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Como preparar uma criança para uma cirurgia

Nessas horas, os pais precisam se manter tranquilos, explicar o que está acontecendo e oferecer apoio. Assim, ajudam o pequeno a enfrentar a situação com confiança.

Por Mônica Brandão (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 06h19 - Publicado em 10 jun 2015, 09h58

 

1. Como os pais podem se preparar
Pergunte. Pergunte tudo. E pergunte mais um pouco. A melhor forma de diminuir a ansiedade que tomará conta da nossa vida a partir do momento em que sabemos que um filho vai ser operado é tirar todas as dúvidas. O sentimento de impotência será grande, mas deixe-o de lado e prefira ser prática. Leia tudo sobre o problema, pesquise na internet e, principalmente, converse com outros pais que já passaram por isso. Na medida do possível, levando em conta a situação financeira e a localização de sua residência, escolha médicos e instituições em que confie. “Procure conhecer a equipe que cuidará da criança e o hospital e observar outros pacientes. Quem quiser pode até mesmo pedir auxílio para as enfermeiras e psicólogas do local sobre como lidar com a situação”, aconselha Soraya Azzi, psicóloga do Centro de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital e Maternidade Israelita Albert Einstein. Descubra problemas que podem surgir no pós-operatório, sequelas, complicações. Enfim, prepare-se! O aconselhável é tirar alguns dias de folga (converse com o médico para saber como será o pós-operatório) e vale até pedir a ajuda de parentes que possam ficar em casa, especialmente se tiver outros filhos que precisem de atenção.
 
2. O que fazer quando o filho ainda é um bebê
Ele vai precisar do amor, do apoio e da segurança de ter os pais por perto para oferecer os cuidados básicos com alimentação e higiene. Ou seja, tudo que vocês sempre dão. Um bebê provavelmente não irá se lembrar de que passou por uma cirurgia, mas a sensação de ser protegido e cuidado ficará em sua memória. “Os pais devem ficar com a criança em todos os momentos possíveis, fazendo carinho, contando histórias, cantando as músicas preferidas”, diz a psicóloga Soraya Azzi. Procure explicar o que está acontecendo ao falar com ele, mesmo que ache que não compreenda. Isso vai fazer bem para você também. Por mais que a situação seja angustiante, tente passar tranquilidade. Caso o bebê já tenha algum objeto de transição, como um bichinho de pelúcia e um paninho especial, leve para o hospital. Mamadeiras, chupetas e outros acessórios conhecidos também ajudarão a dar mais conforto. Quem está amamentando deve se lembrar de descansar para manter a produção de leite. Converse com o médico para saber se é necessário deixar o leite materno estocado.
 
3. O que fazer quando a criança já entende o que acontece
A partir de 1 ano e meio ou até antes, dependendo do desenvolvimento, a criança entende um pouco mais o que se passa. Mesmo porque ela sente os sintomas da sua doença (dor, febre, cansaço etc.) e sabe que algo não está certo. Por isso, nada de dizer que está tudo bem. Muitos pais, com o intuito de proteger, preferem não dizer nada. É pior. Até para ajudar no desenvolvimento futuro de seu filho, fale sobre a cirurgia, por que ela é necessária e o que os médicos irão fazer. Converse sobre os exames preliminares, a anestesia, o pós-operatório. Faça isso usando a linguagem adequada para a idade dele de forma a não assustá-lo. “Você pode, por exemplo, usar brinquedos que tenham a medicina como tema. Podem ‘operar’ juntos a boneca preferida ou o personagem do qual a criança mais gosta. Ou montar um hospital veterinário e fazer curativos em todos os bichinhos de pelúcia. O importante é ser lúdico”, ensina a psicóloga Soraya Azzi.

Alguns médicos incentivam que o pequeno paciente participe das consultas que antecedem a cirurgia, nas quais eles explicam os procedimentos. “Deixo que a criança tire todas as dúvidas, até as mais absurdas, enquanto explico tudo. Essa é a forma com que lida com o assunto”, diz Maurício Macedo, cirurgião pediátrico do Hospital e Maternidade Israelita Albert Einstein.

Quando há a possibilidade de ser preparada antes e até conhecer os médicos ou o hospital com antecedência, melhor ainda. Mas, mesmo quando o procedimento é de emergência, explique o que está ocorrendo e quem são as pessoas da equipe. E nada de mentiras. “Não diga que não vai doer se já sabe que o procedimento causará desconforto”, diz Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo Pompeia. É melhor você contar que também já teve de aguentar dores algumas vezes, mas que passa e o dodói vai embora. A criança entende muito mais do que imaginamos. Ela deve entender que os pais estão ao seu lado para ajudá-la e protegê-la, que não vão tentar enganá-la, traindo sua confiança.

Por último, cuidado com as suas próprias angústias – justificadas nesse momento, mas prejudiciais ao preparo do filho. Criança é capaz de captar mensagens escondidas – um gesto, um tom de voz diferente, expressões de tristeza. A referência mais importante são os pais e ela deve se sentir integrada à família, fazendo parte de uma equipe. Fale dos seus sentimentos com calma. Não precisa escondê-los, mas lide com eles da forma mais amena que conseguir.
 
