 2017 que ele recebeu o diagnóstico de câncer.

Tudo começou no início daquele mês, quando o pequeno parou de andar e sentiu dor no pé. Depois de uma saga, que envolveu consultas com oito médicos diferentes e exames infinitos, a mãe dele, Daniela, 34, ouviu uma das notícias mais temidas entre pais e mães: o filho tinha Leucemia Linfoide Aguda.

Após três longos e árduos anos de tratamento intensivo, o pequeno entrou em remissão. Hoje, aos 7 anos, Gabriel está livre da doença. No Dia Internacional da Luta contra o Câncer Infantil, a mãe conta brevemente toda a batalha e compartilha sua mensagem com outras famílias de crianças com câncer: “A cura vem!”

Veja o relato de Daniela:

“Nossa luta começou em maio de 2017, quando Gabriel tinha 1 ano e 11 meses. Ele parou de andar e reclamava de dor no pé esquerdo. No pronto-socorro, o problema foi diagnosticado como uma torção, e assim tratamos. No entanto, dois dias depois, o abdômen dele começou a inchar. Fomos ao pediatra, que pediu alguns exames para investigar. Nada apareceu.

Então, no dia seguinte, ele começou a ter episódios de febre, que nos fizeram voltar ao pediatra. O médico entrou com antibióticos. Enquanto isso, o pé do Gabriel não melhorava. Marcamos uma consulta com um ortopedista, que também pediu vários exames. Nenhum resultado mostrava problemas. Mas alguma coisa me incomodava. Eu sabia que tinha algo errado com ele e não era pouco, mas eu não queria acreditar. Sentia que era grave. Ao todo, passamos por oito médicos.

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Dez dias após a primeira ida ao pronto-socorro, conseguimos um encaixe com uma ortopedista pediatra, que solicitou mais exames, incluindo um hemograma, que é o exame de sangue. No dia seguinte, o laboratório entrou em contato conosco, pedindo que repetíssemos alguns exames, porque o resultado do primeiro mostrava uma alteração importante. Eu ainda falei que não conseguiria levá-lo naquele momento, porque estava sem carro e chovia. Eles me disseram que iriam até em casa fazer uma nova coleta. Ali, eu sabia que tinha algo muito sério. Liguei chorando para a minha mãe.

Nesse mesmo dia, percebemos que Gabriel começou a ficar pálido e amarelo, e que seu abdômen estava ainda mais inchado. Em 27 de maio daquele ano, atendemos uma ligação da médica que recebeu os exames dele nos orientando a ir imediatamente ao Hospital do Câncer de Cascavel, no Paraná, onde uma oncologista estaria nos esperando. Fui pegá-lo na escola chorando. Falei para a professora que ele tinha algo muito grave.

“Eu sabia que tinha algo errado com ele e não era pouco, mas não queria acreditar. Sentia que era grave”

Lembro como se fosse hoje do desespero de ir para aquele hospital, chorando e imaginando mil coisas. Quando chegamos, meu filho foi atendido imediatamente. Levamos todos os exames e relatamos os sintomas. Terminou ali a saga para descobrir o que ele tinha – e começou uma outra batalha. Assim que a médica concluiu o exame físico, ela disse: ‘Mãe, pai, o Gabriel tem câncer. Ele tem leucemia.’

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Ouvir aquilo abriu um buraco imenso dentro de mim. O que veio na hora à minha cabeça era que ele iria sofrer e que iria morrer. Olhei para meu marido, abracei o Gabriel bem forte e falei: ‘E agora ?’. A médica, que se chamava Carmem Fiori, tentou nos acalmar e disse que o diagnóstico era precoce e que havia chance de 80% de cura somente com a quimioterapia. Ele seria internado já naquele momento e faria mais alguns exames, para podermos saber qual tipo de leucemia ele tinha. Sim, porque, para a nossa surpresa, soubemos que existem mais de 20 tipos.

Andando pelos corredores do hospital, os olhos percorriam tudo. Os pensamentos estavam a mil. Eu não entendia mais nada, só fazia o que todos pediam. Jamais esquecerei daquele 27 de maio, quando meu filho foi diagnosticado com câncer, justamente no dia de seu aniversário de 2 anos. Sim, ele passou o aniversário no hospital.

Foram três dias de internação, fazendo vários exames. Então, ele foi levado para o centro cirúrgico, onde colocou o cateter para começar a quimioterapia. Nós o deixamos lá e, duas horas depois, mais um susto: os médicos pediram para subirmos, pois tinha havido uma complicação e o Gabriel seria levado para a Unidade de Terapia Intensiva, a UTI. Outro desespero.

Ele teve uma parada cardiorrespiratória na mesa e, por isso, precisou ser intubado por vários dias. Naquela UTI fria, havia médicos e enfermeiros maravilhosos, que, apesar de todas as dificuldades, nos ajudavam a ter otimismo e fé. Gabriel fez quimioterapia ainda sedado. Após dez dias, ele reagiu e pôde sair dos aparelhos. Ao acordar, dois dias depois, uma nova surpresa: ele voltou a andar.

