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É só uma mentirinha? Saiba como lidar quando a criança não fala a verdade

O comportamento de distorcer a realidade tem muito a ver com a idade do pequeno - mas outros fatores também podem motivá-lo. Entenda!

Por Flávia Antunes
24 set 2020, 17h31

Chegando perto da hora do almoço, você abre a despensa e se depara com o pacote de bolachas recheadas vazio. Entra no quarto do pequeno e – pasmem – ele está todo lambuzado de chocolate. “Quem é que comeu todo o doce antes da refeição?”, você questiona. “Foi o au-au, mamãe!”, responde ele.

Falas divertidas das crianças, que sabemos que não passam de mentirinhas, acontecem hora ou outra com todas as famílias. Em situações mais “leves” e outras nem tanto, vemos nossos filhos não dizendo a verdade e isto pode até despertar certa preocupação. Será que é só uma fase? As mentiras dizem algo sobre a personalidade dele?

Para tranquilizar os pais, a psicóloga e doutora em Educação Maísa Pannuti logo adianta: “A mentira faz parte do desenvolvimento infantil, então não significa um problema de caráter ou um motivo de grande preocupação, é algo intrínseco ao desenvolvimento”.

Mas afinal, por que as crianças mentem?

No início da vida, as mentirinhas que os pequenos contam são, na maioria das vezes, impensadas – em outras palavras, eles realmente acreditam no que estão dizendo! “Durante a época da primeira infância, a criança está muito envolvida no mundo da fantasia. Então é comum que tenha uma dificuldade de diferenciar o que é realidade do que não é”, esclarece a psicopedagoga Thaise Pregnolatto.

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Mas além da faixa etária, o comportamento também pode ser motivado por outros fatores, como para chamar a atenção dos adultos, para conseguir o que quer ou para deixar uma história mais emocionante. “A criança também pode mentir por medo de ser punida, quando tem pais muito rígidos e distorce a verdade para evitar a bronca”, diz Maísa.

“Acontece ainda como forma de fugir de alguma responsabilidade que a criança ainda não dá conta ou com a qual não se sente confortável”, acrescenta ela. Neste caso, o pequeno pode, por exemplo, comentar com os pais que “a professora disse que não tem aula”, para que não tenha que ir à escola, como exemplifica a especialista.

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E os adultos não estão isentos de responsabilidade, viu? Os filhos, principalmente os menorzinhos, aprendem pelo exemplo e repetem aquilo que observam dentro de casa. “Eles podem acabar reproduzindo algum padrão da família. Exemplos simples são quando a criança atende o telefone e a mãe orienta: ‘fale que eu não estou’, ou se em um passeio no shopping promete ‘na volta a gente compra’ e não o faz”, afirma a psicóloga. “Ela vê o adulto mentindo e acha que é algo absolutamente natural”, conclui.

Como lidar com a mentira

A questão é complexa e o primeiro passo é sempre entender o por que a criança está mentindo – se é por algum dos motivos listados aqui em cima ou algum outro. Em todo o caso, as profissionais recomendam que os pais fiquem atentos a alguns comportamentos que podem ajudar a desestimular as mentirinhas.

  • Dê o exemplo

Como já pontuamos, as crianças são movidas pelo exemplo e tiram de seus cuidadores tanto os aprendizados positivos quanto os negativos. “Não adianta ter longas conversas sobre honestidade com seu filho se você não assume uma postura honesta no dia a dia”, diz Thaise.

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A dica da doutora em Educação caminha no mesmo sentido: “Sempre deixo claro para a minha filha que falo a verdade e que espero que ela faça o mesmo comigo. Se vamos tomar vacina e ela me pergunta se a injeção vai doer, por exemplo, digo que sim, mas que vai passar rapidinho”.

  • Crie um ambiente de acolhimento e diálogo

Se a criança entender que será repreendida toda vez que falar a verdade, ela será desestimulada a fazer isto – e talvez comece a mentir ou a esconder algumas coisas. Por isso, a indicação de Maísa é que os pais estabeleçam uma relação de confiança para que o pequeno consiga chegar frente ao adulto e dizer o que de fato aconteceu.

“Precisamos tomar muito cuidado com o castigar a criança que mentiu. Isto fará com que ela tenha medo de se expor, quando o ideal é que os adultos criem um espaço propício ao diálogo”, diz Thaise. 

  • Evite “interrogatórios” 

Diálogo é diferente de interrogatório, viu? Sobrecarregar a criança com perguntas também pode fazer com que ela não se sinta confortável em dizer a verdade. “Ao conversar, é importante que os pais tomem cuidado para não fazer um interrogatório, no sentido de colocar a criança em xeque para desmascará-la. Algumas sugestões de fala são: ‘me conta o que aconteceu para eu entender melhor’ ou ‘você tem certeza absoluta de que isso aconteceu?'”, recomenda a psicóloga.  

    • Explique as consequências da mentira

    Não adianta repetir centenas de vezes que não é certo mentir. Para que faça sentido para o pequeno, ele precisa entender o porquê de falar a verdade. “O mais adequado é ter uma conversa sincera e falar sobre as consequências da mentira”, afirma a psicopedagoga. “Por exemplo: ‘se você comer coisas escondido, pode ter alergia e acabar parando no hospital’. Pode parecer banal, mas é uma ferramenta preciosa inclusive para prevenir abuso sexual”, completa ela. Veja mais sobre como conscientizar os pequenos sobre o tema. 

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        • Sinalize a mentira quando ela aparecer

        As narrativas inventadas vão surgir e é importante que os adultos sinalizem para o filho que percebem que aquilo não é verdade – e isto não significa podá-lo ou reprimi-lo, tá? “Quando ele começa a contar uma história super fantasiosa, que a gente diga ‘nossa, que história interessante essa que você inventou!’, comenta Thaise. 

        • Não rotule a criança

        Na mesma linha de não repreender severamente quando as mentirinhas aparecerem, os pais de forma alguma devem chamar o pequeno de mentiroso. “Isto cria um rótulo extremamente prejudicial e, muitas vezes, a criança pode acabar ‘vestindo a camisa’ e continuar se comportando deste modo”, alerta Maísa.

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        Se o comportamento persistir…

        Como dissemos, distorcer a verdade pode ter muita relação com a idade do pequeno. Mas se as mentiras persistirem por mais tempo ou se tornarem muito frequentes, a ponto de trazerem consequências para a criança e para as pessoas ao redor dela, vale repensar o que pode estar desandando dentro de casa.

        “Antes de buscar ajuda, sugiro que os pais façam uma espécie de ‘avaliação interna’. Que olhem um pouquinho para dentro, para como anda a dinâmica familiar e o que pode estar motivando”, indica a psicóloga. Fazer a ponte com a escola para entender como anda o comportamento do pequeno por lá e pensar em alternativas coletivamente também é uma ação interessante.

        “Mas, claro, quando a atitude escapa à compreensão e a criança está mentindo exageradamente, vale buscar orientação profissional – primeiro como um aconselhamento para os pais e depois, se necessário, para a criança”, finaliza Maísa.

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