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O que o cocô tem a ver com o cérebro do bebê? Tudo!

Novo estudo é o primeiro a investigar em detalhes a influência das bactérias do intestino na formação da mente da criança.

Por Chloé Pinheiro
14 ago 2017, 21h08

Que o cocô diz muito sobre a saúde do sistema digestivo do bebê todo mundo sabe. O que um novo estudo mostrou é que ele também está relacionado com o desenvolvimento cerebral logo no começo da vida. Sim!

Publicado recentemente pela Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, o trabalho primeiro analisou o conteúdo das fezes de 89 bebês de um ano de idade considerados saudáveis. Depois, os pequenos foram separados em três grupos, de acordo com o perfil das bactérias recolhidas nas amostras de cada um.

Quando eles completaram dois anos, os pesquisadores realizaram uma série de testes que avaliaram percepção, coordenação motora, capacidade de aprendizado e desenvolvimento de linguagem. E descobriram que o grupo que tinha mais bactérias do gênero bacteroides em seu cocô se saiu melhor do que os outros dois times.

Entre essas tais bacteroides estão alguns dos tipos de micro-organismo que devem predominar em uma microbiota intestinal saudável, junto com as bifidobactérias e os lactobacilos. Essa colônia, que compõe a maior parte do cocô, atua em diversos processos do corpo – do sistema imunológico à absorção de nutrientes.

“A relação com o cérebro ainda está sendo estudada, mas os estudos já começam a mostrar que uma microbiota desequilibrada ou com micro-organismos nocivos no início da vida pode levar o cérebro a ter padrões de desenvolvimento diferentes”, explica Kátia Brandt, gastropediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

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De acordo com a especialista, a microbiota produz tantas substâncias e desempenha tantas funções que deveria ser tratada como um órgão do corpo. No caso do sistema nervoso central, a influência ocorreria não só porque a microbiota se comunica com os neurônios presentes nas paredes do intestino, mas também porque as próprias bactérias produzem neurotransmissores importantes, como a serotonina.

“Algumas pesquisas com animais já demonstraram, por exemplo, que há relação com o desenvolvimento de autismo. E outros estudos apontam uma ligação com desordens neurológicas e psiquiátricas na vida adulta”, completa a médica.

Para manter o intestino em dia

O primeiro ano pós-nascimento é fundamental para o desenvolvimento de uma microbiota saudável. Ainda no útero, o bebê começa a adquirir as bactérias que colonizarão seu intestino, processo que se intensifica no parto e depois dele, com a alimentação.

“As bactérias que chegam primeiro vão adaptar o ambiente para que ele que fique favorável a elas e dificulte a sobrevivência de outras, por isso, por volta dos dois ou três anos, o perfil da microbiota se estabiliza de maneira que ainda não sabemos como mudá-lo”, explica a médica.

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Ou seja, se bactérias indesejadas se apropriam do intestino do bebê, ele as terá como companheiras pelo resto da vida. Daí aumentam o risco de problemas imunológicos, gastrointestinais e, agora se sabe, até neurológicos. Na lista de fatores que abrem caminho para uma má colonização estão uma alimentação pobre em nutrientes, excesso de comidas ricas em gordura e açúcar e uso indiscriminado de antibióticos.

Para garantir que tudo ocorra bem com o seu filho, a dica é apostar no leite materno, que alimenta a colônia dos lactobacilos, e em uma dieta cheia de frutas, legumes e verduras, que fornecem o combustível para que as bactérias façam seu trabalho.

Além disso, deve haver um equilíbrio entre excesso de higiene e de sujeira. O ambiente que a criança vive não pode ser contaminado demais, nem de menos. O contato com animais, com os pais e com a natureza, por exemplo, ajuda a enriquecer a microbiota.

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