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três polaroids de um mesmo bebê lado a lado. Na primeira, ele usa uma cânula no nariz. Na segunda, está sentado sorrindo em uma cama de hospital. Na terceira, está em pé, olhando para o lado e sorrindo
Gabriel durante o tratamento contra leucemia (Foto/Arquivo Pessoal)

A primeira sessão de quimio foi um sucesso! Gabriel ficou internado por 30 dias e o protocolo de tratamento foi estabelecido para Leucemia Linfoide Aguda, que é o tipo de leucemia mais comumente diagnosticado. Mas não se engane. Ser comum não significa que seja fácil de enfrentar. Não é, não! O protocolo dele incluiu três anos de quimioterapia, quatro dos ciclos com internação, três vezes por semana de quimioterapia ambulatorial, quimioterapia oral diária, injeções semanais, exames mensais de coleta de líquor e coletas trimestrais de medula.

Além disso, ele precisou mudar a alimentação, ter cuidados redobrados com a saúde, não podia tomar sol… Como a imunidade era baixíssima, também não podia receber visitas. Por conta das internações e da quimioterapia, Gabriel teve alterações no sono e passou a não dormir à noite. Ficamos assim por quase um ano. Sem falar que passávamos noites cozinhando e limpando, já que tudo tinha que estar higienizado.

Em dezembro de 2017, tivemos ajuda de várias pessoas, porque ele precisava de doação de sangue. Foram conhecidos e desconhecidos, familiares, amigos e até mesmo o youtuber Whindersson Nunes. Minha tia deu a ideia de pegar alguns kits de cosméticos para vender e ajudar nas despesas. Comprei trinta kits e não sabia como ia pagar por aquilo, já que eu tinha precisado largar meu emprego. Lembro que arrumei tudo, embalei, coloquei em cima da mesa e rezei para conseguir vender, pelo menos para cobrir o custo.

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Então, entrei na internet e, no Facebook, tinha um post do Whindersson, perguntando algo como: ‘E aí, o que vocês estão fazendo?’. Despretensiosamente, mandei a foto e falei que estava arrumando kits para vender e custear o tratamento do meu filho, que estava com câncer. Ele respondeu em seguida, logo embaixo, perguntando quanto custavam. Respondi tremendo e ele me chamou no privado. Disse que ia me mandar o valor total e que não precisava mandar os kits. Fiquei emocionada! Não acreditei! Então, o assunto chamou a atenção, virou reportagem na TV local, em portais. A partir daí, muitas pessoas fizeram meu filho sorrir em meio a tanto sofrimento. Quanta gratidão!

Três anos depois, Gabriel teve alta da quimioterapia e a tão sonhada remissão finalmente chegou. Seu corpinho está curado e conseguindo se defender sozinho. O acompanhamento continua, é claro, mas, graças ao diagnóstico precoce, foi possível tudo andar bem. Fiquei atenta, fui insistente, pesquisei e li até fecharem o diagnóstico.

No meio do caminho, foi muito difícil para mim também. Passei a ter crises de ansiedade muito fortes. A qualquer gripe, febre ou a cada vez que precisava ir ao Hospital do Câncer, eu tinha graves crises. Fiquei um ano e meio sem dirigir, porque passava muito mal. Hoje, com bastante terapia, medicamentos e tratamentos, estou melhor, mas ainda dependo dos remédios. Por isso, um dos meus conselhos para os pais e mães de crianças com câncer é que não foquem 100% na criança, mas cuidem de si também. Quando seu filho começar o tratamento, converse com um psicólogo. Me dediquei 1000% a ele. Não que eu me arrependa disso, mas hoje trato uma doença psicológica que dói demais.

No hospital, fizemos vários amigos, aprendemos sobre diversos tipos de câncer. Perdemos alguns deles no caminho, mas também vimos muitos serem curados. Câncer tem cura sim – e o Gabriel é a prova disso! Estou nas redes sociais para alertar as mães sobre os sintomas e ajudar a buscar o diagnóstico precoce. Nenhum médico conhece uma criança melhor do que a mãe e o pai.

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Um dia, meu filho teve câncer, mas o câncer nunca não o teve. Espero que, por meio desse relato da luta do Gabriel, eu possa alertar e também abraçar de coração todas as mães e todos os pais que iniciaram essa batalha há pouco tempo. Um dia de cada vez. A cura vem!”

Daniela Queiroz, 34 anos, mãe de Gustavo, 13, e Gabriel, 7. Também é ‘mãe de pet’ – a cachorrinha Chiquinha a ajudou no tratamento contra a ansiedade, que ela passou a ter junto com a doença do caçula. A família vive em Marechal Cândido Rondon (PR).

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