O isolamento social necessário para conter a Covid-19 mudou a vida de todas as famílias, e na casa de Anilei Camargo Kurpel, de 25 anos, não foi diferente. Quer dizer, foi um pouco diferente, afinal, a moradora de Chopinzinho, cidade com pouco mais de 19 mil habitantes no Paraná, está vivendo esse momento conturbado com seus filhos quíntuplos, com dez meses de vida, e seu menino mais velho, Davi, de sete.
Em meio a uma rotina bem cheia de atividades, ela encontrou um tempinho para contar sua história ao Bebê.com.br, e dividiu conosco como foi seu emocionante (para dizer o mínimo) último ano, da descoberta da gravidez à pandemia.
Da suspeita de gravidez ectópica à notícia dos quíntuplos
“Quando conheci o Luis, meu marido, eu já tinha o Davi, meu primogênito. Decidimos morar juntos, e a convivência com meu filho despertou nele a vontade de ser pai. Iniciamos as tentativas e, poucos meses depois, comecei a passar mal, com muitas cólicas, fortes dores e a menstruação atrasada.
Fiz o teste de gravidez e deu positivo, ficamos muito felizes. Levei para o médico e, quando fiz o primeiro ultrassom, não apareceu nenhum bebê no útero. Os ovários estavam enormes e o médico viu bolinhas diagnosticadas como cistos.
A médica que me atendia disse que era normal ter sintomas de gravidez com os cistos, receitou remédio para as dores e pediu para eu fazer um acompanhamento semanal para descartar uma possível gravidez ectópica ou molar (dois problemas que exigem a interrupção precoce da gestação).
A partir daí, passei a realizar o exame de beta-hCG (hormônio dosado para detectar a gravidez) de dois em dois dias, os número sempre crescendo, mas os ultrassons ainda não mostravam bebês. A médica me encaminhou para um especialista, o Dr. Thiago, e disse que ele provavelmente já faria uma curetagem (procedimento que retira o feto em casos de aborto espontâneo).
Fiquei muito mal com a história, arrumei uma mochilinha para caso ficasse internada depois do procedimento. Pedia para Deus que fizesse o que fosse da vontade dele. Cheguei no consultório chorando, bem triste, mas ele me examinou e falou: ‘Olha, Ani, não tem como você não estar grávida. Com o beta-HCG tão alto, é isso ou câncer’.
Fizemos um novo ultrassom e vimos os cinco coraçõezinhos batendo. Fiquei paralisada. Nós estávamos a cada dia mais preocupados com a minha saúde, então foi uma emoção muito forte, que tomou conta de mim.
Quando o meu marido foi chamado na sala, o médico disse: ‘Pode entrar, papai’, e ele logo abriu um sorriso de felicidade. Eu já pedi para ele sentar enquanto o médico mostrava um coração, depois dois, três… No começo, ele falava: ‘Nossa, teremos gêmeos, trigêmeos!’ Depois já não falava mais nada, ficou mudo.
Eu estava com sete semanas de gestação quando tivemos a confirmação. Contamos para a família toda, mas demorou uns três dias para a nossa ficha cair. Nesse momento, bateu a preocupação, porque sabíamos que era uma gravidez de risco, fora a questão financeira, afinal, criar cinco bebês não seria nada fácil”.
Gravidez complicada e parto prematuro
“Fiz de tudo para empurrar a gestação o máximo de tempo possível, mas não foi nada fácil. Tive anemia, sentia muita falta de ar e dor nas costas, passava noites e noites sentada sem conseguir deitar.
Eu moro numa cidade pequena, onde não tinha hospital para acomodar eu mais cinco bebês. Então fomos transferidos para Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba. Ali também vivemos vários desafios, numa cidade grande sem conhecer ninguém. Foi um dos períodos mais difíceis. Ficávamos hospedados numa pousada de frente para o hospital, dormindo eu e meu marido cada um em um andar da beliche.
Com o tempo, meu filho Davi, que tinha ficado com a minha mãe veio também morar conosco, porque sentia nossa falta. Na 16ª semana, fiz uma cerclagem (intervenção que costura o colo do útero). Foi o que segurou os bebês, e na 28ª semana entrei em trabalho de parto.
