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Crianças devem usar máscaras para se proteger do novo coronavírus?

Ministério da Saúde recomenda máscaras para todas as faixas etárias, mas elas podem trazer falsa sensação de segurança e levar ao descuido com a higiene.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 24 jun 2020, 17h30 - Publicado em 9 abr 2020, 14h23

Desde abril, o Ministério da Saúde recomenda que a população use máscaras caseiras para conter a pandemia de Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. E isso vale para as crianças também. Antes, a orientação era que somente profissionais de saúde, pessoas doentes e seus cuidadores usassem máscaras faciais descartáveis. 

O uso de máscaras em larga escala é controverso. A Organização Mundial de Saúde, em documento publicado no último dia 6, alerta para a falta de máscaras para os profissionais, e ressalta que não há evidências de que o item, industrializado ou caseiro, seja capaz de prevenir novas infecções respiratórias em pessoas saudáveis, entre elas a Covid-19. 

Para a entidade e para os especialistas, elas são mais úteis para evitar a disseminação do vírus. “A ideia é criar uma barreira física para conter as gotículas expelidas pelas pessoas, que podem estar secretando o vírus sem de fato estarem doentes”, comenta Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria. 

“As crianças, apesar de não estarem no grupo de risco para casos graves da doença, podem transmitir o vírus sem sintomas, por isso a recomendação para que usem também caso precisem sair de casa”, destaca Eitan Berezin, infectologista pediátrico, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). 

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Seguindo as diretrizes atuais do Ministério da Saúde, vamos às dicas para o uso correto máscara caseira. Só vale dizer que, sem os cuidados adequados, ela pode acabar piorando o risco de transmissão de doenças. 

Quando e como crianças devem usar máscaras? 

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Primeiro, vale ressaltar que o ideal é que os filhos fiquem em casa. Dentro do domicílio, não é necessário usar máscaras. “Na prática, só estamos recomendando para crianças acima dos dois anos, que realmente precisem sair”, explica Caroline Peev, pediatra do Sabará Hospital Infantil. Antes dessa idade, o risco de sufocamento é maior. É a mesma indicação que a Anvisa fez no comunicado “Orientações Gerais – Máscaras faciais de uso não profissional”, emitido no começo de maio.

Idas ao médico, ao supermercado e outros locais com circulação de pessoas valem o uso do acessório, com a ressalva de que ele deve ser usado com bastante cuidado. O ideal é que elas sejam de algodão, tecido que irrita menos a pele, tenham duas camadas de pano e sejam presas por elásticos atrás da orelha. Diversos tutoriais online ensinam a produção mesmo sem máquina de costura. 

A higiene é um ponto fundamental do uso de máscaras. É preciso lavar as mãos com água e sabão por 20 segundos ou passar álcool em gel antes e depois de tocar na máscara, e sempre retirar pelos elásticos. Se precisar encostar no tecido, coloque o dedo na parte interna da máscara, onde o risco de contaminação é menor, e nunca na frente da máscara. 

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Elas devem ser trocadas a cada duas horas ou quando estiverem umedecidas. Para quem vai ficar mais tempo do que isso na rua, o certo é levar máscaras extras, embaladas individualmente em saquinhos de plástico. Tire a máscara usada, dobre no meio com a parte de fora para dentro, e guarde na sacolinha. A higienização pode ser feita com água e sabão na máquina de lavar, ou deixando de molho em água sanitária por 30 minutos. 

Para que sejam eficientes, é preciso que elas cubram totalmente nariz e boca, sem deixar espaços nas laterais. “Uma boa posição é o final da asa do nariz, abaixo dos olhos”, ensina Caroline. Outro aspecto importante é o conforto. “Especialmente para a criança, pois se ela estiver desconfortável ficará cutucando a máscara, tocando no rosto, o que é ruim”, aponta a pediatra. 

Pontos negativos 

A polêmica em torno das máscaras caseiras ocorre porque, se o protocolo de cuidado com elas não for seguido à risca, elas podem aumentar o risco de contaminação. “E, como elas causam essa falsa sensação de segurança, a pessoa pode descuidar de outras medidas mais importantes, como lavar as mãos, evitar aglomerações e evitar tocar no rosto”, destaca Kfouri. 

“Na criança em especial, ela vai querer arrancar, vai se incomodar, a mãe precisará ficar colocando a mão para arrumar, pessoalmente acho que o benefício não compensa o risco extra”, comenta Kfouri. 

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O uso prolongado ainda eleva a umidade na região, o que facilita a multiplicação de vírus e bactérias.Até por isso, não é recomendado colocar filtros de papel entre as camadas, como tem circulado na internet. “Conforme você respira, ela vai umedecendo e o papel ficará molhado”, explica Caroline. 

Por último, vale destacar que as máscaras descartáveis devem continuar sendo utilizadas somente por profissionais de saúde, indivíduos com sintomas respiratórios e quem cuida deles. Já estamos vivemos um cenário de falta de equipamentos de proteção individual para quem mais precisa deles. 

(Juliana Pereira/Bebê.com.br)
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