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Cranioestenose: entenda como essa condição pode afetar os bebês

O diagnóstico, o tratamento, o pós-operatório e as possíveis consequências: tudo o que você precisa saber sobre o assunto.

Por Luísa Massa
Atualizado em 30 out 2017, 22h24 - Publicado em 30 out 2017, 22h16

Você já deve ter se perguntado como a cabecinha do bebê consegue passar pelo canal vaginal na hora do parto. Na verdade, isso só é possível porque o crânio do recém-nascido não é inteiriço – ele é divido em “pedaços menores” que, conforme a criança cresce, acabam se unindo. Os espaços entre esses “blocos de ossos” da cabeça são chamados de suturas. E essa divisão é importante para permitir que, aos poucos, o cérebro dos bebês também cresça de acordo com o desenvolvimento deles.

O problema é quando essa união entre os blocos acontece antes do esperado. É aí que se dá a cranioestenose, condição caracterizada pelo fechamento prematuro das tais suturas do crânio. As fontalenas (ou fontículo), conhecidas popularmente como moleiras, são a junção dessas suturas. Apesar de acontecer quando o bebê ainda está dentro do útero, raramente a enfermidade é identificada no exame de ultrassom. Na maioria dos casos, o diagnóstico é feito apenas depois do nascimento.

“A fontanela anterior, que fica no topo da cabeça, fecha a partir dos 9 até os 18 meses. Já a fontanela posterior tem que fechar até os 3 meses de vida. Como a cabeça cresce até os 2 anos, os ossos nascem separados para que o cérebro não seja comprimido”, comenta Deborah Ascar Requena Perez, pediatra do Hospital Assunção, da Rede D’Or São Luiz, de São Paulo.

No Brasil, a estimativa é de que a cada 10 mil bebês, apenas um apresente o problema. Mas esse número pode variar: na França, por exemplo, a cada 5 mil crianças, uma nasce com a doença. Embora não existam medidas de prevenção e nem motivos específicos para o seu surgimento, alguns fatores podem estar relacionados.

“Existem três possíveis causas: pais (homens) mais velhos, o uso de ácido retinóico ou anticonvulsivantes durante a gestação e algumas doenças metabólicas específicas”, explica Sérgio Cavalheiro, chefe do Serviço de Neurocirurgia do Grupo Santa Joana, da capital paulista.

Há tipos diferentes da cranioestenose, que dependem de qual sutura foi afetada. Segundo o médico, a mais frequente é a escafocefalia, que ocorre quando há o fechamento prematuro da sutura sagital, no topo da cabeça da criança. Ainda existem outras (conforme informações da ilustração abaixo):

moleira
Fonte: Netter Atlas de Anatomia Humana, de Frank H. Netter, 2011 (Ile Machado/MdeMulher)

Consequências

É comum os pais ficarem em dúvida se a condição pode afetar o desenvolvimento neurológico do filho, mas na maioria das vezes isso não acontece. “Varia de acordo com o tipo de sutura, mas quando só uma é fechada, raramente temos pressão intracraniana. Quando temos mais de uma, pode ter o aumento da pressão, alterações cognitivas no futuro e até cegueira em casos mais graves”, esclarece Cavalheiro.

Diagnóstico

Como dito anteriormente, em alguns casos a cranioestenose é percebida pelos médicos assim que o bebê nasce. Em outros, quem faz a identificação é o pediatra durante as consultas de rotina, ao medir a cabeça do paciente para ver se ela está crescendo como deveria. “Se vemos que o tamanho não está aumentando, que a fontanela está muito pequena ou que ela se fecha precocemente, começamos a considerar algumas patologias que levam a essas alterações. A principal delas é a cranioestenose”, ressalta Deborah.

Geralmente, os pediatras encaminham as crianças para neurocirurgiões, que solicitam exames como tomografia e raio-X para confirmar a suspeita. “O tamanho da moleira não nos diz muita coisa porque, na verdade, o problema não é o fechamento dela e, sim, da sutura – que é uma articulação com pouca mobilidade, como se fosse uma rachadura que une um osso ao outro. Antigamente, achava-se que a posição da criança dentro do útero poderia determinar a cranioestenose, mas sabemos que não há relação”, esclarece o médico do Santa Joana.

Tratamento

Depois que o diagnóstico é fechado, os pequenos precisam passar por uma cirurgia para corrigir o problema. Atualmente, existem dois tipos: na mais comum, as suturas são descoladas e os ossos cerrados para permitir o crescimento da cabeça. “Há casos em que é preciso fazer uma craniopopia frontal e remodelar. Temos técnicas em que são colocadas molas (que depois são retiradas) ou placas absorvíveis pelo organismo”, acrescenta Sérgio Cavalheiro.

Os profissionais preferem realizar o procedimento depois do terceiro mês de vida porque entre os três e os seis meses o cérebro dobra de peso e volume. Com isso, o resultado tende a ser mais satisfatório nesse período. “Essa é uma operação grande porque o bebê é pequeno e pode sangrar bastante. Em muitas ocasiões, é necessário fazer transfusão sanguínea e a criança pode acabar tendo anemia”, afirma o médico.

A pediatra do Hospital Assunção reforça que, apesar de se tratar de uma intervenção complicada, a taxa de sucesso é alta – principalmente se o problema for a cranioestenose exclusiva e se o pequeno não tiver nenhuma outra má formação.

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Já o outro procedimento realizado é menos invasivo. “Fazemos uma pequena incisão da pele e, com o auxílio da visualização do endoscópio, retiramos a sutura fechada. Nesta técnica não remodelamos o crânio, por isso, o paciente precisará utilizar um capacete especial por um ano. A cirurgia é extra-cerebral, ou seja, só trabalhamos no osso”, esclarece o neurocirurgião.

O ponto negativo é que o capacete pode acabar incomodando os pequenos, até mesmo por causa da transpiração excessiva. Segundo o especialista, como o Brasil é um país tropical, na maioria das vezes os pais optam pela primeira operação. Mas tudo deve ser avaliado com calma junto da equipe médica.

Pós-operatório

A recuperação é relativamente tranquila. Se tudo correr bem, o bebê passa o primeiro dia na UTI, no segundo já vai para o quarto e depois recebe alta para retornar para casa. “Como ele não anda, não corre o risco de cair e bater a cabeça. Só pedimos que os pais tenham cuidado com os irmãos, porque às vezes eles não entendem o que está se passando”, orienta o neurocirurgião.

Ele acrescenta, ainda, que os médicos conseguem até perceber uma mudança de comportamento. As crianças que têm cranioestenose não choram muito para não ter a pressão aumentada dentro do cérebro e sentir o incômodo dessas alterações. Depois que realizam o procedimento, elas costumam ficar mais exigentes e até choronas.

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