Neuroarquitetura: como o quarto influencia o comportamento do bebê
Entenda por que planejar os espaços de forma consciente e propositiva é tão importante e saiba como montar um ambiente ideal para o seu filho.
Você já ouviu falar em neuroarquitetura? O termo, que se origina da fusão entre neurociência e arquitetura, faz referência justamente à intersecção entre essas duas ciências, buscando nas diferentes áreas de conhecimento elementos para compreender a influência do espaço físico no modo como as pessoas se comportam nele.
As especialistas Gabi Sartori e Priscilla Bencke, fundadoras da Academia de Neurociência e Arquitetura, explicam, por exemplo, como é possível criar ambientes que cumpram objetivos específicos, “como promover relaxamento, foco, bem-estar, pertencimento, concentração, entre outros. Para isso, são estudadas as influências que diferentes parâmetros causam no comportamento humano: cores, iluminação, acústica, temperatura, plantas, cheiros, texturas, ângulos e curvas”, detalham.
Ainda segundo as arquitetas, a cultura de cada região também conta no desenvolvimento desses espaços, assim como faixa etária, gênero e estilo de vida.
O quartinho do bebê
Quando se pensa no projeto do quarto do bebê, algumas características principais logo vêm à mente: um tema, um personagem, uma paleta de cores… E embora essas questões sejam realmente importantes para a família, vale pensar em como tornar aquele espaço um ambiente que ajude a acalmar o pequeno.
“Pensar sobre a tranquilidade do bebê é essencial. Precisamos ter em mente que ele está, mesmo que fora do útero, em desenvolvimento, e que vai permanecer nessa condição por um longo período da vida, inclusive de desenvolvimento cerebral”, lembram as profissionais.
Escolha das cores
Como a primeira cor que os pequenos identificam é a vermelha, vale escolher cuidadosamente quais tons vão compor o quartinho dele. “Se o objetivo é a tranquilidade, com menos estímulos para não o deixar alerta, o ideal é pensar em cores neutras”, orientam Gabi e Priscilla. Porém, elas destacam que, para estimular a visão, é interessante que haja contraste em algumas partes do quarto, com cores mais vivas. “Não tem certo e errado, varia de acordo com o objetivo”, ponderam.
Ou seja, se houver espaço, vale fazer um cantinho para atividades com tons mais contrastantes. Isso não significa, necessariamente, um papel de parede ou uma tinta vibrante; almofadas e outros itens podem cumprir muito bem essa função.
Luz e som
“Como espécie humana, nós somos pautados pela iluminação – é ela que regula o nosso relógio biológico, fazendo com que nosso corpo funcione no ciclo dia e noite (sono e vigília). Para o bebê, isso também é fundamental, pois a luz está passando informações plenamente necessárias para o funcionamento do corpo dele”, lembram as arquitetas.
Por isso, é importante mimetizar ao máximo como a iluminação funciona na natureza. Assim, a criança entende quando é dia ou noite, o que é essencial para regular o sono e a alimentação, por exemplo. Por outro lado, bebês têm necessidades diferentes, então optar por boas cortinas ou persianas blackout certamente ajudará nos momentos de soneca.
Além da luz, os sons do ambiente também contribuem para torná-lo mais ou menos tranquilizante. Um quarto que fique longe do barulho da rua, por exemplo, tende a ser mais propício ao bebê, mas recursos como músicas ou sons (como os “ruídos brancos”), podem trazer relaxamento e até ajudar a criança a compreender a rotina – sabendo que aquela é a canção de ninar, que essa é a rima do banho, entre outras.
Xô, bagunça?!
Se você é a típica pessoa organizada que começa a pensar a decoração a partir das caixinhas, dos nichos e dos cestos – já visualizando todos os brinquedos muito bem guardados – é melhor ir com calma quando o assunto é o quarto dos filhos.
“A bagunça pode trazer diferentes sensações às pessoas, como angústia, estresse ou ansiedade… No entanto, para crianças, ambientes extremamente funcionais e nominalistas podem gerar um efeito inverso, inclusive depois, na idade adulta”, alertam Gabi e Priscilla.
A ideia é que o ambiente não seja bagunçado, mas que tenha vida, personalidade – e isso às vezes é complicado em espaços muito minimalistas ou muito organizados. “A criança precisa ter o máximo de elementos que despertem nela o pertencimento”, destacam.
Um espaço para explorar
Por fim, vale lembrar que um espaço que dê autonomia à criança pode fazer toda a diferença no desenvolvimento dela. A partir dos seis meses, já é interessante que o bebê consiga se movimentar pelo quarto sozinho – para isso, claro, é preciso que o ambiente seja seguro.
Elementos montessorianos (como a famosa caminha no chão) são ótimas opções, assim como móveis com cantos arredondados e tapetes que deixem tudo mais aconchegante. “Espelhos também são positivos, já que ajudam o bebê a criar a identidade, permitindo que se entenda como um indivíduo. É a partir daquele espaço que ele vai começar a compreender o mundo”, finalizam as arquitetas.