“O que aprendi depois que me tornei mãe de um bebê prematuro”

Conheça a história de uma mãe que deu à luz antes do tempo e os desafios que ela enfrentou.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 21h15 - Publicado em 17 ago 2015, 13h41
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Mirian Krausburg de Araújo, 28 anos, é mãe do Arthur, de 6 meses, empresária e idealizadora do Instagram Arthur Reizinho. Aqui, ela conta as dificuldades que encarou ao ter um parto prematuro.

“Eu já estava quase completando dois meses de gestação quando descobri que esperava um bebê. Como não estávamos planejando ter um filho naquele momento, confesso que fiquei assustada, mas, misturado com o susto, também veio a alegria de saber que eu e o meu marido teríamos um pequeno para amar e cuidar. Quando recebi a notícia, procurei a minha ginecologista para tirar todas as dúvidas. Em um jantar, contei a todos da família sobre a gravidez e eles ficaram muito felizes!

Assim que iniciei o pré-natal, também optei por realizar acompanhamento com uma nutricionista para cuidar da minha saúde e do bebê. Minha gravidez estava tranquila, continuei trabalhando e fazendo normalmente todas as outras atividades. Além disso, eu estava ganhando o peso ideal. O verão chegou e todos os finais de semana íamos para a nossa casa no litoral e foi lá que eu comecei a notar certo inchaço nos pés, mas todos comentavam comigo que era normal isso acontecer na gestação – ainda mais quando estava tão quente. Os exames que eu realizava mostravam bons resultados e a minha pressão também estava ótima.

No feriado do Carnaval, fomos para a casa da praia. Chegamos na sexta à noite e estava tudo certo. Na madrugada de domingo para segunda-feira, eu acordei com muita dor de cabeça e enjoo. Eu não conseguia ficar parada, não encontrava uma posição confortável e aquela foi a primeira vez que eu tomei remédio durante a gravidez. Aos poucos, as dores foram passando e eu voltei a dormir. Ao longo do dia, o incômodo continuou, mas em uma proporção bem menor. Eu comecei a sentir tudo de novo na madrugada e resolvemos voltar para a nossa casa em Porto Alegre.

Na quarta-feira de cinzas, acordei cedo e liguei para a minha médica, que percebeu o que estava acontecendo e pediu para que eu fosse ao hospital realizar alguns exames. Assim fizemos. O meu esposo estava na sala de espera comigo aguardando os resultados. Como eu já estava bem e tinha percebido que iria demorar, disse para ele voltar para o trabalho, que depois eu ligaria para contar as notícias, mas eu não fazia ideia do que iria acontecer. Conversando com uma moça na salinha, ela me contou que já estava internada há uma semana para “segurar” o bebê e impedir ao máximo um parto prematuro. Aquilo começou a me assustar e eu pensei se poderia acontecer comigo também. Depois de meia hora, a médica veio e me informou que a minha obstetra estava voltando de viagem, pois eu teria que fazer uma cesárea às 17 horas daquele dia. O motivo? Eu estava com uma grave pré-eclâmpsia e meus rins já tinham parado de funcionar. Eu entrei em choque!

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Liguei imediatamente para o meu marido e disse que ele deveria retornar ao hospital e também comuniquei os meus pais, que estavam viajando e voltaram às pressas para Porto Alegre. Logo me encaminharam para a sala de preparação do parto – tomei injeções, colocaram sonda em mim e mais um monte de coisas que eu nem consigo me lembrar, pois eu estava muito nervosa e não parava de tremer! Eu não conseguia entender porque aquilo estava acontecendo comigo, afinal, eu tinha me cuidado durante toda a gravidez… O que tinha dado errado? Mil coisas passavam pela minha cabeça, mas logo tomei anestesia e a minha obstetra chegou a tempo de realizar o parto.

Tudo aconteceu muito rápido e em menos de meia hora escutei o chorinho do Arthur, às 17 horas e 35 minutos do dia 18/02/2015. Ele nasceu com 33 semanas, pesando 1,980 quilos e medindo 44 centímetros. A médica o colocou do meu lado, junto com o pai. Esse momento durou menos de um minuto, mas parecia uma eternidade: eu vi que o meu pequeno estava vivo e isso encheu o meu coração de paz! Mas logo o levaram para longe de mim e eu fui para a sala onde as mães ficam com os seus bebês após o parto e fiquei lá por 24 horas, escutando o choro dos pequenos, vendo que os pais estavam felizes por estarem com os seus filhos – eu estava ali, sozinha, longe do meu bebê. Foram momentos muito difíceis, eu chorava muito. Meu marido ficava trocando de sala toda hora, tirava fotos do Arthur para me mostrar e contava o necessário, pois tinha medo de eu ficar nervosa. Só fui entender direito o que estava acontecendo com o meu filho quando sai do risco da pressão subir novamente. Assim, pude ir para o quarto, tomar um banho e me preparar para ver meu pequeno.

