Você já ouviu falar na esporotricose? A doença tem ganhado o noticiário em razão do crescimento de casos observado nos últimos anos e apontado no 23º Congresso Brasileiro de Infectologia, que aconteceu em setembro, na Bahia. No evento, Flávio Telles, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) alertou que a esporotricose segue sem controle no Brasil.
A questão é que essa zoonose não é de notificação compulsória em nível nacional – ou seja, não há obrigatoriedade em notificar os casos (o que é importante para manter o controle do seu avanço). Isso acontece apenas em alguns municípios e estados, que repassam os números ao Ministério da Saúde. Sabe-se que o Rio de Janeiro, por exemplo, teve um aumento de 162% nos últimos dez anos e é uma área endêmica.
O que é a esporotricose e como ela é transmitida?
Trata-se de uma micose, doença de pele causada por fungos da famílila Sporothrix, e está presente na natureza em espinhos, folhas, palha e até na madeira. “Ao homem, ela pode ser transmitida pelo gato contaminado“, explica Viviane Scarpa, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Nesse caso, a transmissão se dá por arranhões, mordidas, pelo trato respiratório [por gotículas] ou por alguma lesão na pele do animal com que o humano entra em contato“, acrescenta. O contágio, vale dizer, não acontece de pessoa para pessoa.
Quais são os sintomas e como é o tratamento?
Viviane aponta que o sintoma mais comum é uma lesão avermelhada na pele. “Parece uma picada que evoluiu para uma ferida profunda, com centro purulento e borda elevada”, detalha.
As feridas começam no local de inoculação do fungo (onde houve o contato inicial) e, dessa lesão principal, surge um cordão endurecido que acompanha o vaso linfático. “Nesse cordão, podem aparecer outras lesões. Além disso, os gânglios também costumam estar aumentados”, acrescenta a dermatologista. Trata-se da esporotricose linfocutânea.
Viviane explica ainda que a doença deve ser tratada por antifúngicos num período relativamente longo: em geral, de três a seis meses. Dependendo do caso, é possível que dure até mais. “Mas atenção: a automedicação nunca pode ser feita. Procure sempre um médico”, alerta.
Devem ter ainda mais cuidado os grupos de risco, como pessoas com o sistema imunológico comprometido (por exemplo, por doenças autoimunes), já que ela pode evoluir para partes mais sensíveis do corpo, como articulações e ossos. Nesse caso, passa a ser chamada de esporotricose extracutânea.
Em situações mais graves, há a possibilidade se tornar disseminada, atingido outros tecidos e órgãos. Apesar disso, ela não é considerada grave em humanos, embora possa ser fatal para os gatos.
Cuidados com a criança
A primeira recomendação é evitar o contato dos pequenos com gatos que apresentem feridas na pele. “Caso a criança tenha sido arranhada ou mordida por um gato, é preciso prestar atenção para ver se alguma lesão aparece no local. Se sim, deve-se levá-la o mais rápido possível ao atendimento médico“, orienta Viviane.
A profissional lembra ainda que, nos pequenos, as lesões são mais comuns na face, pelo hábito de acariciar os animais próximo do rosto. Não fazer carinho em felinos na rua também é uma forma de prevenir a transmissão, já que os ferimentos podem não estar visíveis num primeiro momento.
Por fim, é importante ressaltar que a doença também tem tratamento e cura para os gatos. Caso o animal de estimação apresente sintomas, a orientação é levá-lo para atendimento veterinário imediatamente.