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Batalha para ser mãe: “Fiz 30 FIVs e tive meu bebê por barriga de aluguel”

Tatiana Goellner travou uma luta contra a infertilidade e encarou desafios inimagináveis para realizar o sonho de carregar um filho no colo

Por Da Redação
14 Maio 2023, 08h00
mulher segurando garotinho no colo. Eles se olham e sorriem
Gabriel e a mãe, Tatiana (Foto/Arquivo Pessoal)
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Para algumas pessoas, o plano de ter filhos é algo distante – daí o susto quando os sintomas aparecem e o teste de gravidez dá positivo. Por outro lado, há quem diga que faria de tudo para enxergar aqueles dois tracinhos vermelhos que confirmam a gestação. Ser mãe nem sempre é simples e, para falar a verdade, tem sido um caminho cada vez mais difícil. As mulheres vêm adiando a maternidade por vários motivos, entre eles, a priorização da carreira, da estabilidade financeira e a busca de um(a) parceiro(a) ideal, quando desejo não é uma produção independente. E isso também está relacionado ao aumento das buscas por métodos de reprodução assistida para conceber um bebê.

Em abril deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório apontando que 17,5% da população adulta no mundo, ou seja, 1 em cada 6 indivíduos, sofre de infertilidade ao longo da vida. “A grande proporção de pessoas afetadas mostra a necessidade de ampliar o acesso aos cuidados de fertilidade e garantir que esse problema não seja deixado de lado nas pesquisas e políticas de saúde, para que quem deseja tenha formas seguras, eficazes e acessíveis de ter filhos”, declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da entidade.

A gaúcha Tatiana Goellner faz parte desse grupo. Para realizar o sonho de ter seu filho, Gabriel, hoje com 5 anos, ela encarou uma longa jornada. Longa mesmo! Passou por 30 ciclos de fertilização in vitro (FIV), alguns deles com óvulos doados, todos sem sucesso. Tentou fazer barriga de aluguel na Índia e, depois, nos Estados Unidos, onde, finalmente, a história teve o final desejado.

Ser mãe nem sempre foi o sonho de Tatiana. Segundo ela, o instinto aflorou mesmo após o casamento. Quando as tentativas de engravidar naturalmente não deram certo, ela buscou a ajuda de especialistas para entender qual era o problema.

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“Quando eu tinha 42 anos, disseram que meus óvulos estavam velhos. Eu falei: ‘Agora, tudo bem. Mas e aos 38?’”

Ao todo, desde os 38 anos, se consultou em cinco clínicas diferentes. Os exames a reviraram, assim como a seu parceiro, porém os médicos não foram capazes de determinar as causas da infertilidade.

Muitas rodadas – e uma esperança sem fim

Tatiana fez seu primeiro ciclo de FIV aos 39 anos – o primeiro passo de um caminho extenso. Depois disso, viriam outras 24 rodadas. “Eu fiz 25 tentativas com meus óvulos”, conta. A engenheira química engravidava, mas a gestação não ia adiante. “Chegava um ponto em que eu perdia. Aos 41 anos, descobriram que eu tinha trombofilia”, explica.

Embora os médicos insistissem que o problema era o envelhecimento dos óvulos, ela tinha certeza de que a questão não era essa. “Quando sugeriram que eu usasse óvulos doados, topei, só para provar que estavam errados e tirar essa dúvida”, conta, lembrando que a história sempre se repetia: os enjoos vinham e, após uma semana, Tatiana sentia que o momento da perda se aproximava. “Toda vez que começava a dor nas costas, eu já chorava, porque sabia o que ia acontecer”, afirma. Dito e feito.

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Além da frustração por não conseguir realizar seu sonho, havia o desgaste físico, emocional e financeiro. “Gastei todo o dinheiro e as reservas que tinha. Isso acaba até desgastando o casamento, porque o dinheiro faz falta”, diz a engenheira, que, apesar disso, não se arrepende das tentativas que fez.

Embriões viajantes

Um dia, assistindo a um programa na TV, ela soube da possibilidade de fazer barriga de aluguel na Índia, país que permitia o procedimento na época, e se animou. “Era um terço do preço de outros lugares no mundo e vi que a mulher ficava em uma casa com nutricionista, com médico, com tudo. Ela só faz isso durante esse período”, conta. Então, pensou: “Por que não?”.

Tatiana enviou seus embriões para a Índia, por meio de uma empresa especializada em soluções de transporte para este tipo de material biológico, um procedimento que tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Eles fazem esse transporte em um botijão específico para criogenia, com nitrogênio líquido”, explica. No entanto, existe uma grande burocracia, sobretudo para conseguir a aprovação da agência reguladora.