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Descobri que o Arthur tinha sido encaminhado para a UTI Neonatal por disfunção respiratória, prematuridade e baixo peso. Mas foi tão bom ver o meu filho – mesmo naquela situação. Só de saber que ele estava vivo e apresentava um quadro mais estável, eu fiquei um pouco mais tranquila. Naquele momento, eu ainda estava internada e o meu leite empedrou. Comecei a frequentar no hospital uma sala na qual as mães extraem o leite. Lá foi onde encontrei mais apoio, pois comecei a conversar com as funcionárias e com outras mães – fomos trocando experiências e eu conheci a realidade de muitas crianças que estavam na mesma situação que o meu filho. O vínculo criado entre as famílias de bebês prematuros é muito forte. Nós chorávamos, ríamos, almoçávamos, conversávamos juntas e torcíamos e rezávamos pelos nossos filhos. Aquilo também foi o que me motivou a seguir em frente, pois eu preferi me excluir um pouco da sociedade e viver somente aquele ambiente. Eu achava muito ruim ter que repetir para todo mundo o que estava acontecendo e eu não tinha cabeça para isso – eu estava vivendo somente para o meu pequeno.

O Arthur ficou em ventilação mecânica por 10 dias e em oxigenoterapia por mais 3 dias. Ele teve um episódio de pneumotórax (quando o ar entra no pulmão e vai para o tórax) e teve que fazer vários procedimentos por conta disso. Ver o seu bebê tão pequeno passar por tudo isso é muito triste, mas temos que ser fortes e transmitir calma e amor para que eles fiquem bons logo. Eu fiquei internada por 11 dias e depois recebi alta. É muito difícil voltar para a casa e deixar o seu filho no hospital. Eu ficava lá só para dormir e tomar banho, pois passava a maior parte do tempo perto do meu filho – ainda mais no meu caso, que eu o amamentava (no começo ele recebia o leite materno por uma sonda e depois passou para o peito). Confesso que foi um período cansativo, mas eu não tinha vontade de sair do lado do Arthur.

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O tempo passou e chegou a hora da minha formatura. O meu filho ainda estava internado e, supostamente, ele receberia alta no dia do ensaio de formatura. Eu saí do hospital muito empolgada, pois era a primeira vez desde que eu tinha tido bebê que eu encontraria tantas pessoas conhecidas – disse para elas que as coisas estavam correndo bem e que logo o Arthur iria para casa. Depois do compromisso, fui a uma loja infantil e comprei tudo o que faltava para receber o meu reizinho no nosso lar. Arrumei toda a casa e o resto das coisas para completar o seu quartinho, peguei o bebê conforto e fui com o meu esposo buscar o nosso filho, mas, chegando ao hospital, eu vi que o Arthur não estava no lugar que ele sempre ficava. Olhei para uma mãe amiga e os seus olhos estavam cheios de lágrimas e, imediatamente, percebi que tinha algo errado. A enfermeira me levou para conversar com a médica e ela me disse que ele havia tido um pneumotórax espontâneo e estava colocando drenos novamente. O meu mundo caiu! Foram mais 5 dias de drenagem e vários exames.

Parecia que o dia de levar o meu filho para casa se tornava cada vez mais distante, mas bebês prematuros são muito fortes e se recuperam com uma velocidade incrível. O Arthur é um guerreiro e me ensinou a ser uma pessoa mais forte também. Ele ficou durante 33 dias na UTI Neonatal. Não foi um período fácil, mas posso dizer que eu aprendi muito: a dar mais valor à vida, nas relações com as pessoas, a ter fé e a acreditar em milagres – pois nós, pais, nos vemos frágeis diante dos nossos filhos, mas são eles que acabam nos surpreendendo e nos preparando para enfrentar qualquer desafio.

Quando cheguei em casa com o meu bebê, senti que eu estava pronta e segura para ser mãe. Hoje, o Arthur tem 6 meses e eu ainda tenho alguns cuidados com ele – como qualquer outra mãe. Ele é um menino saudável, brincalhão, amoroso e que a cada dia me encanta mais. Posso dizer que eu sou uma pessoa realizada, pois aproveito todos os momentos com ele – continuo amamentando e aprendendo muito. Para as mães que estão passando pela mesma coisa que eu vivi, eu as aconselharia a nunca desistir. A realidade é tão dura, que às vezes nos enfraquece, mas não podemos cair, devemos continuar lutando por um bem maior: nossos filhos“.

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