Especialistas e autoridades da saúde se reuniram na última quinta-feira, 26, em São Paulo, para lançar um manifesto de alerta sobre a possibilidade real da volta da poliomielite e do sarampo. Por conta da baixa cobertura vacinal, as doenças, que hoje são consideradas erradicadas do país, podem reaparecer e trazer consequências graves à saúde infantil.
O documento foi assinado pelo Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e Rotary International. No texto, as entidades convocam todo o país a participar da Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite e o Sarampo, que ocorrerá entre 6 e 31 de agosto.
“A ideia é conclamar os pais a vacinar os filhos e também os profissionais de saúde a reforçar a necessidade da imunização, pois as baixas taxas de cobertura deixam a população vulnerável a epidemias”, comenta Leonardo Weissman, infectologista consultor da SBI, presente no evento. Desde que os números começaram a cair, o Ministério da Saúde tem alertado sobre esse risco.
Para se ter ideia, em mais de 300 cidades brasileiras o índice de cobertura da vacina da poliomielite, que deveria ser de 95%, está abaixo de 50%. O país não registra casos da doença que causa paralisia infantil e até a morte há quase 30 anos, mas o vírus ainda circula pelo mundo. “Enquanto ainda houver registros de caso em outros países, há a chance dele voltar ao Brasil”, aponta Weissman.
O sarampo já está entre nós
Dados divulgados no último dia 26 pela Agência Brasil indicam que o Brasil já tem 822 casos confirmados de sarampo, sendo 519 no Amazonas e 272 em Roraima. Há menos de 10 dias eram 677 casos. Casos considerados isolados foram confirmados em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia e Pará.
Os números sobem rápido pois o vírus é de fácil transmissão. E, apesar de na maioria das vezes causar um quadro leve, como uma gripe, que evolui para manchas vermelhas na pele, em alguns casos há complicações importantes. “A doença pode evoluir para otite, infecções no trato respiratório e, mais raramente, levar a criança a óbito”, destaca Weissman.
Não deixe de vacinar
O que mais preocupa os médicos é que ambas as doenças são totalmente evitáveis com as vacinas. Entre os motivos que afastam as crianças da proteção está a dificuldade no acesso às doses, geralmente aplicadas em postos de saúde que só funcionam no horário comercial. Mas a percepção de que elas não são mais importantes também atrapalha, assim como boatos sobre malefícios na verdade inexistentes.
“Há fake news sobre o assunto e os pais também nem sabem mais o que é a poliomielite, mas é preciso enfatizar que a vacina é a única maneira de prevenir doenças graves nas crianças e é segura“, reforça Weissman. É nesse cenário que a Campanha Nacional de Vacinação que começa dia 6 ganha ainda mais importância.
No próximo dia 18, um sábado, ocorre o Dia D, quando costumam haver mais locais disponíveis e horários estendidos para tomar as doses. Ela será focada nos menores de cinco anos, mas o manifesto pede ainda que os adultos que nunca tomaram a vacina do sarampo ou tomaram só uma dose visitem o posto de saúde quando a campanha terminar para atualizarem a própria caderneta e, assim, reforçar a proteção aos pequenos.