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Entenda por que criança com suspeita de coronavírus piorou com ibuprofeno

O medicamento está sendo apontado como uma forma do vírus entrar com mais facilidade no organismo.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 18 mar 2020, 21h53 - Publicado em 18 mar 2020, 21h44

Entre os casos específicos de coronavírus que estão repercutindo, um deles foi o de uma garotinha chamada Amélia, de quatro anos, na Inglaterra. Em um desabafo nas redes sociais, o pai Dan Collins fez um alerta para os pais sobre o uso de ibuprofeno em crianças com suspeita da doença, como é o caso de sua filha.

No domingo (15), quando Amélia acordou e foi ao encontro dos pais, eles perceberam que ela estava com 38°C e outros sintomas do coronavírus, como tosse. Para entenderem como agir corretamente na situação, eles ligaram para a emergência e foram informados que, em um intervalo de duas horas, paramédicos iriam checar a família.

Nesse meio tempo, o pai tentou encontrar um medicamento chamado Calpol, usado para diminuir os sintomas de gripe (incluindo febre), em crianças, mas não conseguiu achá-lo na cidade em que mora. A saída foi recorrer ao Ibuprofeno. 

“Uma hora depois de dá-lo, Amélia piorou drasticamente. Ela ficou ofegante, seu ritmo cardíaco era muito rápido e ela não conseguia manter os olhos aberto. Seu corpo estava tremendo e sua temperatura havia aumentado para 39.4°C”, descreveu o pai.

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Preocupados, retornaram a ligação para a emergência, que enviou uma ambulância até eles. Ainda no relato, Dan esclareceu que a filha ficou melhor com a ajuda dos paramédicos, mas que a piora de Amélia não foi por acaso. Ele alertou a outros pais sobre representantes da saúde não recomendarem o uso de ibuprofeno para controlar a febre, mas paracetamol.

O que a OMS diz sobre o medicamento?

A instrução dada pelos paramédicos não está equivocada. Na terça-feira (17), a Organização Mundial da Saúde afirmou que não recomenda o uso de ibuprofeno para tratar quadros de suspeita e diagnóstico de coronavírus. A decisão está relacionada a um aviso emitido pelo ministro de saúde da França, Olivier Véran, e principalmente por um estudo inicial publicado na “The Lancet”, revista científica sobre medicina.

De acordo com a pesquisa, pacientes com diabetes e hipertensão que foram tratados com ibuprofeno poderiam desenvolver quadros mais graves da doença.

Com dados ainda preliminares, a pesquisa também analisa a hipótese de que o medicamento piora os quadros da doença por facilitar a entrada do vírus Sars-Cov-2 no organismo.

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“No nosso corpo, temos vários receptores. E, para alguma coisa entrar nele, ela tem que ter um receptor. Se não, ela é eliminada do organismo. O ibuprofeno, para fazer efeito, aumenta a expressão de alguns receptores que chamamos de ECA2 (Angiotensina 2) e eles acabam atuando como receptores do coronavírus. É como se a doença conseguisse entrar mais nas células pelo aumento da sensibilidade desses receptores”, explica Thatiane Mahet, pediatra especialista em alergia, imunologia e nutrição infantil.

Só que a especialista lembra que tais conclusões ainda estão em fase inicial. “Isso tudo são estudos preliminares, o que significa que ainda não se tem uma comprovação científica. Mas como temos outras opções terapêuticas, optou-se por não prescrever ibuprofeno em casos de febre e suspeita de coronavírus”.

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O Ministério da Saúde brasileiro também recomendou, através de nota técnica liberada na quarta-feira (18), que desaconselha o uso do medicamento por precaução. “É fundamental que a substituição dos medicamentos seja feita com recomendação de um profissional de saúde”, pontuou em postagem em suas redes sociais.

E os corticoides?

Junto com o alerta sobre o ibuprofeno, Thatiane pontua sobre preferir não usar outros anti-inflamatórios em casos suspeitos. E faz a ressalva de outra categoria de medicamentos que precisam de atenção, especialmente por serem usados com mais frequência em crianças do que anti-inflamatórios.

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“Há também os corticoides, como predsim e prelone, que usamos muito em controle de asma. Os médicos terão que ter muito cuidado e os pais não devem dar nenhuma medicação sem prescrição médica, principalmente nessas épocas”, afirma a pediatra.

Já sobre a preferência pelo paracetamol em vez do ibuprofeno também há uma explicação médica para isso. “Ele é o mais analgésico de todos e quase não tem efeito anti-inflamatório. Isso significa que ele não se utiliza do receptor ECA2 e, consequentemente, não tem chance de causar uma piora no coronavírus. A dipirona também pode ser usada, só que ela tem um pouquinho mais de efeito nos receptores, ainda que muito menos do que o ibuprofeno. Por isso, estamos optando pelo uso de paracetamol”, explica a médica.

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Ainda assim, vale ter em mente que, caso o seu filho faça o uso continuo de alguma dessas medicações, não suspenda o uso dela sem antes consultar o pediatra dele.

(Juliana Pereira/Bebê.com.br)
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