4. O que acontece antes da cirurgia
Geralmente, a preparação para uma cirurgia começa com o jejum necessário em razão da anestesia. Dependendo da idade, o período varia. Um recém-nascido, por exemplo, precisará de apenas três a quatro horas de jejum, enquanto uma criança maior pode necessitar de seis horas. Ela sentirá fome, claro, e poderá ficar bem irritada! “Tente distraí-la com jogos, brinquedos, música, colo, carinho, mas é possível que essa estratégia não seja 100% eficaz. Há crianças mais tolerantes a esse tipo de situação e outras bem menos. Prepare-se para esse momento”, explica a psicóloga Rita Calegari. Nessas horas, é comum acontecerem choros sem fim, e sua presença, mesmo que pareça não resolver, é extremamente importante. Vale a pena ter mais alguém da família por perto para revezar nos cuidados caso você fique muito tensa.

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As cirurgias, na maiorida das vezes, são marcadas para o começo da manhã, e a recomendação é que os pais levem o filho ainda de pijama, enrolado no cobertor, quase sem acordá-lo. Assim, ele chega relaxado ao hospital. Crianças a partir de 2 anos costumam tomar um pré-anestésico via oral, como se fosse um xarope, que as deixa conscientes, mas sem muitas lembranças. Geralmente os pais se separam dos filhos na porta do centro cirúrgico. Em alguns hospitais, eles podem levá-las no colo até onde é aplicada a anestesia. Dessa forma, a criança dorme com eles por perto e acorda na sala de recuperação, já com os pais ao lado. “A maioria das instituições tem se preocupado em humanizar esse momento, oferecendo, quando possível, condições melhores para que a família permaneça perto da criança”, diz a psicóloga Rita Calegari.
 
5. Como lidar com a sua ansiedade durante a cirurgia

É um momento difícil, mas algumas atitudes podem ajudar. “Como as operações geralmente são realizadas bem cedo, recomendo que os pais aproveitem o tempo para ir até a lanchonete do hospital e tomar um reforçado café da manhã. Eles precisam estar descansados e fortes para o pós-operatório”, diz o cirurgião Maurício Macedo. Dependendo de quanto dure a cirurgia, alguém da equipe se responsabilizará por ligar nos celulares ou ir até a sala de espera de tempos em tempos para contar sobre o andamento dela.

Navegar na internet, ver TV, ler um livro leve são boas opções para passar o tempo. Evite ficar sem fazer absolutamente nada. Conversar pode não ser uma boa opção, pois, com todo mundo tenso, qualquer assunto brando pode virar uma polêmica. Procure fazer algo que normalmente ajuda você a relaxar, a se sentir melhor.
 
6. Como lidar com os parentes
Levar ou não a família à sala de espera depende muito dos pais. Alguns não conseguem suportar essa experiência sem o apoio dos parentes, outros preferem ficar mais isolados. “O que não se recomenda é um número exagerado de pessoas, pois, além de não ser um ambiente propício a isso, a situação pode ficar estressante. Mesmo familiares muito próximos podem ter suas diferenças e, num momento do nervosismo, um comentário mal colocado pode resultar numa discussão desnecessária”, explica a psicóloga Rita Calegari. Uma boa alternativa é fazer um revezamento, de modo que cada um apareça no hospital no momento mais oportuno: alguns no pré-operatório e outros no pós. Ou os pais podem decidir ficar sozinhos (ou apenas com os avós) e ir mandando notícias para os demais via celular, e-mails etc.
 
7. O que fazer no pós-operatório
A forma como você lidou com a criança antes da cirurgia deve ser mantida nos dias seguintes: explique sobre os curativos e exames que estão sendo feitos, diga como ela está melhorando e não esconda caso ocorra algum problema. Ajude a formar um vínculo com a equipe que cuidará dela no hospital para que os procedimentos ocorram de forma mais tranquila. “Brincadeiras de médico com as bonecas e os bichinhos ainda são a melhor forma de ajudar a criança. Algumas equipes disponibilizam até um ‘kit médico’, com algodão, gaze ou lenços higiênicos. Assim, ela pode brincar de fazer curativos no pai, na mãe, na avó”, aconselha a psicóloga Soraya Azzi. Tenha por perto os livros e DVD preferidos de seu filho. Isso vale também quando voltarem para casa. A sugestão é não receber visitas nas primeiras 48 horas. “A criança precisa repousar para estabilizar seu organismo, e isso significa ver filmes, ler e brincar com joguinhos de mesa. Se um tio ou um priminho vêm visitar, ela vai querer largar isso e pegar a bola, correr”, explica o cirurgião Maurício Macedo.
 
8. Livros infantis que podem ajudar
Historinhas nas quais um bichinho ou uma personagem passam por cirurgias e curativos são ótimas para ajudar a criança a lidar com os seus medos e o desconhecido. Conheça algumas sugestões:

  • O Menino Paciente, de Leticia Wierzchowski e Marcelo Pires (ed. Record)
  • Dr Cão, de Babette Cole (ed. Ática)
  • A Operação de Lili, de Rubens Alves (ed. Paulus)
  • O Dodói da Gigi, livro/CD de Francisco Alves (ed. Signus)

Fontes: 

Mauricio Macedo, cirurgião pediátrico do Hospital e Maternidade Israelita Albert Einstein; Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo Pompeia; e Soraya Azzi, psicóloga do Centro de Terapia Intensivo Pediátrico do Hospital e Maternidade Israelita Albert Einstein

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