Receber a confirmação de que um bebê está a caminho é sempre especial! Mas logo após compartilhar a notícia com as pessoas próximas, as futuras mamães começam a pensar no que precisam planejar para a chegada do filhote e o mais importante: como ele virá ao mundo. Nesse momento, é importante conversar com obstetra, fazer o acompanhamento do pré-natal e se informar sobre os riscos e benefícios de cada tipo de parto. Selecionamos as perguntas mais recorrentes sobre o nascimento via vaginal e conversamos com três ginecologistas. Confira abaixo os esclarecimentos:
1. O parto normal é a melhor opção para o bebê?
Verdade. Se tudo estiver bem com a mãe e com a criança, esse é o tipo de parto mais indicado. “A passagem do bebê pelo canal vaginal é muito importante e prepara o seu pulmão para o ambiente externo. Tem trabalhos que mostram que nessa passagem a criança entra em contato com bactérias e isso diminui a chance de algumas doenças aparecerem na vida adulta, como diabetes e asma. Também tem a questão de que, logo que nasce, o filho vai direto para o ventre materno e tem o contato pele a pele“, ressalta Wagner Rodrigues Hernandez, mestre em obstetrícia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Diferente de uma cesárea agendada, no parto normal quem decide o momento de chegar ao mundo é a própria criança. Mas é importante ressaltar que o acompanhamento médico durante a gestação tem um papel fundamental: “Desde que tenha condições de realizar um parto bem assistido e que a gravidez seja de baixo risco, sem contraindicações, esse tipo de parto trará mais benefícios. A possibilidade da amamentação acontecer na primeira hora de vida também é outro ponto favorável”, destaca o ginecologista Rodrigo da Rosa Filho, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (SOGESP) e sócio-fundador da clínica de reprodução humana Mater Prime, localizada na capital paulista.
2. Uma mãe que fez cesárea não pode ter parto normal na próxima gestação?
Mito. Se a mulher fez apenas uma cesariana, ela pode, sim, ter a experiência do parto normal. Flávia Fairbanks, ginecologista do Hospital das Clínicas da USP e da clínica FemCare, de São Paulo, informa que a recomendação do Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia é que essa restrição seja feita se mulher passou por duas ou mais cesáreas. Nesse caso, todo cuidado é pouco, pois há chance de rompimento uterino: “O corte feito no útero durante a cirurgia é realizado em uma região frágil. E nesse ponto pode acontecer uma ruptura, com grande risco de hemorragia maternal e até perda da mãe e do bebê”, explica a médica. Mas se a mulher passou só por uma cesariana e deseja ter o outro filho por parto normal, ela deve conversar com o obstetra que a acompanha. “A gente recomenda que o intervalo entre a cesárea e o parto normal seja de dois anos ou mais, para que a cicatriz fique mais forte”, sugere Rodrigo da Rosa.
3. O parto normal sempre vem acompanhado da episiotomia?
Mito. Esse é um dos pontos que preocupa grande parte das mães de primeira viagem. “A episiotomia nada mais é do que uma incisão na região do períneo, feita para aumentar a abertura no momento de expulsão do feto nas mães que não têm o perfil elástico o suficiente. Isso permite que a expulsão aconteça sem lesar outros órgãos, como a bexiga. Mas se a mulher tiver feito um bom trabalho no períneo – como fisioterapia – a possibilidade de não precisar dela é grande”, evidencia a obstetra Flávia. Já Hernandez esclarece que, até a década de 60, a maioria dos partos vinham acompanhados desse procedimento, mas foi na década de 70 que as mulheres começaram a questionar os seus reais benefícios. Diferentemente do que vemos por aí, a técnica não deve ser realizada rotineiramente, mas apenas em casos onde há realmente necessidade. “Ela deve ser feita quando o médico perceber que não há espaço para o bebê passar por conta da musculatura da pelve e, nesse caso, evitar rupturas locais. O correto é que a episiotomia seja realizada em uma condição que o bebê iria rasgar a musculatura de qualquer jeito, mas não por motivo estético”, reforça o ginecologista Rodrigo da Rosa.
