Estudo analisa transmissão de covid-19 por crianças em comunidade do RJ

A conclusão é de que os pequenos continuam não propagando a covid-19 em seus lares, sendo os adultos os maiores vetores da doença.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 10 jun 2021, 17h58 - Publicado em 10 jun 2021, 17h39
Coronavírus
 (Volanthevist/Getty Images)
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No segundo ano consecutivo da pandemia causada pelo coronavírus, pesquisas retomam as análises sobre crianças pequenas serem as grandes responsáveis pela transmissão ou não da infecção, especialmente pela preocupação com o retorno das aulas presenciais. E a resposta continua na mesma direção das conclusões de 2020: adultos são mais propícios a passarem a doença para os pequenos do que o contrário.

Um estudo recente sobre o tema foi produzido por autores brasileiros e o cenário analisado é uma comunidade carioca, em Manguinhos, onde um grande número de pessoas costuma dividir a mesma moradia, aumentando as chances de contaminação pelo coronavírus.

Intitulada “A dinâmica da infecção de Sars-CoV-2 em crianças e contatos domiciliares em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro”, a análise será publicada em breve no periódico Official Journal of the American Academy of Pediatrics. 

O trabalho realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade da Califórnia (UCLA) e da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM) teve a participação de 677 pessoas de 259 domicílios – entre elas, 323 eram crianças (de zero a 13 anos), 54 eram adolescentes (14 a 19 anos) e 290 eram adultos. O acompanhamento deste público aconteceu entre os meses de maio a setembro de 2020.

O passo a passo da pesquisa

A principal motivação dos estudiosos envolvidos na pesquisa era entender se crianças eram mais propensas a transmitir a covid-19 aos familiares e outros adultos próximos, o que ajudaria a trazer mais clareza também sobre o cenário da volta às aulas presenciais.

Pensando nisso, o ponto de partida da análise foi acompanhar crianças com menos de 14 anos que buscaram pelo Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), em Manguinhos. Elas passaram a ser testadas por meio do RT-PCR e também da sorologia, para identificar presença do IgG, assim como as outras pessoas que moravam com elas.

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O motivo dos tipos de testagem se dá pelos diferentes cenários que poderiam ocorrer. Para comprovar que crianças foram contaminadas por adultos ou adolescentes com histórico de covid-19, elas precisariam acusar positivo no RT-PCR (teste que reconhece a infecção no seu pico), enquanto os responsáveis demonstrariam a presença do anticorpo IgG, por meio da sorologia, indicando um contágio anterior ou já mais tardio da doença.

“Nossa hipótese é que se a transmissão fosse principalmente de adultos e adolescentes para crianças, o pico de prevalência de IgG em adultos e adolescentes ocorreria antes do pico de prevalência de IgG em crianças”, completa o artigo.

Dados importantes encontrados 

E, até o momento, a suposição dos pesquisadores foi comprovada com o levantamento realizado. Isso porque 45 crianças testaram positivo para covid-19 e, dentre elas, 26 tiveram contato com um adulto que também estava com a doença e 19 estiveram próximas de possíveis infectados que não aceitaram realizar os exames, mas relataram sintomas associados ao coronavírus.

Outra descoberta importante e que dialoga com o que já vinha sendo dito sobre a infecção em bebês, é que há uma maior incidência da doença nos menores de um ano. A primeira justificava discutida por médicos é que isso tende a acontecer pelo sistema imunológico imaturo dos pequenos, o que os torna mais sucetíveis à doença.

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Já no estudo, eles levantam uma segunda hipótese. “A pesquisa observou também uma proporção maior de crianças com menos de um ano infectadas, em comparação com grupos pediátricos de outras idades, o que seria atribuído ao contato direto com as mães. Enquanto um estudo na China revelou uma taxa de infecção de 17% em bebês, a pesquisa feita em Manguinhos registrou aproximadamente 30%”, detalha o artigo.

A imunização ainda é necessária 

Ainda que tais dados sejam um alívio para pais que possuem crianças pequenas em casa, eles não são justificativas para que os menores não sejam imunizados contra a covid-19. O estudo defende que, caso a vacinação não chegue para todos, o grupo infantil pode continuar a propagar a pandemia se não for protegido contra a doença.

“Mesmo não sendo as principais fontes de infecção nos domicílios no estudo, é necessário incluir crianças nos ensaios clínicos de vacinação. Se os adultos forem imunizados e as crianças não, elas podem continuar a perpetuar a epidemia. Se no mínimo 85% dos indivíduos suscetíveis precisam ser imunizados para conter a pandemia de Covid-19 em países de alta incidência, esse nível de proteção só pode ser alcançado com a inclusão de crianças em programas de imunização, principalmente no Brasil, onde 25% da população têm menos de 18 anos”, reforça o artigo.

Vale ressaltar que esta defesa fica ainda mais evidente ao estarmos vivenciando um cenário diferente do período analisado na pesquisa, em que variantes estão infectando adultos com mais facilidade, o que por sua vez faz da vacina contra covid-19 ainda mais um direito necessário a todos.

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