As palmadas em crianças podem aumentar o risco de depressão e de outros problemas mentais na vida adulta, diz a conclusão de um estudo desenvolvido pela Universidade Católica Australiana. A pesquisa se baseou em 8,5 mil indivíduos, dos quais 6 em cada 10 relataram ter apanhado durante a infância.
Com base na amostra, o estudo observou que as meninas tinham 1,8 vezes mais chances de desenvolver um transtorno depressivo quando o histórico de castigos corporais foi mencionado. Já em relação à ansiedade, os riscos aumentaram 2,1 vezes. Entre os meninos, a propensão se mostrou praticamente o dobro tanto em relação à depressão quanto à ansiedade.
A partir desses dados, Daryl Higgins, professor e diretor do Instituto de Estudos da Proteção da Criança da universidade em que a pesquisa foi desenvolvida, passou a liderar um movimento para proibir que pais possam punir fisicamente seus filhos. Na Austrália, a prática ainda é permitida, mas as regras variam de acordo com o estado – por exemplo, em Nova Gales do Sul, não se pode atingir áreas como a cabeça e o pescoço.
“É hora de mudar as leis e garantir que as crianças estejam a salvo da violência em sua própria casa, da mesma forma que elas devem estar na escola”, disse Higgins à ABC Radio Melbourne. Para ele, os pequenos merecem a mesma proteção contra a violência de que os adultos desfrutam. “O único benefício é a obediência imediata, mas nós sabemos de forma clara que isso está ligado a danos de longo prazo”, alertou.
Não é “só” uma palmada
No Brasil, a Lei 13.010 de 2014, chamada de “Lei da Palmada”, entrou em vigor há oito anos, mas até hoje gera polêmicas de quem acredita que o Estado não deveria interferir na dinâmica familiar. Ela preconiza o seguinte:
“A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.”
De acordo com especialistas, as crianças absorvem as palmadas da mesma forma que outros castigos físicos mais intensos, gerando danos parecidos durante a infância e, depois, na vida adulta. Além disso, é sempre importante lembrar que todos têm seu direito resguardado pela Lei de não sofrerem violência. Proteger os pequenos, portanto, é dever da família e da sociedade.