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Como conversar com crianças pequenas sobre o que é abuso sexual infantil

Especialistas reforçam que, quanto mais cedo, melhor para explicar aos pequenos o que é consentimento e a importância de dizer 'não'!

Por Alice Arnoldi
19 ago 2020, 14h52
 (1-1/Getty Images)
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Junto com os cuidados essenciais à saúde da criança, construir um diálogo honesto com ela continua a ser o recurso mais poderoso para protegê-la e é isto que ganha força quando o abuso sexual infantil volta a ser discutido.

Em maio de 2020, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) divulgou o balanço das denúncias feitas no disque 100. Dos 159 mil casos contabilizados, 86,8 mil tinham crianças e adolescentes como vítimas. E entre eles, 17 mil tinham cunho de violência sexual.

Com dados tão preocupantes, a discussão caminha para o reforço de que políticas públicas precisam existir para que crianças e jovens sejam protegidos efetivamente. Mas há também a parte que fica mais próxima de conseguirmos colocar em prática: a de desconstruir o tabu que ainda existe sobre educação sexual, e iniciar a conversa a respeito do assunto o mais cedo possível.

1. Não é só sobre órgãos sexuais

Para que este diálogo seja saudável, o que explica Fernanda Teles, psicóloga e educadora parental, é a importância de pais entenderem que educação sexual não é apenas sobre os órgãos genitais ou o ato sexual em si. Com o passar do tempo, eles também serão abordados. Mas na primeira infância, o foco é ensinar as crianças sobre consentimento.

Mesmo que elas ainda sejam pequenas ou até mesmo bebês, Fernanda orienta que os pais avisem – e até peçam licença – quando tocarem as partes genitais dos filhos para limpar e aproveitem o momento para explicarem o que estão fazendo. Estas atitudes carregadas de respeito não têm idade específica para começarem a acontecer.

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“Desde o momento que a criança nasceu, os pais podem ensinar os pilares da prevenção contra o abuso que é o respeitar o próprio corpo e o consentimento da criança para tocá-lo”, enfatiza a especialista.

2. Ensine quem pode tocar

Para que fique claro para a criança quem pode ou não tocar as suas partes íntimas, é essencial que os pais citem exemplos concretos para ela. A psicóloga pontua que é importante dizer, por exemplo, que pais e avós podem cuidar das suas partes íntimas para higienizá-las.

Mas se um amigo ou adulto pedir para que o pequeno abaixe a calcinha ou a cueca para ver sua parte íntima, ainda que não a toque, isso também não está certo e ele deve contar o que aconteceu para alguém de sua confiança.

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3. Não duvide da criança

E para criar este ambiente em que a criança se sente confortável em dizer o que está acontecendo ou solucionar alguma dúvida que a está incomodando, é preciso que ela se sinta validada ao falar.

“Não duvide dela. Acolha a criança quando ela relatar alguma coisa, tenha uma escuta atenta, aberta. Caso contrário, você corre o risco de fechar qualquer espaço de diálogo no futuro”, reforça Roberta Rivellino, presidente da Childhood Brasil.

O mesmo cuidado é salientado por Fernanda. Caso os pais suspeitem que o filho possa ter sofrido uma situação de abuso, colocá-lo contra a parede pode piorar o caso. “Temos que ter muito cuidado quando começamos a invadir a intimidade dessa criança, porque se ela está sofrendo abuso de alguém que a está ameaçando, ela não vai querer contar”, exemplifica a psicóloga.

Em casos como este ou que a criança sinalizou diretamente para os pais que algo aconteceu, a psicóloga frisa que adultos repitam para os filhos que, independente do que tenha ocorrido, eles são amados e que a culpa não é deles. Informe que a família procurará por ajuda profissional e os sentimentos de confusão e medo serão tratados com carinho.

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4. “Não” é não!

Ainda na infância, é importante que a criança cresça com a consciência de que o seu “não” tem poder. Isso significa que, em um ato de respeito a ela, é imprescindível que os pais não a obriguem a trocar nenhum tipo de carinho com um adulto que ela não queira.

“Se a criança é obrigada a dar um abraço ou um beijo, ela vai entender que isso é normal. Inclusive se ela tiver contato com um abusador que fizer o mesmo”, explica Fernanda.

Já quando acontece o contrário e ela é escutada quando diz “não”, esse acaba sendo o primeiro passo para entender que não é preciso anular as próprias vontades pelo outro e aprende, aos poucos, a impor limites. “Sempre que alguém ultrapassar a linha de respeito da criança, ela tem que ser encorajada a dizer ‘não'”, completa a especialista.

Dar esta autonomia ao pequeno pode fazer com que os pais fiquem receosos do filho parecer chato aos olhos dos familiares e amigos próximos. Mas o conselho de Fernanda é que eles amparem as crianças diante de adultos que querem obrigá-las a fazerem algo, para que eles entendam que os menores também têm desejos próprios e são seres humanos em formação.

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5. O que pode ajudar?

Tanto para a prevenção quanto para ajudar a criança a criar vocabulário para explicar, a presidente da Childhood aconselha pais a usarem materiais de apoio sobre o assunto.

Roberta cita livros como “Não me toca, seu boboca!” e “Pipo e Fifi”, que trazem histórias lúdicas para explicar a importância da criança dizer ‘não!’ e como reagir em uma situação de perigo (listamos mais alguns títulos aqui!).

Além da literatura, vídeos educativos também podem ajudar. A série “Que Corpo é Esse?”, produzida pelo Canal Futura em parceria com a Childhood Brasil, Unicef Brasil e a Fundação Vale, é uma das opções. Ela traz episódios pensados e separados pela faixa etária das crianças, respeitando os limites de entendimento dos pequenos. 

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Outro vídeo importante sobre o assunto e que viralizou na internet foi da estudante de psicologia Nivea Cavalcannte. Ela fez dedoches para ilustrar uma música criada pela Boneca Juju, em que se explica didaticamente onde estão as partes íntimas do nosso corpo e por que elas não podem ser tocadas por estranhos.

Incluir esses tipos de conteúdo na rotina da criança auxilia os pais a repetirem a conversa mais de uma vez e trazerem a cada diálogo mais naturalidade para o assunto. Assim, os pequenos vão aprendendo que, caso algo aconteça com eles, o silêncio não deve ser uma opção!

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