Placenta de gestantes com Covid-19 pode apresentar alterações, diz estudo
Surgem evidências de que o novo coronavírus parece provocar problemas na circulação e outras complicações placentárias que prejudicam a gravidez
A Covid-19 é leve na maioria das vezes em que acomete mulheres grávidas. As que sofrem versões mais graves da doença, contudo, podem ter alterações na placenta ligadas ao parto prematuro e perdas gestacionais.
É o que sugere um estudo pequeno, conduzido por pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, publicado no American Journal of Clinical Pathology. Os cientistas compararam a placenta de 16 gestantes que contraíram o novo coronavírus e desenvolveram síndrome respiratória aguda grave (SRAG), uma das piores complicações da infecção, com mais de 17 mil amostras de mulheres livres do vírus.
O grupo acometido pela Covid-19 tinha mais chances de ter má perfusão placentária, um conjunto de alterações na circulação de sangue do órgão, como lesões ou entupimentos nos vasos sanguíneos, que prejudica o fornecimento de oxigênio ao bebê e está ligado a problemas como parto prematuro, sofrimento fetal e interrupções precoces de gravidez.
Tais alterações sugerem que a doença pode desencadear em algumas gestantes inflamações sistêmicas e um estado de coagulação excessiva do sangue – quadro parecido ao observado em alguns idosos, adultos jovens e mais raramente até crianças acometidas pelo coronavírus.
No estudo, a maioria dos recém-nascidos não teve complicações e recebeu alta poucos dias depois do parto. Uma gestante, entretanto, perdeu o bebê e outra teve parto prematuro. Os autores destacam que, como o número de participantes é baixo, não dá para dizer exatamente qual é a incidência de problemas durante o nascimento.
Covid-19 e possíveis riscos para a gravidez
Além do trabalho norte-americano, outros estudos buscam entender qual é o perigo que o coronavírus oferece às gestantes e bebês. Uma revisão sistemática (tipo de pesquisa robusta, que analisa as evidências disponíveis sobre um tema) publicada no The Journal of Maternal-Fetal and Neonatal Medicine avaliou 18 trabalhos do tipo, com 114 grávidas infectadas.
A doença provocou sintomas leves e a gravidez terminou bem na maioria das mulheres incluídas nos estudos, mas houve uma taxa considerável de parto prematuros, 21%, e sofrimento fetal, 10%. Vale dizer que, como estamos falando de pouco mais de cem casos analisados, também não é possível estender essa porcentagem para todas as grávidas.
Apesar de não parecerem particularmente ameaçadas pela Covid-19, é sabido que as futuras mães têm maior risco de terem complicações provocadas por outras infecções respiratórias, como a gripe. A mais ameaçadora e rara é a SRAG, que pode levar à morte. Por isso, o Ministério da Saúde considera que elas fazem parte do grupo de risco do novo coronavírus.