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“Como foi encarar a realidade do pós-parto”

Apesar de se sentir preparada para a maternidade, Roberta Sampaio se surpreendeu com um período de dores físicas e emocionais.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
13 abr 2017, 13h34
 (Arquivo Pessoal/Roberta Sampaio)
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Aos 22 anos, Roberta Sampaio descobriu que seria mãe. Apesar da gestação não planejada, conseguiu se preparar para a chegada da pequena Marina, mas, ainda assim, não imaginava que teria que encarar um pós-parto tão difícil – como sempre é esse período, mas sobre o qual ainda pouco se fala. Confira esse depoimento!

“A maternidade chegou mais cedo do que eu esperava. Eu tinha 22 anos, estava terminando a faculdade, trabalhando e morando sozinha em outra cidade, longe da família. Foi um susto muito grande, mas no início fiquei anestesiada e não consegui assimilar direito o que estava acontecendo.

Depois de largar o trabalho, trancar a faculdade e me despedir de onde morava, voltei a morar com a minha mãe e, só assim, senti um choque de realidade. Com o apoio de toda família, dos amigos e do pai, eu segui a gravidez tendo altos e baixos, dias horríveis e dias maravilhosos. Tentei me preparar, além de fisicamente, psicologicamente. Tentei me resolver com meus medos, enfrentar todas as mudanças gigantescas que vinham a cada dia que passava. Tentei tratar cada novidade, cada sentimento maluco que os hormônios da gravidez nos proporcionam com sabedoria.

Os medos, receios, a pressão de ser ‘mãe solteira’, de ser mãe jovem, me assombravam todos os dias. Até que eu aprendi a repetir o seguinte mantra: ‘agora você tem que cuidar de alguém e precisa estar saudável por completo para isso’. Foi quando eu procurei ajuda de outras mães, comecei a me interessar pelas fases da gravidez, pelo desenvolvimento do bebê na barriga, pelos exercícios que aproximam a gente do bebê, como dança, leitura, conversa, massagem…

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Eu me sentia preparada. Sempre sonhei com isso, só não esperava que fosse chegar tão cedo e sem planejamento. Eu, muito inocente, achei que sabia de T-U-D-O. Que quando minha filha nascesse, iria nascer comigo o dom da maternidade. Eu seria completamente instintiva e saberia me comunicar com ela na maior sintonia. Muita inocência!

A Marina nasceu e eu me sentia confiante! Achei que o instinto materno iria me salvar dos perrengues e da falta de jeito, que seria tudo como nos comerciais de fralda. Mas a maternidade real e nada romântica me esperava, o pós-parto estava ali para me sacudir e fazer eu me sentir a pior mãe do mundo.

Quando cheguei em casa, depois de uma cesárea que também não planejei, olhei para o lado da cama e a Marina estava ali comigo. Senti uma coisa inexplicável, uma euforia misturada com um medo gigante. Parecia que eu estava vivendo em outra dimensão enquanto estava no hospital. O parto foi maravilhoso e, quando ela nasceu, eu realmente senti que estava de frente para o grande amor da minha vida. Me deu uma vontade de pegar no colo e proteger de um jeito feroz. Mas parecia que a qualquer momento eu iria acordar em casa e voltar à minha rotina normal.

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Os dias foram passando e eu fui ficando cada vez mais perdida ao invés de me encontrar. Amamentar foi ficando insuportavelmente doloroso, eu sentia que não iria conseguir. É uma dor tão grande, é uma entrega tão intensa. Eu me sentia péssima por querer que aquele momento, que deveria ser mágico, acabasse logo. Meus seios estavam mais sensíveis que nunca, o leite descia de forma desenfreada e eu não conseguia ficar nem cinco minutos com uma blusa limpa. Não tinha encontrado ainda uma posição confortável para amamentar do lado esquerdo e, consequentemente, dava mais o peito direito. Por isso meu leite empedrou duas vezes e toda aquela dor e aflição pareciam não ter mais fim. Parecia que a gente nunca iria conseguir se entender, chegar num acordo de posição, de frequência de mamadas.

O cansaço era surreal, eu não conseguia dormir mais de 3 horas seguidas e, quando conseguia, imaginava que coisas terríveis estavam acontecendo com a Marina e perdia o sono. Ouvia ela chorando o tempo todo quando saía de perto, mas era tudo imaginação da minha cabeça louca de puérpera.

Roberta Sampaio

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Lembro de ter passado no mínimo uns três dias chorando sem parar. Sem saber o motivo. Alguma coisa me doía muito por dentro e não era uma dor física. Eram meus hormônios me traindo novamente. O famoso baby blues. Uma fase melancólica, chorosa e cheia de culpa do pós-parto. Eu não entendia nada. Por que tanta tristeza? Cadê aquele amor, alegria e realização? Eu fui enganada pela maternidade IDEAL e estava sofrendo tudo que a maternidade REAL tem para nos dar.

As dores físicas me deixavam fraca, a cólica era tanta que os remédios não davam conta. A dor dos pontos, dos gases, de toda a transformação que meu corpo sofreu para gerar um bebê. Eu estava inchada, não reconhecia meu próprio corpo. O sangramento intenso do pós-parto me deixava desconfortável o tempo inteiro.

Receber visitas virou sessão de tortura. As pessoas estavam tão empolgadas com o bebê que acabavam deixando-o mais agitado. Não tinham muita compreensão com a minha situação, com o estado deprimente em que eu me sentia. Com a adaptação que eu estava passando com a Marina. Eram perguntas, palpites, pitacos e zero empatia comigo.

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Onde fica todo o amor materno mágico, ardente, enorme? Eu só conseguia olhar para minha filha e chorar. Eu só pensava em quanta responsabilidade eu carregava nos braços. Pensava que não iria dar conta, que minha vida viraria uma tristeza sem fim porque eu não seria capaz de educar, de cuidar. Cheguei a pensar que tinha entrado em uma depressão pós-parto.

Só fui entender tudo que estava acontecendo meses depois. Que toda minha resistência, minha dedicação, minha insistência na amamentação, isso era o amor materno. Ele começa assustador, ele machuca, dói e eu só percebi que ele estava ali, crescendo, quando tudo passou. Quando eu comecei a dar valor às recompensas diárias que a Marina me proporcionava. Um olhar, um sorriso banguela e sem jeito. Isso me mudou, me transformou.

Percebo, pela minha experiência, que só quem acolhe a dor de uma mãe no pós-parto é a avó. A minha mãe estava ali para mim. Ela sabia da minha dor, ela sentia comigo. Ela me ajudava a caminhar, a levantar da cama, me ajudava no banho, a trocar de roupa. Ela cuidava de mim quando todos os olhares estavam para o bebê.

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As coisas só foram ficando claras para mim meses depois. Eu entendi melhor o que era o puerpério, o que era o baby blues e tudo o que eu tinha passado. Conversei com outras mães e vi que não era a única. Principalmente, vi o quanto era importante expor a maternidade real e parar de romantizar esse período tão doloroso para a mãe.

Aprendi que o amor materno é construído. É dedicação, é rotina. Aprendi que o instinto não vai te fazer saber das coisas, ele pode te guiar, mas só a prática vai te fazer aprender. Aprendi, principalmente, que a paciência e o amor ajudam a superar todas as fases e que tudo passa”.

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