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Caso Boca Rosa: por que você não deve revelar a gravidez de outra mulher

Durante a gestação, mulheres vivem uma grande vulnerabilidade emocional que pode ser potencializada com pessoas passando por cima de suas decisões.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 2 set 2021, 14h48 - Publicado em 2 set 2021, 14h43
Bianca-Andrade-Fred-e-o-filho-Cris
 (Fotógrafa: @kamilastrada/Instagram)
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“O combinado social é de que as pessoas precisam respeitar a intimidade e o espaço alheio e com a gestante não é diferente”. Essa é uma das explicações da psicóloga clínica, Andrea Lunardelli Valente, do Serviço de Apoio Psicopedagógico (SEAP) da PUCPR, sobre a necessidade da sociedade entender que o corpo da gestante e a gravidez em si não são propriedades públicas em que se pode atropelar as decisões da mãe e revelá-las sem o seu consentimento.

Um exemplo de que ainda estamos dando os primeiros passos nesta discussão foi trazido no dia 1 de setembro, quando a influencer Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa, publicou o primeiro episódio do seu documentário chamado “Mãe #NAREAL”, no Instagram. Logo no início do programa, a maquiadora desabafa sobre a notícia da sua gravidez ter vazado sem que ela permitisse e a dor de não ter podido escolher quando familiares, amigos e até mesmo seus seguidores saberiam da novidade.

“Em uma semana eu descobri, na outra vazou e foi aquele caos. Eu falei que não queria me estender muito sobre o assunto, mas também é muito importante falar sobre isso. É um absurdo e me dá até um pouco de raiva. Deveria ser crime, porque é a vida de um bebê que está em risco”, relatou a influenciadora no vídeo.

E se a maquiadora sente-se assim agora, em que já deu à luz e está vivendo as adaptações da chegada do pequeno Cris, a tendência é que a situação tenha sido ainda mais desafiadora durante a gravidez, já que as oscilações hormonais combinadas às circunstâncias externas delicadas colocam a gestante em um lugar de maior vulnerabilidade emocional.

“O período de gestação, parto, puerpério ou mesmo a perda gestacional, é um momento que merece atenção e cuidado de toda a sociedade. Assim como a menarca (primeira menstruação) e a menopausa, a gestação é um momento de grande vulnerabilidade psíquica da mulher. Sendo uma fase com grande potencial de desenvolver transtornos mentais como a depressão, crises de ansiedade e até mesmo uma psicose”, defende a psicóloga Aline Hessel, da clínica de saúde da mulher gestante, Theia.

O medo de perder o bebê 

No relato, Bianca lembra do risco elevado da perda gestacional durante os três primeiros meses de gravidez – inclusive, muitos médicos recomendam que a grávida e o parceiro (ou parceira) aguardem este intervalo de tempo para contar a novidade para a família.

“Quando a mulher está nessa fase do início, além de ser o momento dela e que ela deveria ter o direito de contar, é a vida do bebê que está risco, porque muitas mulheres sofrem perda gestacional nesse período e uma das maiores causas é o psicológico”, desabafou a ex-BBB. Ela ainda pediu para que o público não consuma esse tipo de conteúdo, porque não é notícia, mas algo que está colocando em risco tanto a saúde física e psicológica da gestante quanto do pequeno que está a caminho.

Andrea reforça que até a 12ª semana de gestação é realmente comum que aconteça uma perda gestacional, E, caso esta notícia da gravidez já esteja espalhada e sendo festejada, entra-se em um impasse ao precisar falar sobre a gestação interrompida. “É possível que essa mulher fique constrangida por se sentir obrigada a explicar quando as pessoas perguntarem e isso vai reavivando o sentimento de frustração, de perda e até mesmo fracasso. E isso faz com que a mulher possa demorar mais para se recuperar desse luto”, pontua a psicóloga. Aline ainda completa que o mesmo processo delicado de viver a perda também é sentido pelo pai do bebê.

Com tantas nuances psíquicas, Aline esclarece que saber da gestação, antes da própria grávida contar a novidade, exige muitas ponderações. “A pessoa deve saber que, apesar de já ter o conhecimento da gestação de sua amiga ou familiar, isso não lhe dá o direito de sair contando para outras pessoas (principalmente às próximas)”, pontua a psicóloga.

Então, o que fazer se souber que uma pessoa próxima engravidou?

No caso da ex-BBB, ela decidiu com o seu assessor de imprensa que, por ser uma figura pública, a melhor saída ali era emitir uma nota oficial sobre o assunto, divulgada no Instagram da influenciadora. O texto foi publicado na legenda de uma foto em que aparece ao lado do namorado Bruno Carneiro Nunes (popularmente conhecido como Fred, do programa “Desimpedidos”), pai de Cris.

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Ainda pela popularidade nas redes sociais, Bianca contou que diferentes pessoas entraram em contato com sua assessoria para saber sobre a gravidez e por isso teve que optar pela nota oficial.

Fora do mundo dos famosos, ao descobrir a gestação de uma amiga ou familiar próximo, o caminho recomendado por Aline não deve ser o de abordagem direta e sem permitir que a gestante conduza sua própria narrativa.

“Sendo esta pessoa alguém próxima ou familiar, ela saberá da história dessa gestação – se foi desejada, se há riscos ou não, ou seja, seu contexto -, e assim avaliar se sua aproximação e/ou felicitação será bem-vinda. Caso ela não saiba ponderar esses elementos, aguarde para desejar coisas boas no momento em que a própria gestante se posicionar”, orienta a psicóloga da clínica Theia.

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O mesmo é lembrado por Andrea, com o alerta de que é preciso observar a grávida e o quão confortável ela está dentro da situação para que se pense em falar ou fazer algo. “Podemos estar próximos, mas falar sobre determinados assuntos e fazer perguntas dependem da intimidade que se tem com essa pessoa e da abertura que ela dá e se mostra disponível naquele momento. É preciso que nós possamos sentir o outro”, pondera a psicóloga clínica.

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