Comecei a sentir fortes dores, fomos para o hospital e eu já estava com dilatação. No dia 02 de setembro de 2019, nasceram Antonella, Laura — a menorzinha, pesando 900g — Jhordan, Tiago e Luis Henrique. Praticamente todos estavam bem, na medida do possível para prematuros extremos, só a Antonella que teve paradas cardíacas, nasceu com pouco mais de um quilo e o pulmão muito pequenininho.
Ela precisou lutar muito pela vida, mas conseguiu se recuperar sem sequelas. Ao todo, eles ficaram três meses na UTI neonatal, para ganhar peso e terminar seu desenvolvimento até poderem ter alta.
Ficava o tempo todo que era permitido na UTI, e consegui amamentar até os seis meses e meio. Era uma loucura, o leite esgotava, no começo quase não tinha, empedrava, deu febre, mas insisti porque sabia a importância que teria para eles. Quando consegui pegá-los no colo pela primeira vez para dar o peito em si, mais de dois meses depois do parto, foi uma vitória enorme.
Eles ganharam alta em novembro e novos desafios começaram. Estávamos felizes, mas bateu uma insegurança, porque todos tinham menos de três quilos, eram muito pequenos. Voltamos para casa, e o Luis ficou comigo até janeiro antes de voltar a trabalhar.”
Como é passar por uma pandemia com quíntuplos
“Depois que o Luis retornou para o emprego, minha mãe vinha três vezes por semana me ajudar em casa, mas com a pandemia comecei a cuidar deles sozinha. Mudou tudo, meu filho mais velho passou a ficar dia todo em casa, perdemos nossa rede de apoio, e os bebês estavam no início da introdução alimentar, demandando cada vez mais energia. Foi um período em que nossa rotina ficou bastante acelerada.
O meu marido ficou só uma semana em casa, pois é vendedor, logo foi chamado de volta. Há dois meses, contratamos uma pessoa para ajudar na limpeza por meio período. Antes, dava conta sozinha, mas agora que eles começaram a engatinhar é difícil.
Sempre fui de deixar tudo bem organizado, às vezes vou até meia-noite se deixar, é algo que estou trabalhando em mim, pois a bagunça me desestabiliza, e preciso estar bem para que meus filhos estejam bem.
No meio disso tudo, temos as atividades do Davi para fazer todos os dias. Ele nunca teve tanta tarefa de casa assim. Essa parte é bem complicada, mas também tento não ficar cobrando ele muito para fazer as coisas da escola. Se para nós, adultos, está difícil, imagina para uma criança, que não entende direito o que está acontecendo?”
A rotina da casa
“Muitas mães perguntam como consigo, e faço isso com uma rotina bem regrada. Tenho hora para tudo: brincar, comer, tirar soneca, eles dormem cedo, nunca tive uma noite em claro com eles, o que também ajuda bastante. É uma maratona, eu termino de cuidar de um e começo outro, é como se eu estivesse cuidando de um bebê toda hora.
Às vezes parece que não vou dar conta, mas quando vejo o dia já passou. Só meu marido trabalha, e além disso eu tinha minha mãe para ajudar, então decidimos não ter babá, só mesmo uma pessoa para ajudar na limpeza. O Instagram acabou virando minha ferramenta de trabalho, tenho 282 mil seguidores que me acompanham, então consigo trazer uma renda para casa, mas não podemos sair da linha, porque nosso custo de vida subiu muito.
Para se ter ideia, chegamos a gastar mais de R$600 de água, afinal, preciso lavar roupa diariamente, às vezes trocamos 40 fraldas no mesmo dia, mas graças a Deus conseguimos nos virar.
É puxado, mas eu passaria por tudo isso de novo. É muito lindo ver eles crescendo, cada um com sua personalidade, brincando entre si. O Davi também me surpreendeu muito. Com a pandemia, ele ficou ainda mais próximo das crianças, brinca com eles, interage, cuida para mim, enquanto faço o almoço.
Costumo dizer que renasci quando meus filhos nasceram. Essa nova Ani é minha melhor versão, e ver os frutos desse processo se desenvolvendo compensa tudo. Quero que eles tenham um futuro maravilhoso, façam faculdade juntos, sejam parceiros, e não vejo a hora de ver a reação deles quando souberem essa história linda de superação e de luta que vivemos juntos”.