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Atividade cerebral pode ajudar a diagnosticar autismo, indica estudo

Conexões identificadas via ressonância magnética serviriam como marcadores do transtorno, para o qual ainda não existem exames.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 11 mar 2019, 15h36 - Publicado em 11 mar 2019, 12h55

O único jeito de diagnosticar o autismo hoje é clínico, com a análise dos sintomas feita pelo médico. Por isso, podem se passar anos até que a família tenha certeza de que o filho possui algum transtorno do espectro autista (TEA), conjunto de distúrbios que afeta o comportamento da criança e a maneira com a qual ela se comunica com o mundo. Esse cenário pode mudar em breve.

Pesquisadores de cinco países europeus se uniram para buscar alterações cerebrais no cérebro em mais de 800 portadores de TEA, e descobriram que as conexões entre os neurônios se comportam de maneira diferente nessa parcela da população. O trabalho usou os resultados de ressonâncias magnéticas funcionais feitas em outros 4 estudos anteriores, envolvendo portadores do transtorno de todas a idades.

O grupo comparou essas imagens com as de voluntários clinicamente saudáveis e verificou a alteração na conectividade. “Encontramos um padrão de conectividade comum entre todos os grupos avaliados”, explicou à imprensa Jurgen Dukart, do Instituto de Neurociência Forschungszentrum Jülich’s, na Alemanha, um dos autores do estudo.

A ideia é que, no futuro, os médicos sejam capazes de identificar que tratamentos funcionariam melhor de acordo com o padrão de conectividade de cada indivíduo.

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Nem melhor, nem pior: diferente

Os pesquisadores descobriram que a conectividade da mente autista não é mais forte ou mais fraca do que as dos indivíduos sem o transtorno, mas varia conforme as regiões cerebrais. Regiões mais conectadas em indivíduos saudáveis são menos ativas nos portadores do TEA. Por outro lado, outros locais são mais conectados no grupo com o transtorno.

Estudos anteriores já notaram mudanças estruturais no cérebro que podem estar relacionadas à comunicação entre os neurônios. No ano passado, pesquisadores canadenses identificaram também via ressonância mudanças nas áreas responsáveis por estímulos sensoriais, como audição, visão e percepção do toque.

Outra descoberta recente que corrobora o achado é a de que a substância branca — líquido que envolve o cérebro e é responsável pela troca de informações entre os neurônios — dos autistas pode ser diferente. Eles têm mais conexões a curta distância do que a longa, o que faz, por exemplo, com que haja uma especialização grande, mas dificuldade em fazer associações.

Alterações como essas ajudam a explicar porque crianças autistas preferem focar em detalhes dos brinquedos, são mais sensíveis aos estímulos de som, luz e outros, e por aí vai.

Ponderações necessárias

No texto, os autores fazem a ressalva de que, nos portadores mais novos do transtorno, essa relação não foi tão significativa. Mas outro trabalho, realizado nos Estados Unidos em 2017, verificou que aos seis meses de vida as crianças autistas já podem apresentar alterações nas conexões neuronais.

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Ainda são necessários mais estudos para encontrar um exame realmente confiável para diagnosticar o autismo. Mas a ciência está cada vez mais perto de entender as particularidades do cérebro dos portadores do transtorno.

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