4. O parto normal dói muito? Quando a anestesia pode ser realizada?
Depende. Pois o nível de sensibilidade varia muito de pessoa para pessoa e claro que o lado psicológico interfere nessa hora. “A dor também está relacionada com os receios que a gestante tem, sobre o que ela já ouviu falar do parto normal, os relatos que escutou. Então é muito variável, mas o que geralmente a gente considera é uma dor suportável, que a mulher acaba esquecendo depois que o bebê nasce”, comenta Rodrigo. Já sobre quando os remédios que aliviam o incômodo podem ser ministrados, essa é uma questão que divide opiniões – até mesmo entre anestesistas e ginecologistas. “A dor depende de algumas variáveis, como a questão da paciente querer ou não receber a anestesia. Se optar por fazer, ela vai sentir desconforto até chegar ao hospital e a questão de que deve haver uma dilatação mínima para realizá-la é mito. Eu não me importo com isso, mas é algo que varia de acordo com conduta médica”, afirma Hernandez. Também existem algumas alternativas naturais que podem aliviar o incômodo, como massagem, água quente e até mesmo a atenção de pessoas queridas.
5. Fazer exercícios durante a gestação ajuda no parto normal?
Verdade. As atividades físicas trazem inúmeros benefícios para as futuras mamães, mas é importante lembrar que elas devem seguir à risca as orientações médicas. “Manter uma estrutura adequada de ganho de peso durante a gravidez ajuda. Assim como ter uma boa flexibilidade, uma abertura óssea adequada, conseguir ficar na posição do parto sem ter muitas câimbras. Fazer fisioterapia do assoalho pélvico – que envolve massagem e relaxamento de algumas estruturas – com um profissional especializado também é válido”, a médica da clínica FemCare. Realmente, a prática regular de exercícios pode trazer muitas vantagens para as grávidas e, consequentemente, para os bebês. “O trabalho de parto exige paciência e a mulher tem que fazer força. A gente percebe que as que praticam atividades físicas têm mais condicionamento e fazem força mais facilmente”, completa Hernandez. Além disso, a consciência corporal é outra vantagem adquirida. Segundo o ginecologista Rodrigo da Rosa, deixar o sedentarismo de lado durante os nove meses pode evitar até mesmo a episiotomia, pois diminui o risco de lacerações.
6. O parto normal deixa o canal vaginal mais largo e, por isso, demora mais para as mães retomarem a vida sexual?
Mito. Diferente do que algumas pessoas difundem por aí, essa afirmação não procede. A musculatura da vagina é elástica e volta ao normal depois do nascimento do bebê. “O período da quarentena – recomendação para que a mulher fique 40 dias após o parto sem fazer sexo – está relacionado com qualquer tipo de parto devido ao risco de infecção. É claro que, dependendo do caso, pode romper as fibras musculares e aí, sim, poderia ter um problema maior na vida sexual. Mas isso é excessão, não regra. A maioria das mulheres retomam o sexo normalmente“, adverte Rodrigo da Rosa.
7. O leite materno desce mais rápido depois do parto normal?
Verdade. Na maioria dos casos isso acontece, mas não é uma regra. Na realidade, entrar em trabalho de parto é um dos fatores que mais interferem. “Existe a questão hormonal quando um trabalho de parto é desencadeado. O que facilita no parto normal é o contato pele a pele. Logo que o bebê nasce, ele pode mamar e isso estimula a lactação“, comenta Hernandez. E uma paciente que passa por um procedimento cirúrgico para dar à luz? Como fica a questão? “Pode ser mais demorado para uma mulher que fez a cesariana, mas não estava em trabalho de parto”, ressalta Flávia.
8. Depois do parto normal, a mãe tende a se recuperar mais rápido do que na cesárea?
Verdade. E até mesmo os quilos que foram adquiridos durante a gestação são perdidos mais facilmente. “O parto normal propicia que a mulher retome as atividades mais rápido e isso faz com que a musculatura dela trabalhe mais, enquanto a que faz cesárea pode demorar um pouco devido às limitações”, explica o obstetra Wagner Hernandez. Além disso, vale lembrar que no parto normal o útero também tende a contrair mais rápido e que as chances de sangramentos são menores. “A mulher se recupera mais rápido do que na cesárea porque a estrutura dos órgãos internos não foi alterada, não abriu a parede da barriga e, uma vez que o canal de parto fechou, é como se o organismo estivesse pronto para outra”, acrescenta Flávia Fairbanks.
9. Bebês com circular de cordão umbilical podem nascer pelo parto normal?
Verdade. É claro que cada caso é um, mas na maioria das vezes, essa não é uma contraindicação. Segundo Rodrigo da Rosa, em mais de 50% das gestações há uma circular de cordão frouxa. O problema é quando ele é muito apertado ou um verdadeiro nó. “Essa não é uma questão impeditiva, mas pode ser vista durante o trabalho de parto porque se a circular estiver causando algum problema para o bebê, os batimentos cardíacos dele vão mostrar isso e, então, a equipe vai analisar o que pode ser feito”, explica Flávia. Se for o caso, a mamãe será submetida à uma cesárea, mas conversar com o médico sobre esse ponto é fundamental.
