É verdade que máscaras prejudicam o desenvolvimento das crianças?
A dúvida começou a ser debatida após a fala do presidente Jair Bolsonaro sobre um estudo alemão que indicava prejuízos do uso do dispositivo em crianças.
Com a flexibilização da quarentena em território brasileiro e o retorno das aulas presenciais em diferentes estados, tornou-se ainda mais primordial a discussão sobre o uso de máscaras para a prevenção contra a covid-19. Entretanto, o tema é complexo quando o público-alvo envolvido é crianças entre zero e seis anos.
Desta vez, os questionamentos sobre o dispositivo de proteção surgiram após uma live do atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em que ele afirma que um estudo alemão indica o prejuízo da saúde infantil em detrimento do uso da máscara.
“[Eles] levam em conta vários itens como irritabilidade, dor de cabeça, dificuldade de concentração, diminuição da percepção da felicidade, recusa de ir para escola ou creche, desanimo, comprometimento da capacidade de aprendizado, vertigem, fadiga… Assim, começam a aparecer os efeitos colaterais das máscaras”, enfatiza o representante Federal.
Entretanto, o que pontua Marcus Martuchelli, pediatra e infectologista da Clínica Mantelli, é que tais malefícios apontados pelo presidente ainda não estão claros dentro da literatura médica. Mas, a partir do que já se tem publicado, mostram-se mínimos.
Com base nisso, o médico reforça: “As únicas maneiras que temos de combate ao vírus são a vacina (ainda iniciando os testes em crianças menores de 18 anos), o uso de máscaras, a lavagem de mãos e evitar ao máximo aglomerações”.
Ainda dentro dos incômodos citados por Jair Bolsonaro, Marcus pontua que, assim como adultos, é esperado que adolescentes e crianças não se sintam confortáveis com máscaras – e uma pequena parcela demonstre sintomas como irratibilidade ao usá-las. Só que o especialista lembra que pais precisam continuar focados em ensinar a relevância dos dispositivos de proteção para os filhos e como utilizá-los.
“As formas lúdicas sempre são opções, principalmente para os menores, utilizando máscaras com personagens estampados, fazendo uma analogia a super-heróis. Isso tem se tornado uma estratégia bastante eficaz!”, pontua o pediatra.
As recomendações permanecem iguais
Mesmo com o pronunciamento do atual presidente, as entidades de saúde continuam se posicionando a favor do uso de máscaras pelo público infantil, apenas com ressalvas diferentes em relação às faixas etárias.
“A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) permanece com a orientação de que, para crianças entre dois e cinco anos, os pais ou responsáveis supervisionem o uso de máscara. E por isso, a criança deve aprender, em casa, como utilizá-la – sabendo como retirá-la e colocá-la adequadamente”, detalha o médico.
Já para os menores de dois anos, Marcus pontua que o dispositivo não é recomendado pela instituição, pois eles têm vias aéreas pequenas e uma coordenação motora ainda fragilizada, o que proporciona risco de sufocamento.
Além das indicações da SBP, o especialista reforça: “Sabe-se hoje que as principais formas de transmissão do Sars-CoV-2 são pelas gotículas que saltam da boca ou nariz da pessoa contaminada e podem cair nas mucosas alheias, ou por meio de partículas menores, chamados aerossóis, capazes de ficarem suspensas no ar. Por isso, o uso da máscara é recomendado como forma de evitar a disseminação do vírus, indicado pelo Ministério da Saúde, além de outras instituições, como a Organização Mundial da Saúde”.
Para a OMS, o uso obrigatório das máscaras só deve ocorrer a partir dos 12 anos. Para os que têm entre seis e 11, sua utilização deve acontecer levando em consideração fatores que podem potencializar o contágio infantil – como contato com pessoas do grupo de risco da doença e locais de alto grau de transmissão.