“Fiz uma festa infantil com o tema autismo para conscientizar as pessoas”
A família do pequeno Heitor achou um jeito inusitado de conscientizar amigos e parentes sobre o autismo. Confira a história completa!
A designer mineira Vanessa Alves, 27, confessa que não foi fácil receber o diagnóstico de autismo de seu filho Heitor, dois anos depois do nascimento do menino. Mas não só pela complexidade do tratamento. A maior dificuldade, revela a mãe, foi lidar com o preconceito das pessoas ao seu redor.
Pensando nisso, na comemoração do seu sexto aniversário, o pequeno ganhou um presente inusitado: uma festa com o tema ‘Autismo’. A ideia partiu de Vladimir Ribeiro, avô materno, que reuniu a família e dividiu os preparativos. Itens de decoração com o símbolo internacional do autismo, cenário com as cores representativas, lembrancinhas com texto explicativo – tudo isso para conscientizar os convidados sobre a condição do menino Heitor.
“O meu desejo é que as pessoas procurem saber mais sobre a pessoa autista. Que aprendam a não olhar o autista com repreensão ou dó, porque o que ele realmente precisa é de amor, de carinho e, acima de tudo, de respeito”, declarou o avô de Heitor.
A comemoração repercutiu quando a madrinha do menino, Pollyana Alves, postou um depoimento emocionante contando sobre a festa em seu Facebook. Vanessa confessa que não esperava por tanta reverberação positiva, mas fica feliz em poder passar essa mensagem sobre o autismo.
Confira o relato dela na íntegra:
“Eu recebi o diagnóstico do Heitor com dois anos. No começo, não foi muito fácil, porque a gente não sabia muito bem o que era o autismo. A gente não tinha essa compreensão que temos hoje. Nós percebemos que tinha alguma coisa diferente pelo modo que ele brincava – de ficar tudo ‘enfileiradinho’ – ele não olhava nos olhos da gente, ele não gostava muito de contato físico, de abraçar. Então, percebemos que, pela idade dele, o desenvolvimento não estava sendo o que seria esperado de uma criança.
Levamos ele no psiquiatra, depois no neurologista, e tivemos o diagnóstico fechado do autismo. Não sabíamos bem o que fazer, mas temos um primo com autismo e a família dele ajudou bastante. Não foi tão difícil de lidar, porque o Heitor é uma criança maravilhosa. Claro que foi complicado no início, em questão de tratamento, mas hoje em dia está tranquilo, ele está se desenvolvendo bem: faz todos os tratamentos possíveis, frequenta a escola regular da prefeitura e tem até auxiliar de inclusão, um profissional que acompanha ele nas atividades em sala de aula.
A nossa maior dificuldade mesmo tem sido com a questão dos olhares críticos – pessoas que não sabem, assim como a gente não sabia, o que é o autismo. Se a pessoa vê o Heitor fazendo movimentos diferentes na rua, ou pulando, ela já olha com um olhar meio crítico, não sabe o que é. Já aconteceu de ele ter crise na rua e as pessoas ficarem olhando com pena ou como se ele fosse uma criança sem educação.
A gente fez essa festa para conscientizar as pessoas. Pra falar: não é uma doença, é só uma condição neurológica. Queremos passar isso para as pessoas, para que elas tenham esse olhar mais compreensivo.
Mas, afinal, de onde surgiu a ideia da festa?
“Meu pai teve a ideia da festa e nós adoramos. Começamos a pesquisar e não encontramos muita coisa com esse tema. Tivemos que criar tudo do zero, mas abraçamos a ideia. Ele fez os enfeites, e eu, minha mãe e minha irmã preparamos as lembrancinhas e os objetos da mesa. Minha irmã fez o texto, pra conscientizar todo mundo e explicar um pouco mais sobre o Heitor e sobre a condição dele. Minha mãe e eu montamos a mesa com vários detalhes do símbolo mundial do autismo. Até o convite tinha as cores – verde, vermelho, amarelo e azul – com aquelas peças representativas de quebra-cabeça também. Deu certo e ficou muito bonito!
Quando os convidados chegaram na festa, não sabiam do tema. A decoração lembrava uma festa de criança, mas eles não sabiam o que era. Na hora do parabéns, perguntei se alguém tinha entendido. Eles falaram que não e eu comecei a explicar, que queríamos que eles entendessem mais sobre o autismo e sobre o Heitor. Entendessem alguns comportamento dele. O discurso foi muito bem recebido e aplaudido. Depois que eu distribuí a lembrancinha, todo mundo se emocionou muito. Eles convivem com o meu filho, mas mesmo assim não sabiam o que era o autismo de verdade.
A experiência da festa foi ótima. Foi muito bem recebida por todos, inclusive pelo Heitor, que aproveitou muito. Só temos a agradecer a todo mundo. Estamos felizes com a repercussão que está tendo, e esperamos que mais pessoas possam entender sobre o tema.
Queríamos passar uma mensagem para as mães que estão tendo dificuldade de aceitar o diagnóstico de seus filhos: que elas não tenham medo. Porque os filhos precisam delas. Então, quanto mais cedo você aceitar o diagnóstico, mais cedo você começa a ajudar o seu filho e mais cedo ele vai ter uma resposta positiva. O autismo não é um bicho de sete cabeças. É uma diferença, mas todos têm diferenças.”