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Remédio para depressão pós-parto mostra resultados promissores

A substância atua mais rápido que os antidepressivos tradicionais e está em fase de testes, mas já é uma esperança para as mães que sofrem com o problema.

Por Chloé Pinheiro
23 fev 2018, 20h05

Para algumas mães, o nascimento de um filho vem acompanhado de sentimentos negativos e perda de prazer na vida. Há um ponto em que a melancolia é normal, o baby blues, que começa no nascimento e vai embora em algumas semanas. O problema é quando a tristeza impacta no cotidiano e se transforma em doença: a conhecida depressão pós-parto.

Estima-se que até 26% das brasileiras possam ser atingidas pelo transtorno, cujo tratamento envolve terapia cognitivo-comportamental, mudanças de hábitos e, não raro, remédios. Só que os antidepressivos atualmente utilizados, embora eficazes e seguros, demoram cerca de duas semanas para fazer efeito. Agora, uma nova fórmula, com resultados bem mais rápidos, está sendo testada em mulheres que sofrem com a enfermidade.

Trata-se da brexanolona, que atua em uma região diferente do cérebro do que os remédios tradicionais, os receptores GABA. A gente explica! Uma das possíveis razões para a depressão pós-parto é a rápida queda no nível de uma série de hormônios, entre eles a alopregnanolona, que atua também nesses tais receptores GABA, que por sua vez estimulam o sistema nervoso. Quando todas essas substâncias saem de cena, o desequilíbrio pode desencadear o baby blues e, em algumas pessoas, a depressão.

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“O novo composto simula ação da alopregnanolona e, assim, atua em uma das hipóteses para o surgimento da depressão que ainda é pouco explorada pelos medicamentos”, explica Luiz Scocca, psiquiatra, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Vale ressaltar que isso não quer dizer que os hormônios sejam os únicos responsáveis aqui. O estresse pela chegada do bebê, estilo de vida, falta de apoio e estabilidade e até a predisposição genética estão envolvidos no transtorno.

Promissora

No último estudo sobre a droga, publicado recentemente, ela conseguiu amenizar os sintomas das quatro voluntárias participantes em apenas 24 horas. Em entrevista à imprensa, a autora principal do trabalho relatou que pacientes que estavam sem comer ou prostradas saíram do quarto, jantaram e conversaram depois de tomar o novo fármaco. O efeito se manteve por até 30 dias depois delas receberem a substância, que foi aplicada por infusão intravenosa.

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O estudo era aberto, ou seja, pacientes e médicos sabiam o remédio que era administrado. Antes, um ensaio duplo-cego, quando dois grupos se dividem entre placebo e medicamento sem saber qual é qual, já havia sido publicado com resultados igualmente positivos. A última fase do estudo para que a droga possa ser aprovada está em andamento e a previsão é que os resultados sejam publicados ainda no primeiro semestre de 2018.

“Trata-se de um estudo pequeno, mas muito bem estruturado, que poderá auxiliar não só no tratamento da depressão pós-parto, mas de outros tipos de depressão”, comenta Scoccca.

 

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