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8 em cada 10 crianças apresentaram alterações de comportamento na pandemia

Dado é de pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria, que traz ainda um panorama sobre o acompanhamento da saúde infantil durante a quarentena.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 19 ago 2020, 18h16 - Publicado em 19 ago 2020, 18h10

Quase 90% das crianças apresentaram algum tipo de alteração de comportamento durante a pandemia de Covid-19. A maior parte delas, 75%, passou por oscilações de humor. O dado vem de uma pesquisa feita com médicos de todo o país pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

O levantamento, realizado em parceria com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) ouviu 951 pediatras por meio de pesquisa online, e mostrou na prática o impacto psicológico da quarentena na saúde infantil, um tópico que tem sido aventado pelos especialistas há meses.  

“As crianças necessitam de interação, brincadeiras, atividade física, e o confinamento não só impediu tudo isso como levou ao aumento no uso das telas eletrônicas”, comentou em coletiva de imprensa a pediatra Luciana Rodrigues Silva, presidente da SBP. 

 

“As principais consequências que estamos notando desse cenário são uma maior irritabilidade, sono e ganho de peso”, apontou a médica. Para ela, a falta de contato com o mundo exterior, a interrupção prolongada das aulas e a diminuição da movimentação física podem impactar o desenvolvimento físico e mental da criança. 

Além disso, como alerta em nota a SBP o próprio estresse da pandemia, a desorganização da rotina e uma dificuldade dos adultos em atender as necessidades emocionais dos filhos podem contribuir para o surgimento ou agravamento de um sofrimento psicológico da criança. Lá na frente, isso pode aumentar, por exemplo, o risco de depressão e transtornos de ansiedade. 

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Saúde física também pode estar prejudicada

A pesquisa trouxe mais dois alertas importantes para as famílias. Mais de 60% dos pediatras ouvidos afirmaram que houve queda acentuada nas consultas, e 33% responderam que a queda foi moderada. Ou seja, a grande maioria dos especialistas notou a diminuição na procura por eles, o que pode ameaçar a saúde dos pequenos.

“Sabemos que, apesar da pandemia, as demais doenças continuaram a acontecer, e crianças com doenças crônicas continuaram precisando de cuidados”, comentou Luciana na coletiva. Outro ponto de atenção é para o cumprimento do calendário de vacinação. No inquérito, mais de 70% dos pediatras consideram que o público infantil deixou de ser vacinado. 

 

“Isso é um problema porque há o risco de doenças já erradicadas voltarem a nos dar trabalho, como aconteceu com o sarampo recentemente”, destacou a presidente da SBP. 

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Pré-natal foi afetado durante a pandemia 

Ginecologistas e obstetras também foram ouvidos no levantamento. E, dos 574 respondentes, 64% disseram que a rotina de pré-natal foi alterada no período. Na hora de analisar os impactos em si, as opiniões ficaram divididas. 

Ao serem perguntados se as gestantes haviam conseguido fazer seus exames de rotina no tempo certo, 46% disseram que sim, 46% que não, e 8% afirmaram que as pacientes que acompanhavam deixaram completamente de fazer exames no período.  

Por fim, os ginecologistas enviaram relatos dos principais medos que passam pela cabeça da gestante. O maior deles, escutado por 57% dos profissionais, é de contrair a Covid-19 e passar a doença para o bebê. 

“Como esperado, a grávida coloca em primeiro plano a saúde do bebê, mas chama a atenção o fato de que nossa principal preocupação, na verdade, é com ela”, declarou César Fernandes, presidente da Febrasgo. “Não temos provas de que a transmissão vertical (quando o feto é contaminado pela mãe) ocorra, mas o risco para a gestante com Covid-19 é assustador no país”, completou o médico. 

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