Se você não é uma exceção, provavelmente já se sentiu irritado e sem concentração depois de uma noite mal dormida. E se o sono tem tamanha importância na vida de um adulto, imagine, então, na de uma criança. “Na infância, fase em que o desenvolvimento neurológico é intenso, ele tem um papel fundamental no processo de aprendizagem, memorização e desenvolvimento do sistema imunológico“, explica Jéssica Africano, neurocientista e especialista em medicina do sono infantil e comportamento. É, também enquanto dorme, que o organismo dos pequenos libera o hormônio do crescimento (GH).
Além disso, dormir bem ou mal influencia diretamente no humor. “A privação de sono desregula as regiões do cérebro que controlam as emoções, com isso, o bebê e a criança podem ficar muito nervosos e sem capacidade de regular suas ações e emoções“, alerta Jéssica. Ela lembra que o mesmo acontece conosco, que somos adultos, mas temos mais maturidade para lidar com as situações.
Entre as principais consequências de uma noite de sono ruim, a especialista aponta:
- Irritabilidade: a criança se estressa por pouca coisa, não aceita fazer nada do que é proposto e tem as famosas “birras”.
- Crises de choro: o choro vem como uma forma de tentar manifestar e liberar o estresse que se acumulou pela privação de sono.
- Despertares noturnos: quanto mais cansada a criança fica, mais dificuldade tem para relaxar e dormir. Ou seja, caso a situação não seja controlada o quanto antes, pode virar uma bola de neve.
Então, se os nervos andam à flor da pele por aí, vale observar como está o sono da família – inclusive dos filhos. O primeiro passo, segundo a especialista, é se atentar à rotina da casa para ver se algumas mudanças são necessárias.
Dormir mal não é “normal”
Jéssica Africano reforça que não se pode normalizar o hábito de dormir mal, e que grande parte das questões daí decorrentes vem de costumes pouco saudáveis. “Mais de 90% dos problemas de sono na infância acontecem por causa da rotina e dos hábitos de sono”, destaca.
O uso de telas durante a noite, ir para a cama muito tarde, não ter uma rotina para ir “baixando a energia” perto da hora de dormir são alguns exemplos de hábitos que prejudicam bastante.
Então, antes de investigar se a questão está relacionada a algum distúrbio – o que também é possível – é importante organizar o dia a dia. “Apenas após a família realizar todos os ajustes necessários pelo tempo correto é que se pode pensar em algum distúrbio do sono. Essa informação é importante, porque cada vez mais crianças vêm sendo medicadas sem necessidade e isso, além de não resolver o problema, traz inúmeras consequências a médio e longo prazo”, reforça a especialista.
Como saber se a criança está dormindo mal?
Segundo Jéssica, é importante que os pais entendam o potencial que o bebê tem para dormir de acordo com a faixa etária. “Por exemplo, aos 4 meses, ele já consegue dormir cerca de 6 horas seguidas, solicitando de uma a duas mamadas noturnas. Aos 6 meses, esse tempo de sono contínuo aumenta para cerca de 8 horas, com 1 mamada noturna. Aos 9 meses, tem potencial para dormir cerca de 11 horas seguidas sem mamar, desde que o peso e o desenvolvimento estejam adequados para a faixa etária”, ilustra. Além disso, “se o sono é fragmentado, podemos afirmar que a qualidade dele é afetada”, finaliza a neurocientista.