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Autismo: pesquisa aponta que crianças com o transtorno têm mais risco de problemas gastrointestinais

Estudo americano constatou que autistas sofrem mais com diarreia, prisão de ventre, alergia e intolerância alimentar nos três primeiros anos de vida em comparação aos pequenos que não apresentam o distúrbio.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 22 out 2016, 20h58 - Publicado em 2 abr 2015, 13h29

A associação entre autismo e disfunções gastrointestinais não é novidade para especialistas que estudam o transtorno. No entanto, dados como a prevalência desses problemas em crianças autistas, a idade em que esses sintomas costumam aparecer e a incidência em relação a grupos que não apresentam o distúrbio ainda não eram conhecidos. Mas um recente estudo da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, publicado em março de 2015 no respeitado periódico JAMA Psychiatry, trouxe algumas respostas para estas importantes questões.

Os cientistas se debruçaram sobre um levantamento feito na Noruega entre os anos de 1999 e 2008, com mais de 95 mil mães, 75 mil pais e 114 mil crianças. Para fazer a investigação, os pesquisadores selecionaram os pequenos com idade entre 6 meses e 3 anos e os separaram em três grupos: o primeiro contava com 195 crianças autistas; o segundo era formado por 4 636 voluntários mirins que tinham algum tipo de retardo no desenvolvimento motor ou da fala; e o terceiro time era constituído por nada menos do que 40 295 meninos e meninas que cresciam de forma considerada normal.

Após avaliar questionários respondidos pelas mães, os especialistas constataram que, em comparação às crianças que não apresentavam nenhum tipo de autismo, os pequenos que sofriam com o transtorno tinham um risco 2,5 vezes maior de apresentar problemas como diarreia, constipação e intolerância ou alergia alimentar.

Analisando os resultados de forma mais profunda, os cientistas obtiveram outras descobertas curiosas: nos pequenos com idade entre 6 e 18 meses e que tinham algum tipo de autismo, o risco de prisão de ventre era três vezes maior e o de intolerância ou alergia alimentar, duas vezes mais alto. Já aqueles que estavam na faixa etária entre 18 e 36 meses eram duas vezes mais propensos a ter diarreia e, também, alergias e intolerâncias. O trabalho mostrou, ainda, que a probabilidade desses problemas persistirem por mais tempo entre os pequenos com o transtorno era maior.

Avanço

A ciência ainda não sabe ao certo quais os mecanismos envolvidos na relação entre o autismo e incômodos como diarreia ou alergia alimentar. Mas para os pesquisadores da Universidade Columbia, esse estudo representa um grande passo. “A presença de sintomas gastrointestinais no começo da vida não só ajuda a identificar um grupo de crianças que precisa de tratamento para esses problemas, como também abre novas possibilidades para determinar a natureza do autismo nesses indivíduos”, analisa Mady Hornig, uma das autoras da pesquisa.

Ponto de atenção

Fique calma: o fato de o seu filho apresentar diarreia, prisão de ventre, intolerância ou alergia alimentar não significa que ele é ou será autista. “A grande maioria das crianças com esses sintomas não vai desenvolver autismo, assim como nem todos os indivíduos autistas tiveram distúrbios gastrointestinais na infância”, pondera Michaeline Bresnahan, líder do estudo.

Mas, no caso de bebês com suspeita do distúrbio, é importante ficar atenta a esses sinais. Para os responsáveis pela pesquisa, considerando que crianças autistas têm um desenvolvimento com mais complicações, o risco de não diagnosticar e, consequentemente, não tratar problemas gastrointestinais é maior. E, segundo o estudo americano, o tratamento dessas disfunções pode contribuir de maneira significativa para o bem-estar dos pequenos com autismo e, provavelmente, melhorar certos aspectos comportamentais.

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