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Cama compartilhada: especialistas falam sobre prós e contras

Ela é segura para o bebê? Causa dependência emocional? Quais são os benefícios? Veja o que deve ser levado em consideração antes de tomar essa decisão.

Por Luísa Massa
Atualizado em 31 ago 2017, 15h30 - Publicado em 30 ago 2017, 20h58
 (Alexeyrumyantsev/Thinkstock/Getty Images)
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Não tem jeito: o sono das crianças é um dos assuntos que mais gera questionamentos nos pais. E as perguntas aparecem logo após o nascimento do filhote, quando chega o momento de levá-lo para casa, junto com a seguinte dúvida: ‘onde colocá-lo para dormir?’. Um estudo da Universidade de Penn State, nos Estados Unidos, publicado na revista Pediatrics, mostrou que os pequenos devem adormecer no quarto dos pais até os seis meses de vida.

“A recomendação da Associação Americana de Pediatria (AAP) é baseada para facilitar a amamentação durante a noite e garantir maior vigilância dos pais com o bebê. Entretanto, se ele for monitorado por uma babá eletrônica, pode ficar no berço em outro dormitório sem maiores riscos”, pontua Clery Gallacci, neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, de São Paulo. A especialista ainda reforça a importância de garantir um ambiente seguro: sem pelúcias, brinquedos, travesseiros e protetores de berço altos e largos.

Diante desse cenário, surge a polêmica da cama compartilhada. Afinal, ela é ou não recomendada? A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) contraindica a prática porque argumenta que ela apresenta mais perigos do que benefícios. “Os pais podem dormir profundamente e causar algum tipo de acidente com a criança como, por exemplo, o sufocamento. Também existe o aspecto do desenvolvimento de uma dependência do filho em sempre dormir com alguma pessoa ao seu lado”, acrescenta a médica.

Apesar disso, há, sim, profissionais que defendem o método. O pediatra catalão Carlos González acredita que, se medidas de segurança forem tomadas, os baixinhos podem dormir com os pais. No livro Bésame Mucho, ele apresenta algumas possibilidades para que isso seja feito – como juntar o berço com a cama de casal se a altura dos colchões for a mesma ou colocar uma cama de solteiro grudada a dos cuidadores. “Uma solução é colocar o bebê no bercinho e passá-lo para a cama grande para que ele mame quando acordar”, também destaca a obra.

Assim como ele, o antropólogo James McKenna, da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, também acredita nas vantagens da cama compartilhada. “Ele defende um novo conceito chamado de breastsleeping – palavra em inglês que une amamentação e sono – e que vem sendo divulgado em estudos científicos. O pesquisador afirma que a técnica contribui para que o pequeno se sinta mais seguro, mas há necessidade de tomar algumas precauções para evitar acidentes”, afirma Lilian Zolet, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental e autora do livro Síndrome do Imperador – Entendendo a Mente das Crianças Mandonas e Autoritárias.

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Lado psicológico

Os pais que fazem essa escolha levam em consideração, principalmente, os princípios da criação com apego. Estando perto do filho em todos os momentos, eles acreditam que podem fortalecer a relação familiar, proporcionando um ambiente seguro afetivamente para que ele cresça e se desenvolva bem. Entretanto, nem sempre esse argumento é aceito pelos especialistas que, muitas vezes, defendem que outras atitudes também desempenham o mesmo impacto positivo.

“O vínculo entre a mãe e o bebê é reforçado a todo momento, como durante a amamentação. Se ele acordar no meio da noite, deve-se verificar se está tudo bem, checar seu estado de saúde ou se tem fome. Não é recomendado levá-lo para a cama dos pais”, ressalta a neonatologista da Maternidade Santa Joana. A psicóloga de Foz do Iguaçu acrescenta: “Não adianta compartilhar a cama com o pequeno se as atitudes da mãe e do pai são de ansiedade, irritação e raiva. O mais importante é ter em mente que o vínculo é construído a partir da interação entre eles e a criança. Isso não está associado exclusivamente com dormir junto”.

Um fator que deve ser analisado antes da decisão final é a dinâmica em que o casal vive e qual impacto a mudança trará para a rotina da família. Nesse momento, o diálogo entre marido e mulher é essencial para chegar a uma solução que agrade ambos. “Para manter harmonia no relacionamento, é necessário ter momentos de intimidade, um tempo para namorar e descansar. Se esse assunto não for bem trabalhado, as brigas e o afastamento – tanto físico quanto emocional – podem prevalecer”, pondera Lilian.

Outra questão que costuma gerar dúvidas é se o hábito causa uma dependência emocional na criança, que ficará condicionada a adormecer somente com a presença de uma companhia. Para a psicóloga especializada em terapia cognitivo-comportamental, isso realmente pode ocorrer: “Se os pais não fizerem o movimento de ensiná-la a dormir sozinha, a insegurança, a ansiedade e o medo se instalam no psique dela. Isso pode ocasionar alguns pensamentos disfuncionais como: ‘eu não sou capaz de fazer nada sozinha’; ‘só estarei seguro na presença dos meus pais’, ‘tenho medo de que eles me abandonem’“.

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Consequências

E a cama compartilhada pode fazer com que o pequeno tenha mais dificuldade para dormir sozinho na hora em que for para o seu próprio dormitório? Alguns cuidadores afirmam que na prática isso não acontece, mas os profissionais acreditam que esse é mais um ponto negativo do método. “Durante o primeiro ano de vida, os pais devem desenvolver uma rotina para o filho, ficando sempre atentos às suas necessidades. Quando ele estiver chorando no berço, eles devem verificar se está tudo bem”, explica Clery.

Do ponto de vista psicológico, essa questão também pode afetar os baixinhos. “Quando o bebê é acostumado a dormir em seu berço, fica mais fácil aceitar um ambiente só dele. Esse processo é muito importante para a criança compreender a sua individualidade. Isso não quer dizer que os pais não vão estar por perto, pelo contrário: ela se sentirá segura e saberá que se precisar eles irão até ela, pois o amor está permeando todo o ambiente da casa”, completa a psicóloga.

 

 

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