“Terminou de brincar, é hora de guardar”. Se você sempre ouvia isso quando era criança, possivelmente cresceu sabendo que as coisas têm seu lugar e que, depois da bagunça – que faz parte de qualquer dinâmica familiar saudável – vem a organização.
E não há dúvidas: hábitos que desenvolvemos ainda durante a infância permanecem em nosso dia a dia de forma natural, sem que se tornem uma obrigação chata e pesada. É por isso que apresentar desde cedo aos pequenos como é simples e até prazeroso manter o ambiente em ordem faz tanta diferença.
Aprendendo pelo exemplo
“A primeira forma de apresentar isso aos bebês é pelo modelo dos pais”, explica Nalini Grinkraut (@nalinigrinkraut), personal organizer especialista em desapego e bem-estar. “De forma geral, a gente aprende muito mais através do exemplo do que com aquilo que nos é dito. Uma casa com adultos desorganizados acaba criando a referência de um ambiente bagunçado para a criança”, alerta a profissional.
Para uma casa em ordem, porém, não é preciso exagerar com regras e punições, pelo contrário. A ideia é ir apresentando as atividades de forma natural, como devolver os brinquedos à prateleira, colocar a roupa suja no cesto e levar o prato usado à pia.
“A partir do momento em que o bebê começa a engatinhar e interagir, você já pode incentivar que ele devolva as coisas para o lugar, pode mostrar que aquilo tem um espaço correto em que deve ser guardado”, orienta Nalini. “Assim, conforme a autonomia da criança aumenta, você vai inserindo novas atividades”, acrescenta.
Desenvolvimento de habilidades
Mas se só de pensar no assunto você já fica com receio de incluir seu filho nas tarefas domésticas, é importante lembrar que esse é um hábito que contribui – e muito! – para o desenvolvimento dele. “Quando uma criança se sente motivada a ajudar, ela se vê como parte da casa, cria um senso de responsabilidade e de independência, sem falar no desenvolvimento de habilidades, como a coordenação motora”, destaca a personal organizer. Além disso, o pequeno que sabe o trabalho que certas coisas dão valoriza muito mais quando determinada tarefa é feita, ajudando até a cuidar mais dos espaços, porque entende que os objetos não se ajeitam sozinhos.
Estímulo dos pais e cuidadores
Nesse processo, estar presente é fundamental. Desde a supervisão e o auxílio no início do aprendizado, até o elogio. “Quando você mostra para a criança que ela conseguiu executar uma atividade, você contribui para a autoestima dela, estimulando também a autonomia”, lembra Nalini.
Para isso, elogiar o comportamento tem grande importância. Falas como “que bacana que você tirou a louça da mesa!” e “olha que legal que você já consegue guardar seus brinquedos sozinho” são ótimos exemplos. A especialista sugere também mostrar o resultado daquilo que a criança fez. “Você pode dizer ‘olha, quando você guarda seus brinquedos, fica muito mais fácil de achar depois’ ou ‘quando você me ajuda a lavar a louça, a gente acaba muito mais rápido’”, exemplifica.
Ainda pensando nisso, Nalini deixa um alerta importante: refazer o que a criança fez é extremamente prejudicial, já que a crítica acaba desmotivando os pequenos. “Nós, adultos, já temos um padrão de perfeccionismo superior, até porque temos mais técnica. Mas a criança não, ela faz seguindo o padrão dela, que vai melhorando aos poucos conforme o hábito e com o treino”, reforça. Portanto, nada de refazer a cama porque o edredom ficou torto ou reorganizar talheres e pratos na mesa – lembre-se de que cada faixa etária terá uma habilidade diferente.
Atenção ao exagero
Como em quase tudo na vida, equilíbrio é a palavra-chave. Um ambiente muito autoritário e perfeccionista pode acabar gerando um efeito contrário, causando ressentimento na criança, que talvez se comporte de forma oposta na vida adulta, como resposta ao que viveu na infância. “O ideal é entender que a dinâmica da casa vai bagunçar, que é normal ter um momento de bagunça, mas que é preciso guardar as coisas depois. Não precisa se apegar tanto ao padrão estético, de que tudo precisa estar organizado por cor. A ideia da organização não é fazer uma foto bonita, mas proporcionar uma casa que funcione”, pondera a especialista.
Pelo mesmo motivo, broncas e ameaças, como “se você não guardar esse brinquedo eu vou doá-lo”, não são bem-vindas. “A intenção é que a criança se sinta parte da casa e envolvida nas tarefas, não ameaçada ou punida”, finaliza Nalini.
Não sabe como começar? Veja, a seguir, sugestões de tarefas por faixa etária (que vão se acumulando conforme a criança cresce):
– 1 a 2 anos: pode começar a devolver os brinquedos para o lugar e colocar as roupas sujas no cesto, sempre com a supervisão de um adulto mostrando onde ele deve guardar.
– 3 a 4 anos: levar o prato até a pia após as refeições, lavar coisas de plástico, ajudar regando as plantas.
– 5 a 6 anos: arrumar a cama, pendurar a própria toalha.
– 7 a 8 anos: colocar a mesa para as refeições, ajudar a família no supermercado, entre outras.