10. Mulheres com quadris largos têm mais facilidade para ter o parto normal?
Mito. Na verdade, o tamanho do quadril não é o que interfere. De acordo com a especialista da clínica FemCare, tudo depende da estrutura interna da bacia, porque a mulher pode ter um quadril largo, mas com a bacia apertada. Normalmente, esse ponto é visto durante o pré-natal, nos exames físicos. “Na verdade, temos que avaliar a distância entre um osso e o outro. Existem tipos de bacias mais fechadas e abertas. Normalmente, as mais abertas têm mais facilidade e as estreitas podem não ter passagem, mas cada caso deve ser avaliado individualmente”, pondera Rodrigo da Rosa.
11. Bebês que estão na posição pélvica podem vir ao mundo pelo parto normal?
Depende. Essa é uma questão controvérsia, mas na maioria dos casos, os médicos optam pela cesariana. “Recentemente foi publicado um trabalho científico que analisou os riscos do bebê nascer de parto normal quando está sentado e mostraram que essa opção colocava as crianças em risco. Nesse caso, a cesárea é mais segura”, pontua Hernandez. A versão cefálica externa (VCE) é uma manobra que pode ser utilizada para virar o bebê dentro do útero, mas ela não é indicada em todas as situações e exige extrema atenção. “Eu recomendo a cesárea nessa circustância porque a maior parte do bebê é a cabeça. Então, no parto pélvico sai o bumbum, os bracinhos e às vezes a cabeça não consegue sair. Com isso, há um risco grande de óbito e fraturas. A posição pélvica não é uma contraindicação absoluta, mas existe um perigo maior”, reforça Rodrigo, membro da SOGESP.
12. A falta de dilatação é um impedimento para o parto normal?
Mito. Muitas pessoas costumam usar essa justificativa, mas é necessário entender o que realmente acontece. “Na verdade, a ‘falta de dilatação’ é porque nem sempre há paciência para esperar as contrações atuarem no colo do útero. E a dilatação pode, sim, dar uma estacionada durante o parto e, às vezes, a gente consegue retomar essa pressão com soro e medicações, mas não fazemos isso rotineiramente. Só quando a situação está caminhando mais lenta do que deveria”, esclarece Hernandez. Mais uma vez, entrar em trabalho de parto é fundamental. “Muitas vezes temos o diagnóstico de ausência de dilatação, mas a mulher nem entrou em trabalho de parto”, adverte Rodrigo.
13. Bebê grande demais é um impedimento para o parto normal?
Depende. Isto varia de acordo com o peso da criança, que é avaliado ainda no ultrassom, e da estrutura da mãe. “Se for uma mulher grande, provavelmente ela não vai ter um bebê pequeno. Às vezes a gente vê pacientes com estrutura baixa e observamos que não passa. Então o filho é grande para quem? Mas sabemos que bebês acima de quatro quilos e meio têm mais risco de nascer por cesariana”, explica Hernandez. Por isso é tão importante conversar com o ginecologista e acompanhar todo o pré-natal. “A gente não recomenda o parto normal se a bacia da pelve não for muito larga e o peso do bebê interferir. Embora não seja uma contraindicação absoluta, existe um risco maior”, afirma Rodrigo.
14. O parto normal demora mais do que a cesárea?
Verdade. Enquanto a cesariana demora de 1 a 2 horas para acontecer, a fase ativa do parto normal pode levar de 8 a 12 horas na primeira gestação. Rodrigo da Rosa observa que o parto normal nas mulheres que já tiveram filhos pode evoluir de 6 a 8 horas.
15. O fórceps é sempre indicado no parto normal?
Mito. Este instrumento deve ser acionado só em necessidade extrema, quando a criança fica parada no canal vaginal. “Usamos em casos de urgência onde o bebê tem que nascer e não consegue, ou a mãe está exausta e não consegue fazer força. Quando é bem indicado, ele salva vidas, mas não deve ser utilizado rotineiramente”, ressalta Rodrigo. O fórceps é, sim, um recurso que pode auxiliar o obstetra em casos complicados, mas o obstetra Wagner Hernandez reforça que essa questão deve ser discutida como uma eventualidade com a paciente durante o pré-natal, para que ela seja informada e tire todas as suas dúvidas.