Creches não contribuem para a disseminação da Covid-19, sugere estudo

A pesquisa da Universidade de Yale mostrou que não houve risco aumentado de transmissão da doença em cuidadores que tiveram contato com as crianças.

Por Flávia Antunes
Atualizado em 19 out 2020, 17h48 - Publicado em 19 out 2020, 17h44
 (olesya lozovaya/Getty Images)
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O debate em torno da reabertura das escolas continua repercutindo em todo o mundo. Países em que o número de casos do novo coronavírus diminuiu optaram pela reabertura com uma série de cuidados (veja o que deu certo na volta as aulas em alguns destes lugares) e no Brasil a volta às aulas presencial acontece de forma gradual dependendo do estado. Confira os prós e contras de manter os filhos apenas com aula online por enquanto.

Para adicionar um novo elemento à conversa, o jornal norte-americano Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria, publicou um estudo inédito (que ainda não está em sua versão final) no início de outubro conduzido pela Universidade de Yale. E o cenário observado foi mais específico desta vez: o das creches.

Comparando cuidadores que foram trabalhar e entraram em contato com as crianças diariamente com os que permaneceram em casa durante a pandemia, o artigo concluiu que não houve um risco aumentado da propagação da doença dos pequenos para os adultos quando medidas de saúde e segurança apropriadas eram colocadas em prática no local.

“Nós descobrimos que não há absolutamente nenhuma relação entre ir trabalhar em uma creche e a situação de Covid-19”, afirmou Walter Gilliam, autor do estudo e diretor do Centro em Desenvolvimento Infantil Edward Zigles. “E este é um achado importante principalmente porque se tem um grupo de pessoas na creche com maior probabilidade de evidenciar os efeitos da Covid-19, é o dos adultos”, acrescentou.

Para chegar à conclusão, os estudiosos acompanharam mais de 57 mil cuidadores nos Estados Unidos, verificando os casos reportados do novo coronavírus e as hospitalizações, além do grau de exposição que tiveram aos locais de trabalho. Os entrevistados disseram que as creches que permaneceram abertas nos primeiros meses da pandemia estavam operando com grupos menores e com consideráveis esforços para diminuir o risco de infecção no lugar.

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Os cuidados incluíam a higienização frequente das mãos, a desinfecção diária das superfícies e equipamentos nos ambientes internos, bem como a avaliação de sintomas e o distanciamento social (veja 6 jeitos criativos de promover o distanciamento em crianças). Além disso, a maioria das crianças que compareciam às creches (81,1%) tinham menos de seis anos de idade.

Embora o estudo tenha trazido avanços, especialmente por ser o primeiro a avaliar o papel das creches na transmissão do novo coronavírus, os autores alertam que os achados devem ser interpretados considerando um contexto específico – que envolve tanto os índices de transmissão comunitária do lugar quanto as medidas de segurança que estão sendo tomadas pela creche.

“Este estudo mostra que, para abrir de forma segura, os cuidadores terão que colocar em prática estratégias de prevenção e mitigação que custam caro”, recomenda Lynette Fraga, CEO do Consciência do Cuidado Infantil da America, em entrevista à Parents. “E, às vezes, pode não ser seguro a creche reabrir se os índices de transmissão da comunidade estiverem altos”, complementou ela.

Gilliam ainda pontua que os dados encontrados no contexto da creche não servem necessariamente como argumento para a reabertura de escolas, tendo em vista a dimensão diferente em que cada uma atua. “Adultos que trabalham com bebês, crianças pequenas e pré-escolares geralmente têm um grupo pequeno de crianças que ficam juntas o dia inteiro”, disse o autor. “Escolas de ensino fundamental II e ensino médio podem ter centenas de pessoas em um prédio – e, com frequência, deslocando-se de uma sala para outra. Esses fatores sozinhos fazem as escolas muito diferentes das creches”, constatou.

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