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Como estimular o desenvolvimento de crianças com Síndrome de Down

Intervenções precoces e terapias alternativas dão qualidade de vida a quem tem a trissomia.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 26 out 2023, 09h33 - Publicado em 21 mar 2018, 15h58
Como estimular o desenvolvimento de crianças com Síndrome de Down
 (EVAfotografie/Thinkstock/Getty Images)
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O Down é considerado raro, mas é também a síndrome genética mais comum do país. Estima-se que sejam cerca de 270 mil pessoas com a condição no país, que causa uma alteração em um dos cromossomos do nosso código genético. Esse grupo precisa de cuidados especiais, sim, mas podem viver longas e saudáveis vidas, como todas as outras.

“O quanto eles irão exercer de seu potencial depende dos estímulos que recebem desde cedo”, explica Iveli Falcone de Lourenço, pediatra da APAE de São Paulo, entidade referência no assunto. A ideia é ir, aos poucos, inserindo a criança progressivamente no meio social para que, no futuro, ela seja um adulto independente.

Veja a seguir quais são as especialidades e terapias que colaboram nesse cenário!

O papel da fonoaudiologia e a linguagem

Logo no começo, a fono ensina os bebês que têm dificuldade de sucção a amamentar, hábito que deve ser estimulado, pois os pequenos com a síndrome se beneficiam muito do leite materno. “Ele ajuda a aumentar o quociente intelectual, indicador do desenvolvimento da inteligência da criança, além de fortalecer o sistema imune e prevenir doenças”, explica Iveli.

Depois, a fonoaudiologia continua presente, acompanhando o desenvolvimento da linguagem por meio de consultas periódicas e exercícios para serem feitos em casa, como massagens que estimulam o posicionamento correto da região da boca – em algumas crianças com a síndrome, a falta de tônus muscular pode deixar a língua para fora, o que pode prejudicar a dicção depois e a alimentação.

Vale destacar que a fala aparece mesmo pelos 4 anos de vida anos de vida, embora algumas comecem a balbuciar palavras antes disso, aos 2.

Para fortalecer os músculos

Crianças com Down tem hipotonia, condição que provoca uma espécie de relaxamento da musculatura, e pode dificultar não só a sucção e os movimentos da boca, como falamos acima, mas também a sustentação de cabeça e pescoço e os outros músculos do corpo. É aí que entra a fisioterapia.

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O primeiro objetivo dessa terapia é ensinar a criança a se sustentar, sentar e andar. E, depois, continua-se trabalhando na movimentação. Como lição de casa, a mãe recebe exercícios para fazer durante qualquer tempinho livre, como a troca de fraldas. “Os pais devem sempre fazer o exercício de maneira lúdica, aproveitando as oportunidades certas para que a criança leve tudo na brincadeira”,  explica Parizete Freire, psicóloga do serviço de Estimulação e Habilitação da APAE de São Paulo.

Para os baixinhos que têm dificuldade com a fisio — ela pode ser um desafio com a seriedade do tablado e a presença dos profissionais de saúde — há alternativas como as sessões na água. A APAE oferece o aquaestímulo, feito na piscina, que relaxa e diverte a criança. A água também é um ótimo ambiente para seguir fortalecendo os músculos depois, com a prática de natação.

Para refinar a coordenação

“Pegar um brinquedo ou outro objeto pode ser difícil dependendo do grau de hipotonia, então desde cedo começamos a treinar essas habilidades de maneira lúdica: a criança explora o brinquedo enquanto fortalece a musculatura e a coordenação motora”, explica Parizete.

A fisioterapia auxilia no fortalecimento da musculatura e trabalha na locomoção da criança e em movimentos mais amplos como mexer pernas e braços e bater palmas. Já a terapia ocupacional (conhecida como T.O.) complementa esse trabalho estimulando na chamada coordenação fina: segurar talheres, pegar canudos e por aí vai.

Por volta dos dois anos, a criança começa a treinar como fechar o zíper, segurar um lápis e riscar o papel. A T.O. atua nessa parte, sempre de maneira lúdica, com experiências sensoriais e objetos do dia a dia, adaptados conforme a realidade de cada família.

