Crianças de até 3 anos têm mais chance de transmitir covid-19 em casa
Ao contrário das conclusões anteriores, o estudo canadense apontou que os pequenos disseminam mais a doença do que adolescentes de 14 a 17 anos.
Desde o início da pandemia, estudos buscam investigar o papel das crianças na transmissão da doença. Em julho de 2020, por exemplo, um artigo publicado no Pediatrics, periódico científico da Associação Americana de Pediatria, afirmou que os pequenos raramente são os vetores do novo vírus, o que endossaria a reabertura das escolas – desde que seguindo os protocolos sanitários.
Evidências parecidas surgiram em pesquisas conduzidas em outros países e, mais recentemente, no próprio território brasileiro quando, em junho, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade da Califórnia (UCLA) e da London School of Hygiene and Tropical Medicine (LSHTM) concluíram que adultos são mais propícios a passarem a doença para os menores do que o contrário.
Mas como hipóteses científicas estão em constante atualização e diante das descobertas sobre a ação do vírus, um novo estudo divulgado na segunda-feira (16), na revista científica Jama apontou que crianças de até três anos têm mais chance de disseminar o Sars-CoV-2 dentro de casa do que os adolescentes de 14 a 17 anos.
A pesquisa canadense conduzida na cidade de Ontario avaliou quase 90 mil domicílios no período de junho a dezembro de 2020. Dentre eles, 6.280 tiveram como foco primário da covid-19 alguma criança de 0 a 17 anos e, em 27% deste total, um membro da família foi contaminado de maneira secundária pela criança que tinha o vírus.
Neste levantamento, foram considerados casos secundários aqueles cujos sintomas da pessoa surgiram em um intervalo de 1 a 14 dias, após o aparecimento dos sinais no primeiro paciente ou após ele ter o diagnóstico confirmado por um teste.
Como foi feita a investigação
Para que os pesquisadores tivessem mais precisão em relação às idades das crianças, a população foi dividida em quatro grupos: de 0 a 3 anos; 4 a 8; 9 a 13; e 14 a 17.
A comparação também considerou outras características nos casos da doença – como de onde partiu a transmissão – e analisou se fatores como a presença de sintomas, a reabertura das escolas, e a existência de surtos da doença em alguma das instituições poderiam ter relação com as chances da criança infectar alguém da família dentro de casa.
Conforme mostram os dados coletados, os bebês até três anos foram 12% do total de casos primários, enquanto que o grupo de 4 a 8 anos representava 20%, e este número subia para 30% dos casos nos jovens de 9 a 13 anos e 38% nos adolescentes de 14 a 17 anos.
Em contraponto, o cenário de transmissão se mostrou praticamente inverso, com a chance de crianças de 0 a 3 anos transmitirem a covid-19 para familiares sendo 1,5 vezes maior do que a de adolescentes de 14 a 17 anos.
Impactos na condução da pandemia
Apesar de suas limitações – já que existe a possibilidade de erros na classificação ao discernir se o caso secundário foi realmente adquirido fora do domicílio ou se a pessoa que trouxe a doença para dentro de casa não foi testada – o estudo traz contribuições importantes para as instituições e núcleos familiares.
Isso porque considerar que diferentes faixas etárias dentro da população pediátrica exercem papeis distintos na disseminação do vírus permite que sejam elaboradas medidas de prevenção específicas com as famílias e com as escolas ou creches para minimizar o risco de transmissão secundária.
“Embora as crianças não aparentem transmitir a infecção com tanta frequência quanto os adultos, os cuidadores devem estar atentos ao risco da transmissão enquanto tomam conta de crianças doentes no contexto familiar”, diz a publicação.
Os pesquisadores também admitiram a dificuldade de evitar a contaminação dentro de casa quando um pequeno está com a doença, mas discutiram algumas alternativas. “Mesmo sendo desafiador e por vezes impossível isolar-se socialmente das crianças doentes, os responsáveis devem colocar em prática outras medidas de controle quando possível, como o uso de máscaras, aumento da frequência em que lavam as mãos, além de separar os irmãos”, afirma o artigo.