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Educar é Preciso

Camila Menon trabalha com crianças desde a adolescência. É especialista em primeira infância, professora e diretriz Montessori da Educar é Preciso (@educarepreciso)

Como promover uma relação saudável com a comida já na introdução alimentar

A função de pais e cuidadores vai muito além de oferecer alimentos. Entender isso é essencial para o desenvolvimento de uma relação saudável com a refeição

Por Camila Menon
Atualizado em 26 jul 2023, 13h39 - Publicado em 15 jul 2023, 10h00
Tática de salva-vidas para resgatar bebês em casos de engasgos
Tática de salva-vidas para resgatar bebês em casos de engasgos (monkeybusiness/Envato)
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A introdução alimentar é um marco importante na vida de um bebê, pois é nesse momento que ele começa a descobrir o mundo dos alimentos além do leite materno ou da fórmula. No entanto, o período é muito mais do que simplesmente oferecer novos alimentos. Também está intrinsecamente ligado à educação alimentar e ao respeito pelo desenvolvimento individual de cada criança.

Nessa fase, temos a oportunidade de promover uma relação saudável da criança com a comida e estimular uma alimentação equilibrada. Por isso, é tão importante que, desde o início, pais e cuidadores entendam seu papel na criação de processos claros do que pode ou não acontecer na hora da refeição, proporcionando ao bebê a oportunidade de consumir alimentos variados e não apenas os que ele demonstra ter preferência – o que o ajuda a desenvolver um paladar variado.

Abaixo, seguem algumas recomendações para assegurar que os processos criados na introdução alimentar sejam claros e eficientes:

1. Respeite as necessidades da criança

Independentemente das necessidades dos adultos, como voltar a trabalhar, achar que o bebê está passando vontade ou não querer mais amamentar, é importante, desde o início, respeitar as necessidades da criança. A introdução alimentar deve ocorrer apenas quando ela estiver pronta para isso, e não quando você gostaria que acontecesse. Portanto, a menos que haja recomendação médica, nenhum bebê deve começar a introdução alimentar se não apresentar os sinais adequados, como ter no mínimo 6 meses, sentar-se e conseguir sustentar a cabeça sem apoio, já ter reduzido ou eliminado o reflexo de protrusão (esticar a língua para fora) e demonstrar interesse ao acompanhar com os olhos as pessoas comendo.

2. Ofereça uma variedade de alimentos desde cedo

Já está comprovado que o paladar construído até os 2 anos de idade determina escolhas e preferências futuras. Quanto mais cedo a criança experimentar novas texturas e sabores, melhor será sua adaptação.

3. Deixe a criança explorar texturas, cores e sabores

Isso pode despertar a curiosidade e o interesse dela pela comida – o que não quer dizer que o bebê precise brincar com os alimentos. O método BLW (Baby-Led Weaning) é apenas uma das formas de oferecê-los e, nem de longe, é a melhor ou a mais eficiente para todos. Se você optar por não utilizá-lo, tudo bem. Seu filho não perderá em nada. Independentemente da forma escolhida para a oferta do alimento, o que garante o sucesso na introdução alimentar é saber direcionar a criança e evoluir os processos. Então, estude sua opção antes para entender como fazer essa condução de forma eficiente.

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4. Paciência e persistência

Se o bebê não demonstrar interesse por um determinado alimento, não desista. Ele deve ser apresentado de formas diferentes por, no mínimo, 15 vezes. Por exemplo: caso seu filho não goste de maçã, ofereça-a em purê, amassada, cozida, misturada com outros ingredientes, com especiarias, em diferentes texturas e formas. Considere que a criança realmente não gosta do alimento somente se você tentar todas as alternativas e, mesmo assim, ela não aceitar.

menina sentada na cadeira de alimentação com um prato de comida em sua frente. Ela segura uma colher de um lado e usa a outra mão para comer
(zest_marina/Thinkstock/Getty Images)

5. Busque ajuda profissional, se necessário

Se a criança não aceitar de forma alguma uma determinada textura (purê, por exemplo) ou uma categoria inteira de alimentos (como frutas ou carnes), procure ajuda profissional de um terapeuta ocupacional, de um fonoaudiólogo e/ou de um nutricionista para avaliação.

6. Dê opções, mas com limites

Dar autonomia para a criança não significa deixá-la comer o que quiser e na hora que quiser. A responsabilidade por decidir por um cardápio adequado e equilibrado é sempre do adulto. Portanto, a criança deve decidir o que comer entre as opções ofertadas. Logo, em vez de dizer: “O que você quer comer?” – o que a leva a escolher qualquer coisa, dê alternativas. “Meu amor, o que você quer comer de almoço: macarrão com frango, ou frango com creme de milho, arroz e feijão?”

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“Mas, Camila, e se a criança não quiser nenhuma dessas opções?”. Ok ceder, desde que a opção escolhida seja viável e não vire um processo. Entenda, tudo que tem repetição é aprendido como sendo possível. No mais, é o que eu sempre digo: em casa que tem comida, ninguém passa fome e seu filho tem que entender desde cedo que nem sempre ele pode fazer apenas o que quer.

7. Não force a criança a comer certos alimentos

E nem obrigue seu filho a ingerir tudo o que você coloca no prato. Isso impede que ele entenda a sensação de saciedade e pode criar uma associação negativa com a comida, levando a problemas alimentares no futuro.

8. Estabeleça horários para as refeições

A prática garante que o corpo da criança se adapte melhor e permite uma organização mais eficiente.

9. Lembre-se: ceder ao leite no começo é esperado…

…Já continuar substituindo a comida por leite o tempo todo, mês após mês, cria um processo em que a criança entende que o leite está sempre à disposição e não a ajuda a ver o alimento com a importância que se deve.

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Para quem amamenta, vale lembrar que, não importa quanto tempo você decida continuar a amamentar, após os 12 meses, o leite materno não possui mais os nutrientes necessários para saciar e fortalecer a criança e, por isso, assim como a fórmula, deve virar o complemento de uma alimentação balanceada, que passa então, a ser a principal fonte de energia.

10. Evolua a introdução alimentar conforme a criança cresce

É importante acompanhar o desenvolvimento da criança e passar para novas fases. Por exemplo: se você começou com papinha, por volta dos 9 meses, introduza alimentos que o bebê possa comer com as mãos (como pães, pedaços de frutas e legumes) e aos poucos introduza os talheres. Se a criança começou com o método BLW, preste atenção na oferta de todas as texturas e não apenas nas de que ela gosta, e introduza os talheres entre os 9 e 10 meses. Porque, independentemente da forma de introdução alimentar ou se a criança toma fórmula ou é amamentada, aos 12 meses, é esperado que ela já esteja comendo a mesma comida que a família, tenha entendido como funcionam as refeições e esteja usando o talher para comer, sozinha ou com o mínimo de ajuda possível.

Promover a educação alimentar desde cedo e respeitar as preferências e necessidades individuais da criança são passos essenciais para cultivar uma relação positiva e respeitosa com os alimentos. No entanto, entender que sua responsabilidade vai muito além de apenas alimentá-la é fundamental no sucesso desse processo e de como será a relação que ela desenvolverá com as refeições.

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