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Cientista que modificou embriões geneticamente quer continuar pesquisas

Um ano depois de sair da prisão por conduta médica ilegal, o chinês He Jiankui comenta sobre as três crianças com DNA alterado

Por Carla Leonardi
13 fev 2023, 15h22

Em novembro 2018, He Jiankui chamou a atenção do mundo ao anunciar o nascimento de gêmeas com DNA alterado – o objetivo, segundo ele, era atribuir a elas a capacidade de resistir ao HIV, vírus causador da Aids. Além das meninas, Lulu e Nana, uma criança nascida em 2019, Amy, também teria tido sua genética modificada.

A informação foi revelada, na época, à agência americana Associated Press (AP), segundo a qual Jiankui era especialista em biofísica e não tinha histórico com experimentos humanos. No ano seguinte, ele foi condenado por um tribunal de Shenzhen, na China, onde ficava seu laboratório, a três anos de prisão por manipulação genética em embriões com fins reprodutivos.

Agora, quase um ano depois de ser solto, o cientista deu uma entrevista ao South China Morning Post comentando o assunto. Ele afirmou que as três crianças “têm uma vida normal, pacífica e imperturbável” e disse que “devemos respeitá-las”. O pesquisador ainda ponderou que o experimento foi precoce: “Fiz muito rápido”. Ainda assim, mesmo após a condenação e as duras críticas de boa parte da comunidade científica, segue fazendo planos.

Em informação concedida ao jornal El País, Jiankui revelou que já havia providenciado um espaço de 100 metros quadrados em Pequim para um novo laboratório, criou o Instituto de Investigação de Doenças Raras – uma organização sem fins lucrativos – e estava em busca de financiamento para seguir com as pesquisas. O objetivo agora, afirmou, seria tratar crianças e adultos com doenças raras, e não mais embriões. “Tenho uma visão de longo prazo, que é que cada um de nós deve estar livre de doenças hereditárias”, reforçou ao South China.

Imagem de um óvulo sendo fertilizado em laboratório
(the-lightwriter/Thinkstock/Getty Images)

Bebês geneticamente modificados

Uma publicação do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) intitulada Technology Review teve acesso a um artigo não publicado do estudo e concluiu que houve erro no genoma dos embriões. “Na verdade, a equipe não reproduziu a mutação conhecida. Em vez disso, eles criaram novas mutações, que podem levar à resistência ao HIV, mas talvez não”, diz o relatório.

Desde o nascimento, as crianças são monitoradas, mas, apesar de os cientistas responsáveis terem se comprometido a pagar por um seguro de saúde extra (além do público), nenhuma companhia quis se envolver após a repercussão do caso. A solução que Jiankui pretende seguir é criar um fundo solidário para cobrir possíveis despesas médicas. “A partir dos 18 anos, os jovens vão decidir se farão acompanhamento médico para suas necessidades individuais. Nós nos comprometemos a fazer isso por suas vidas”, finalizou.

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