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Por que é importante deixar as crianças se sujarem

Explorar o mundo é essencial para o desenvolvimento infantil. Saiba como incentivar seu filho a colocar a mão na massa!

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 10 mar 2017, 12h47 - Publicado em 17 jan 2017, 20h37

Chegar ao final do dia com a roupa repleta de marcas de tinta, o tênis cheio de areia, os cantos das unhas grudados com massinha, o cabelo molhado de chuva… Se isso tudo parece apenas um cenário de sujeira e mais trabalho para você, saiba que esses são sinais de que o seu filho está aprendendo a explorar o mundo. E, sim, é um processo que, de vez em quando, envolve roupas estragadas e sapatos inutilizados, mas é também algo muito importante para o desenvolvimento infantil.

A grande questão, porém, é que com as mudanças na estrutura familiar, bem como a chegada das novas tecnologias, esse brincar que suja e que demanda uma vivência fora de casa parece estar cada vez menos presente na vida das crianças. “A participação da mulher na economia e o fato de ocupar cada vez mais o mercado de trabalho acabou por tirar de cena o padrão da mãe em tempo integral, cujo único objetivo da vida era cuidar da casa e dos filhos. Além disso, como efeito colateral, a relação de proximidade e intimidade entre vizinhos já não encontra tanto espaço para florescer. Ao mesmo tempo, a tecnologia trouxe atrativos que acabam por gerar uma falsa sensação de segurança para os pais, cujos horários de trabalho também já não seguem um padrão como havia nas gerações anteriores”, explica a especialista em aprendizagem Roberta Bento.

Ou seja, diante desse quadro – que se completa ainda com as frequentes notícias de violência urbana, que mostram o quanto o mundo “lá fora” pode ser assustador – cada vez mais ficar somente dentro de casa passa a ser o novo normal. “Os pais ficam mais tranquilos e, com o apelo da tecnologia que prende tanto a atenção de crianças e adolescentes, os filhos nem sequer resistem e muitas vezes crescem sem saber quanta diversão e quanto aprendizado perderam ao não explorar a grama, a areia, a chuva, entre outros”, diz a especialista.

Mas, então, se o cotidiano do mundo moderno e o contexto em que vivemos atualmente parecem mesmo dificultar atividades que ajudam no desenvolvimento dos pequenos e que demandam tempo e paciência dos pais, o que fazer? Um bom começo é compreender o quanto é importante que as crianças explorem materiais, formas, texturas… Principalmente quando isso é feito com elementos da natureza. O que não quer dizer que os aparatos tecnológicos façam mal – o importante, aqui, é encontrar um equilíbrio. “A tecnologia nos trouxe uma infinidade de possibilidades. Porém, o resultado final só é positivo se ela entra para acrescentar e não para substituir a brincadeira, o concreto, a mão na massa, o pincel na tinta e no papel, os pés na terra e na água e as infinitas possibilidades e descobertas que uma criança pode explorar ao longo de sua infância”, lembra Roberta.

Como é cada vez mais difícil que essas atividades aconteçam de forma espontânea, é fundamental incentivá-las – aproveitar férias ou fins de semana para levar os pequenos para brincar ao ar livre, na praça ou no parque, e encorajá-los a se divertir sem se preocupar. Deixar que explorem frutas sozinhos, se lambuzando sem medo. Em casa, separar um cantinho para artes, com materiais e roupas que possam ser manchadas sem problemas. No fim da atividade, sua criança pode ainda desenvolver habilidades relacionadas à organização, como explica a especialista em aprendizagem: “Eis uma excelente oportunidade para ensinar a responsabilidade de limpar e organizar. Desde muito pequenas, as crianças são capazes de ajudar a colocar em ordem aquilo que usaram para se divertir. Esse processo enriquece a memória, que será fundamental mais tarde para que o aprendizado formal corra de forma tranquila. Além disso, é nesses momentos que os pais ajudam no desenvolvimento de habilidades como: senso de responsabilidade, paciência e capacidade de foco e concentração.”

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Por fim, vale lembrar que a escola também tem um papel fundamental nesse processo – então, na escolha do colégio, é sempre bom perguntar aos profissionais como eles incentivam essas atividades. “O cérebro das crianças funciona como uma esponja durante a primeira infância. São milhares de conexões se formando e de memórias sendo formadas para depois serem usadas como combustível no momento da aprendizagem formal, na escola. Quanto mais a criança experimenta, explora, erra, tenta novamente e encontra o caminho, mais enriquece seu almoxarifado de recursos para enfrentar o mundo no futuro”, finaliza Roberta.

Consultoria: Roberta Bento, especialista em aprendizagem baseada no funcionamento do cérebro pela Universidade da Califórnia e Duke University; e em aprendizagem cooperativa pelas Universidades de Minnesota e de San Diego. Desenvolvedora do projeto Socorro, meu filho não estuda, junto de Taís Bento.

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