Se você é mãe, pai ou outro responsável por uma criança em idade escolar diagnosticada dentro do Transtorno do Espectro Autista, talvez já tenha se visto na difícil situação de precisar defender a permanência dela em um colégio. Apesar de ser extremamente importante – vale lembrar que, de acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a recusa de matricular um aluno autista é crime – esse não é o único obstáculo a ser enfrentado.
Além de receber crianças neurodiversas, é preciso que as escolas as incluam nas atividades e na dinâmica com os colegas e professores. “Incluir não significa apenas aceitar a diversidade. A idéia de inclusão vai além disso e tem como princípios uma educação pela não discriminação, oferecendo igualdade de oportunidades para pessoas diversas, com capacidades, jeitos, condições e outras diferenças”, explica a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto.
Segundo a especialista, a verdadeira aceitação passa, também, pela quebra do capacitismo. “A criança autista não é um ser especial, um anjo azul, mas também não é um problema e nem precisa de uma cura. O autismo deve ser tratado com naturalidade e sem romantização”, alerta.
O que vemos comumente, porém, são espaços que apenas “toleram” a presença de crianças no espectro autista, sem promover integração e sem estimular um relacionamento saudável entre os alunos. “Muitas vezes, justificam bullyings e preconceitos como consequência do comportamento neurodiverso, colocando a vítima como culpada”, aponta Bárbara.
Mas como promover a inclusão?
Primeiro, é importante ter em mente que é papel do colégio atuar de forma propositiva na integração das crianças. Pensando nisso, vale orientar os colegas da turma sobre o transtorno do aluno, levantando dificuldades e potenciais que ele tem. Lembre-se de que precisamos conhecer as condições para saber como vamos lidar com elas.
“A informação é a principal aliada da inclusão verdadeira. Quando chega uma criança com deficiência ou transtorno, a escola deve promover um processo de conscientização de acordo com entendimento cognitivo da turma e com foco no potencial, em como os colegas podem dar apoio e ajudar”, orienta a neuropsicóloga.
Segundo ela, essas ações também diminuem o processo de bullying, que é muito comum, já que crianças que aprendem sobre respeito ao próximo e sobre integração social se tornam pessoas mais gentis e com desenvolvimento socioemocional para a vida.
Como lidar com as dúvidas dos colegas
Em casa, os pais também podem contribuir para a compreensão dos pequenos sobre os colegas neurodiversos. É importante ter cuidado para não cair no capacitismo e nas generalizações – dizendo, por exemplo, que “o amiguinho não gosta de contato visual” ou que “ele não gosta de se comunicar”. Como explica Bárbara, no caso do autismo, há diferentes tipos de comportamento. “Nem todo autista não consegue fazer contato visual, nem todo autista tem dificuldade na comunicação, nem todo autista se incomoda com barulho. O mais importante é explicar que todos somos diferentes e que podemos nos apoiar nessas diferenças”, ressalta.
Isso tudo não quer dizer que a criança – curiosa por natureza – vai deixar de fazer as perguntas que lhe vierem à cabeça. Nessas situações, é fundamental acolher as dúvidas e explicar, sem romantizar, mas também sem deixar que os assuntos se tornem tabus. “Crianças não sabem de tudo, assim como adultos também não. Quando há dúvidas, precisamos pesquisar, estudar, questionar”, aponta a especialista.
É possível adequar o ambiente
Bárbara lembra que a criança autista, assim como todas que vão à escola, deve aprender, desenvolver-se, brincar e ser inserida em sala de aula. Para isso, é necessário ter um planejamento pedagógico adequado, que considere suas dificuldades, habilidades e necessidades, com conteúdo inclusivo.
“Mas um detalhe importante: não deve existir diferenciação entre os conteúdos, pois isso atrapalha a interação com as outras crianças e prejudica a motivação do aluno com autismo para a aprendizagem, além de promover o capacitismo”, alerta a neuropsicóloga. O que pode existir são adaptações na forma como o conteúdo será apresentado e trabalhado por cada aluno.
Outro ponto que favorece os pequenos neurodiversos é a rotina previsível, já que a repetição de processos é muito benéfica para eles, diminuindo a ansiedade. Além disso, os profissionais da educação devem observar a quais estímulos a criança responde melhor e de que forma ela interage mais com a turma, promovendo um ambiente favorável a ela.
Auxílios necessários
Por fim, vale lembrar que a escola é obrigada por Lei a oferecer suporte para toda e qualquer adaptação necessária ao aluno. “Infelizmente, a escola fica com olhar na parte pedagógica, mas alguns alunos precisarão de suporte para a parte de socialização e comunicação. Outros alunos precisarão de um apoio maior com adaptação curricular e de rotina diferenciada no ambiente escolar. É só com a presença de um mediador escolar exclusivo que o direito à educação dos pacientes mais graves será mantido”, finaliza Bárbara.