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Como contar para o meu filho que Papai Noel não existe?

Especialistas explicam que não há uma fórmula secreta, mas dão dicas de como saber se chegou o momento para abrir a conversa sobre o assunto.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 21 dez 2019, 11h01 - Publicado em 21 dez 2019, 10h01

Reunir a família, comer uma ceia gostosa, trocar presentes e… dizer que o Papai Noel não vem este ano? Ver os pequenos crescerem é incrível, mas também é se pegar pensando se já chegou o momento de dizer para o filho sobre o que é fantasia e como fazer isso. Só que, sem titubear, afirmamos que não há uma resposta certa e/ou errada para essa pergunta e que o processo é mais natural do que se pensa.

Como explica Dra. Daniela Petry Piotto, pediatra do Fleury Medicina e Saúde, acreditar no bom velhinho pode ser importante para o crescimento da criança. “O imaginar e o fantasiar são parte do desenvolvimento infantil. A partir dos 2 até 6 anos, a criança começa a perceber-se como indivíduo separado da mãe e as formas de relacionar com o mundo. Dessa forma, um recurso que a criança utiliza é a fantasia e a imaginação, que são parte do desenvolvimento infantil”.

Ainda que muitas pessoas não saibam, ter a parte lúdica bem trabalhada também está relacionada a fase adulta, de acordo com Carla Guth, pós-graduanda em Psicopedagogia e Especialização em Família e Construcionismo. “Quando as crianças acreditam no Papai Noel, elas sentem como se estivessem “brincando de faz de conta” e isso estimula a habilidade da criança em desenvolver alternativas e soluções para um problema”.

Daniela também lembra que o Papai Noel é associado à tradição, amizade e generosidade. Com isso, a figura do Natal pode ser uma forma de tornar palpável o que são esses sentimentos para as crianças.

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(Marcia Fernandes / 500px/Getty Images)

Só que, em meio a toda essa magia da data, alguns contratempos podem acontecer. Um familiar pode dizer para o seu filho que o bom velhinho não existe ou até o próprio pequeno pode se questionar sobre a figura natalina ser verdadeira ou não. E agora, o que fazer?

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Veja se ele realmente entendeu o que foi dito

Deborah Moss, neuropsicóloga e especialista em psicologia do desenvolvimento, pede para que os pais mantenham a calma porque a situação pode ter significados diferentes na perspectiva deles e na dos filhos. 

Enquanto que os progenitores sentem a espinha gelar por ver a ideia do Papai Noel desmanchando na frente deles, para a criança muitas vezes a informação só entrou e saiu de um ouvido para o outro, sem sequer entender o que o adulto quis dizer. Tudo dependerá da capacidade de entendimento do pequeno naquele momento.

Deborah cita o exemplo da própria filha, que quando ouviu que mulheres fantasiadas não eram princesas de verdade, ela respondeu dizendo que aquelas não eram mesmo, pois as verdadeiras estavam na Disney. Portanto, a própria criança tende a mostrar qual o status psicológico de como está recebendo o lúdico.

Agora, caso o pequeno tenha realmente ouvido a afirmação sobre o bom velhinho e decida perguntar sobre a existência dele, os especialistas indicam algumas saídas.

Devolva a pergunta para a criança

O primeiro passo é tentar entender se ela está perguntando por dúvida mesmo ou por repetição. Para isso, jogue de volta a questão para a criança. Deborah sugere que os pais digam ao filho que a pessoa que falou sobre o Papai Noel pode não acreditar nele, mas que outras pessoas sim, pois cada uma tem sua opinião. E abra espaço para saber como o pequeno realmente se sente sobre o assunto: “você acha ele que existe ou não?”.

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Caso ele diga não, é hora de explicar quem é o Papai Noel. “Os pais vão falar que não é nem de verdade, nem de mentira. Ele era de faz conta e quando se deixa de se acreditar, ele é só uma crença”, detalha Deborah.

A pediatra Daniela também ressalta que não é recomendado insistir ou até mesmo mentir na história do bem velhinho. Inclusive, isso mostra que, às vezes, a desilusão é mais dos pais do que dos filhos sobre a data.

(Ariel Skelley/Getty Images)

Tem idade para não acreditar mais?

Nos atendimentos em consultório, Daniela relata que a partir dos sete, oito anos, as crianças começam a questionar as fantasias e chegam a dizer que não acreditam mais nelas.  O mais importante é que a descoberta seja natural e que é o que normalmente acontece. “Ela mesma vai começar a compreender, vai perceber que há um Papai Noel em cada shopping ou que o Papai Noel da casa da tia é diferente de outro Papai Noel que ela viu na casa da vizinha, por exemplo. Ela também cria uma fantasia ao pensar e descobrir que não existe. Por isso, é muito importante que tanto o acreditar como o desacreditar ocorra naturalmente, pois faz parte de cada fase, de cada momento do amadurecimento da criança”, pontua a pediatra.

A única exceção apontada pela neuropsicóloga Deborah de que a conversa direta sobre o Papai Noel é necessária é quando a criança sofre algum tipo de exclusão social e corre o risco de saber sobre a inexistência da figura natalina de forma agressiva. “Se chegar em um ponto, que ela já está maior (dez, 11 anos) e ainda acredita no Papai Noel, e os pais estão vendo que os amigos e os pares não estão mais nessa fase, os pais podem conversar com a criança. Mas de alguma maneira que faça ela chegar a essa conclusão. Não um comunicado formal, mas um diálogo, uma conversa de reflexão junto com ela”.

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A conversa sem traumas é positiva ao nível de ter reflexos importantes na vida adulta da criança, de acordo com a psicóloga Carla: “Quando o processo de amadurecimento, ao descobrir a verdade sobre o Papai Noel, se dá de forma tranquila e honesta, a criança aprende como superar o sentimento de decepção e se orgulha de saber que tem idade suficiente para saber mais do que as crianças menores”.

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