Aulas online, interação com os amigos apenas pelas telinhas, mais tempo em casa… Que a pandemia do novo coronavírus mudou a forma com que as crianças estão aprendendo e se relacionando já é um fato.
Um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (aliada à UNICEF, UNESCO, Secretaria-Geral de Violência contra Criança das Nações Unidas e Parceria Global pelo Fim da Violência) porém, alerta para outros impactos – estes ainda mais preocupantes – a respeito do período de isolamento social na vida dos pequenos. Por conta da quarentena, cerca de 1,5 bilhões de crianças ficaram longe das escolas.
Com o tempo de uso maior das telas, um dos achados foi o aumento de atos de violência no meio virtual junto com o temor de muitas crianças sobre a hora de voltar para o ambiente presencial. “Durante a pandemia da Covid-19, e com o consequente fechamento das escolas, nós observamos um aumento em manifestações de violência e ódio online – e isto inclui o bullying. Agora, com as escolas começando a reabrir, as crianças estão expressando medo em retornar às aulas”, relatou Audrey Azoulay, Diretor-Geral da UNESCO. Além do já citado cyberbullying, foi avaliado também o aumento do comportamentos de risco online e de exploração sexual através das redes.
Segundo o “Relatório de Status Global na Prevenção de Violência Contra Crianças”, as medidas de isolamento social restringiram as fontes de auxílio que as famílias e as crianças podiam recorrer antes, como amigos, rede de apoio e profissionais. Isso acaba prejudicando ainda mais a capacidade das vítimas em lidarem de forma bem-sucedida com a crise e com a nova rotina em casa.
“Enquanto este relatório estava sendo finalizado, as medidas de confinamento e a interrupção da promoção dos serviços já limitados de proteção à criança exacerbaram a vulnerabilidade delas às mais variadas formas de violência”, disse Najat Maalla M’jid, Representante Especial da Secretaria-Geral de Violência contra Criança das Nações Unidas.
Os porta-vozes reafirmaram a importância de que os governos, sociedade civil e setor privado se articulem de maneira conjunta para assegurar a devida proteção aos menores, sempre ouvindo-os na hora de tomar decisões. “É nossa responsabilidade coletiva garantir que as escolas sejam um ambiente seguro para todas as crianças. Precisamos pensar e agir coletivamente para acabar com a violência na escola e em toda a nossa sociedade”, pontuou Audrey.
Quando a casa não é um ambiente seguro…
Para os pequenos ameaçados em seu próprio lar, o isolamento social trouxe uma dose extra de problemas. “A violência contra as crianças sempre ocorreu, e agora as coisas podem estar ficando ainda piores”, disse Henrietta Fore, Diretora Executiva da UNICEF.
“Lockdowns, fechamento de escolas e movimentos de restrição deixaram muitas crianças presas com seus abusadores, sem o espaço seguro que a escola costumava oferecer”, completou ela. Notando esta tendência, a Unicef chegou a publicar em maio um manual com recomendações de como proteger os pequenos em lares abusivos.
O balanço das organizações ainda constatou que metade das crianças do mundo, aproximadamente um bilhão, são afetadas todos os anos pela violência física, sexual ou psicológica, o que mostra a falha dos países em seguir as estratégias de combate e prevenção.
Dentre elas, um conjunto de sete diretrizes principais são reunidas em um plano que recebe o nome de “INSPIRE”, cujas medidas, segundo a publicação, apresentou progresso em 155 países que o implementaram. No entanto, enquanto 88% das nações já possuem leis fundamentais para proteger as crianças contra a violência, menos da metade dos países (47%) afirmaram que elas estão sendo rigorosamente aplicadas.
“Das estratégias do INSPIRE, a matrícula em escolas foi a que mais progrediu, com 54% dos países reportando que um número considerável de crianças está sendo atendido neste sentido. Entre 32% e 37% dos países consideraram que as vítimas de violência possuem acesso aos serviços de auxílio, enquanto que 26% deles providenciaram programas de ajuda aos pais e cuidadores”, diz o documento.
Apesar da maioria dos países terem acesso aos dados de violência contra a criança, somente 21% os usam para traçar referências e metas nacionais de como prevenir e responder a este tipo de violência.