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Crianças precisam de papel e caneta não só para aprender a escrever

Independente dos aprendizados no tablet e por vídeos, o clássico treino no papel não deve ser deixado de lado. Entenda porque ele é tão importante.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 8 set 2021, 14h44 - Publicado em 5 Maio 2020, 18h43
Criança e mãe escrevendo no papel
 (Westend61/Getty Images)
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Afinal, em um mundo onde trabalho, conversas, aulas e tarefas cotidianas são resolvidas no meio digital – agora ainda mais por conta da pandemia do coronavírus -, crianças pequenas ainda precisam treinar a escrita à mão? A resposta é sim. A habilidade é considerada essencial para o desenvolvimento infantil, e não apenas para a alfabetização. 

“A escrita à mão não é um fim, mas um meio de estimular o desenvolvimento cerebral da criança”, explica Luciana Brites, psicopedagoga do Instituto NeuroSaber, em Londrina/PR. Isso porque, enquanto digitar é um ato considerado mais mecânico, escrever é uma atividade complexa, que envolve diversos mecanismos.

Um estudo conduzido em 2012, quando o uso de telas começava a aumentar pelo mundo, mostrou esse efeito com imagens de ressonância magnética. O trabalho comparou a atividade cerebral de 15 crianças de cinco anos ao verem imagens de letras que haviam desenhado à mão ou digitado. 

Na primeira situação, uma espécie de “circuito de leitura”, responsável pelo processamento das letras, reconhecimento de palavras e formas, era ativado de maneira bem mais significativa do que na segunda. A pesquisa foi conduzida pela Universidade Columbia e pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. 

Digitar x escrever 

Basta pensar em como você, adulto, digita e escreve. Para formar palavras no papel, é preciso mais concentração, planejamento, formar a imagem das letras na cabeça, calcular o espaço que ocuparão na folha… No meio digital, muitas vezes sequer olhamos para as teclas.

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“O movimento manual estimula áreas cerebrais responsáveis por memória e linguagem, que são menos ativadas com o teclado”, aponta Deborah Moss, neuropsicóloga, mestre em psicologia do desenvolvimento pela Universidade de São Paulo (USP).

Tudo bem fazer no automático na vida adulta. Mas, para a criança pequena, que ainda está desenvolvendo todas essas habilidades cognitivas, esse estímulo pode fazer falta no futuro. “O principal prejuízo é a pobre produção de texto e capacidade de leitura”, destaca Luciana.

Fora o aprendizado em si, crianças que escrevem bem, sem dificuldades, conseguem transmitir melhor seus pensamentos e ideias.

Papel e caneta no tempo certo 

A importância do treino da escrita não quer dizer que, tão logo a criança consiga segurar um lápis, deve começar a ser alfabetizada. A ideia é antes trabalhar a coordenação motora e a consciência corporal. Para isso, a primeira infância deve ser um período de movimentação intensa, e mais horas solto no chão do que em uma cadeirinha ou sofá. 

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“As crianças estão brincando menos com o corpo, e precisam pular, subir, descer, rolar no chão, vivenciar seu corpo e seu lugar no espaço, que é cada vez mais limitado, antes de conseguir escrever”, destaca Deborah.  

Quando o pequeno já tiver seus movimentos de pinça e coordenação motora finas mais estabelecidos, aí sim pode brincar com papel e os giz mais grossos para, depois, conseguir segurar no lápis. Os rabiscos e desenhos são o primeiro passo no processo de aprimoramento que culminará nas letras. 

Ah, e vale ressaltar que se espera que escrita e leitura estejam mais estabelecidas por volta dos seis anos de idade. É importante ter isso em mente pois diversas abordagens hoje tentam antecipar esse processo. Até lá, a ideia é apenas familiarizar a criança com as letras, estimular a linguagem oral por meio do diálogo, sem pressão.  

Uma vez estabelecida a escrita à mão, é hora de investir na digitação. Afinal, a tecnologia não é nenhuma inimiga, e as crianças também precisarão de suas habilidades nos tablets e companhia no futuro. A ideia é justamente encontrar um meio termo saudável entre on e offline.  

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