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Suando a camisa

Os esportes também são bem-vindos para os mais velhos, mas, como pode haver a fragilidade de sustentação de algumas regiões do corpo, o ideal é passar por uma avaliação de um ortopedista antes de iniciar a prática. “Elas precisam de atividade física porque estão mais propensas a terem obesidade, e podem optar por modalidades de baixo impacto como a própria natação, além de coletivos como o vôlei e brincadeiras de quadra”, orienta Anderson Nitsche, neurologista pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.

As atividades que envolvem outras crianças ajudam na socialização, outra coisa importantíssima na vida delas.

Conviver em grupo

“O convívio social melhora o comportamento e treina a criança para aprender a lidar com outras pessoas e serem, no futuro, adultos bem preparados”, destaca Nitsche. “As atividades em grupo desenvolvem ainda habilidades sociais, que são coisas simples mas que refletem muito positivamente na criança, como dar bom dia e boa noite”, complementa o neurologista.

O problema é que, ao receber o diagnóstico, alguns pais podem fazer o oposto, e afastar o filho da vida pública por medo de que ele sofra com preconceitos e estigmas – que infelizmente ainda são associados, vale dizer, a várias outras síndromes e condições de saúde. “A família deve seguir frequentando os mesmos lugares, falando sobre os problemas e a criação do filho”, ensina Nitsche. 

Uma das maneiras de incentivar a comunicação da criança com Down é com a afetoterapia, linha de trabalho que estimula por meio de brincadeiras e carinhos a interação com o mundo exterior e o desenvolvimento da linguagem.

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Equoterapia e afins

A consagrada terapia que utiliza cavalos pode mesmo auxiliar no desenvolvimento emocional e psicomotor da criança. “Mas sempre com a avaliação de um fisioterapeuta e do ortopedista, que indicarão se a coluna está pronta para esta atividade”, lembra Parizete.

Outras terapias podem ser promissoras, mas exigem um olhar crítico da família. “Há muita oferta hoje, mas os pais precisam estar bem orientados para isso porque cada criança reagirá de um jeito ao tratamento”, indica Parizete. “O melhor estímulo é o oferecido dentro de casa todos os dias”, reforça a psicóloga.

Terapias para a mente

A psicóloga acompanha quase que toda a vida da pessoa com Síndrome de Down. “Avaliamos primeiro o desenvolvimento do bebê, se ele reage bem aos exercícios, se é apático e como a conexão com a mãe está se desenvolvendo”, conta Parizete. Isso porque é esse elo um dos principais responsáveis por despertar o potencial pleno das crianças.

Por isso não raro o pais também passam pelo psicólogo – na APAE, o grupo de cuidadores se reúne mensalmente e atende casos específicos. “Se o vínculo com o bebê e a saúde mental dos pais não são trabalhados desde o início, pode haver impacto na saúde da criança, pois ela depende de que eles estejam prontos e dispostos a colocar em prática diária as terapias aprendidas no consultório”, explica Parizete.

Já as psicopedagogas entram em cena para preparar a criança para a aprendizagem lá na frente. “A partir dos seis, quando começamos a estimular especificamente leitura e escrita, esse profissional começa a treinar a questão didática”, conta Parizete.  Nessa idade também fica mais fácil de observar o comportamento da criança em grupo.

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O contato com a arte

A criança pode, e deve, ter contato com a música o quanto antes. “Desde cedo começamos esse contato com musiquinhas de bom dia, cantando o nome da criança, batendo palmas… Isso estimula a linguagem, a memória e a coordenação motora e deve acontecer não só durante a terapia, mas o tempo todo”, explica Parizete. Exercícios teatrais e de artes plásticas também estimulam o cérebro e a vida social.

Outros acompanhamentos

Enquanto a criança cresce, os médicos devem ficar de olho para outras possíveis complicações da síndrome que comprometem o desenvolvimento intelectual e físico. É o caso, por exemplo, de problemas auditivos e visuais, que podem ser flagrados precocemente com visitas anuais ao oftalmo e ao otorrinolaringologista.

Os exames de tireoide também são solicitados com certa frequência pelo pediatra, pois as alterações na glândula, as quais estes pequenos estão mais sujeitos, podem influenciar o crescimento.

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