Continua após publicidade

“Eu tive gêmeas por parto normal”

Conheça a história da mãe que, apesar das reprovações, seguiu o seu coração para viver o nascimento das filhas como desejava.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 05h58 - Publicado em 7 dez 2015, 09h42

Mariana Perestrelo, 26 anos, é mãe da Clara e da Carolina, de 1 ano e 9 meses, e idealizadora do blog Para Carolina e Clara. Aqui, ela conta como tomou a decisão de fazer um parto normal na gestação das gêmeas e como foi viver essa experiência.

“Mesmo antes de engravidar, eu já era uma ativista do parto natural e humanizado. Buscando informações em sites e grupos que apoiam a causa, fui querendo cada vez mais ter filhos e sonhava com um parto domiciliar!

Alguns dias depois que descobri a gestação, tive uma grande surpresa: eu carregava na barriga dois corações, que batiam acelerados! Eu, que desde criancinha dizia que queria ter filhas gêmeas, senti um medo enorme. As histórias trágicas são sempre contadas para as mulheres grávidas e eu sabia que teria que lutar em dobro para escapar de uma cesárea eletiva e/ou desnecessária.

Assim, iniciei as minhas buscas por um obstetra humanizado. Depois de passar por dois médicos, encontrei uma profissional especial. Meu marido sabia do meu desejo e embarcou comigo nessa missão. Antes mesmo de engravidar, eu mandava alguns textos e dizia que era melhor ele se informar e me apoiar, pois eu jamais deixaria que opiniões sem embasamento afetassem qualquer decisão sobre o meu corpo. Contar com o apoio de alguém – seja quem for – é fundamental!

Apesar da ajuda do meu parceiro, encontrei muita reprovação das pessoas. Elas pensavam que eu desistiria nas primeiras contrações e também falavam que era impossível ou muito arriscado ter um parto normal gemelar. À medida em que a gestação avançava, eu evitava falar sobre esse assunto porque percebi que muitos não concordavam com a minha escolha. Tudo o que eu não queria era estar cercada por energias ruins e palpites desnecessários.

Continua após a publicidade

Quando descobri que estava grávida de gêmeas, o meu maior medo era a prematuridade. O sonho do parto domiciliar ficou para trás – visto que a gestação gemelar não é considerada de baixo risco. Ao completar 37 semanas, senti um alívio imenso, pois a partir desse período os bebês não são mais prematuros. Minhas filhas quiseram ficar uns dias a mais na minha barriga!

Com 37 semanas e 5 dias, as contrações se intensificaram e foram ficando cada vez mais fortes. Às 20h13 do dia 19/02/2014, eu comecei a anotá-las em um caderninho, pois estavam doloridas, mas sem ritmo – tanto que saí para jantar com o meu marido e os padrinhos das meninas. Na madrugada, o intervalo entre elas foi diminuindo e chamamos a nossa doula para vir até a nossa casa. Eu alternava entre ficar sentada na bola embaixo do chuveiro e deitar na cama. Quando o dia clareou, achamos melhor ir para a maternidade, pois eu já estava com 4 centímetros de dilatação e pensamos que as coisas poderiam evoluir rapidamente, mas não foi o que aconteceu.

Chegando ao hospital, o ritmo das contrações diminuiu, mas elas ainda estavam fortes e doloridas. Junto com a equipe, decidimos que ficaríamos por lá. Entrei no pré-parto e, em pouco tempo, o quarto que eu ficaria estava liberado. Entrar na água quentinha da banheira foi um alívio! Em alguns momentos, eu ficava quieta lá dentro, em outros andava pelo quarto, sentava na bola, rebolava, agachava… Acontece que os bebês continuavam altos e as dores eram cada vez mais fortes. O cansaço bateu e por volta das 17 horas optei pela analgesia.

No meu parto ideal, eu preferia não tomá-la, mas a minha experiência me mostrou outra realidade: eu precisava recuperar as forças para aguentar e seguir em frente. E assim foi. Descansei por quase uma hora e, embora eu sentisse as contrações, elas não doíam tanto. Eu continuava andando e fazia movimentos para auxiliar na descida dos bebês. O efeito da anestesia foi passando e eu percebi que a hora de conhecer as minhas pequenas se aproximava!

Continua após a publicidade

O momento expulsivo – quando a gente começa a sentir uma vontade incontrolável de fazer força – começou por volta das 22 horas e foi longo. Às 00h17, do dia 21/02/2014, a Carolina chegou. Nasceu e logo abriu os seus olhinhos para conhecer o mundo! Ela veio direto para o meu colo e ficou comigo por uns 10 minutos, quando o seu cordão parou de pulsar e o papai o cortou. Só depois ela foi para o bercinho ao meu lado esperar a sua irmã nascer.

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal ()

O intervalo entre as duas não foi tão longo, mas bem tenso. A descida do outro bebê foi rápida e as obstetras não conseguiam aferir os batimentos cardíacos da minha filha. Chegaram a cogitar uma transferência de urgência para a sala de cirurgia, mas antes que pudéssemos decidir, às 00h39, Clara mergulhou – de bolsa e tudo mais – para os meus braços. Sim, ela nasceu empelicada, ou seja, a bolsa amniótica não se rompeu. Em algumas culturas, isso é sinal de sorte!

Depois de toda essa experiência, o sentimento que ficou vivo na minha memória é a força que eu descobri que tenho. Parir foi o ato mais heroico da minha vida. Toda vez em que eu me lembro do nascimento das minhas filhas sou capaz de sentir os doces cheirinhos das duas logo que nasceram e de como eu me senti poderosa ao tocá-las, ao olhar de frente – olhos nos olhos – para as duas e ser a primeira pessoa que desejou boas-vindas a elas!”

Publicidade