Com ajuda da clínica que estava envolvida no processo de fertilização, depois de um ano e meio, os embriões foram embarcados rumo à Índia. Porém, ela recebeu uma ligação que a tirou do eixo. Os botijões haviam sofrido um acidente. “Não sabemos ao certo o que aconteceu, mas, provavelmente, caiu, escapou um pouco do material…”, comenta. O transporte não seria mais possível.

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Desistir, contudo, não era uma opção! Tatiana contratou outra transportadora e conseguiu fazer com que os embriões chegassem à Índia intactos. De acordo com a empresa responsável, o próximo passo seria escolher a mulher que serviria como barriga de aluguel. Dois meses se passaram e, então, veio a desconfiança de que havia algo errado. Pela internet, a engenheira descobriu que o procedimento de barriga de aluguel tinha sido proibido para estrangeiros.

No Brasil, vale ressaltar, a prática de barriga de aluguel não é permitida. Por outro lado, é possível fazer o que ficou conhecido como barriga solidária, ou seja, uma mulher pode ceder o útero, desde que não seja em troca de dinheiro (a não ser que os valores sejam referentes a custos relacionados à gestação). “Na época, não cogitei fazer aqui, porque não tenho primas ou irmãs mais novas que pudessem gestar por mim”, conta Tatiana.

Embora não haja legislação específica que aborde a gestação de substituição ou a cessão temporária de útero, que são os nomes mais técnicos para o que conhecemos como barriga solidária, a prática da reprodução humana é regulada por resoluções do Conselho Federal de Medicina. Antes, na época em que Tatiana buscava uma barriga lá fora, o processo só era permitido entre mulheres que tivessem um grau de parentesco. De acordo com a última atualização, que entrou em vigor em 2022, isso mudou.

Depois do veto na Índia, Tatiana não desistiu e decidiu que mandaria os embriões para os Estados Unidos. Começaria uma nova etapa (e toda a burocracia novamente), com o pedido de autorização para a Food and Drugs Administration (FDA). Então, a companhia aérea especializada em transporte de criopreservação levou os embriões para os Estados Unidos.

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Nesta etapa, a engenheira deveria trocar cartas com as candidatas a fazer barriga de aluguel. Tatiana se encantou com a primeira correspondência que recebeu, de uma jovem chamada Amanda. Ela foi aos EUA para conhecê-la e se animou. A ideia era implantar primeiro um dos embriões e, se não desse certo, a clínica tentaria implantar os outros dois, em uma possível gestação gemelar. Amanda topou.

O tão sonhado teste positivo

Em 7 de abril de 2017, ocorreu o processo de implantação e, menos de uma semana depois, em uma chamada de vídeo, Amanda revelou à Tatiana o teste positivo. “Na hora, eu não conseguia ficar feliz. Isso só aconteceu quando ela fez o exame de ultrassom transvaginal e mostrou que estava tudo bem”, lembra. Quando a gestação completou seis meses, a brasileira foi para os Estados Unidos mais uma vez.

bebê recém-nascido com olhos fechados, deitado e usando uma touca
Gabriel, ainda bebê (Foto/Arquivo Pessoal)

Com 39 semanas, soube que seria necessário fazer indução e que o bebê iria nascer. “Eu não estava nem com a bolsa. Tinha apenas a cadeirinha instalada no carro”, recorda. Mas o sonho se realizou! Gabriel nasceu saudável e foi direto para os braços da mãe.

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Tatiana tentou amamentar, com medicamentos que induziam a lactação e com sonda, mas, após uma semana, não deu certo. “A enfermeira me disse que, depois de tudo o que eu tinha passado, era para eu não me preocupar, estava tudo bem”, conta.

“Eu só entendi o que é amar de verdade depois que eu tive filho. Não existe amor maior no mundo”

Gabriel é muito parecido com a mãe. Ela garante que não tem segredos com o filho, que é muito bem resolvida e que já contou ao pequeno como ele foi gestado: “Até mostrei fotos da Amanda. Ele sabe, só não sei o quanto entende.”

Mulher abraçada a garotinho. Ela olha para a câmera e sorri
Tatiana e o filho, Gabriel (Foto/Arquivo Pessoal)

Tatiana ainda tem três embriões congelados. “Acabei me separando e, agora, sozinha, não sei se vou ter outros filhos. Acredito que não”, afirma. Diante de tudo o que passou, ela recomenda que as mulheres olhem mais cedo para a questão da maternidade. “Nunca quis ter filhos, só depois de ficar mais velha. Então, se eu pudesse dar um conselho, diria que, por mais que você deseje adiar [a gravidez], guarde os óvulos se possível, para não passar por esse estresse. Existem muitas formas. O amor de mãe não tem limite”, completa.

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