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Por Coluna
Camila Queres é educadora infantil e mãe de Bento e de Joaquim. Tem pós-graduação em Gestão e Educação e hoje está no comando do berçário Toddler, em São Paulo

Meninos e meninas: por que brinquedos não têm gênero

Educadora relata a importância das crianças terem o contato com diferentes tipos de brincadeiras e como o preconceito ainda é presente entre os pais.

Por Da Redação
Atualizado em 24 nov 2017, 17h18 - Publicado em 24 nov 2017, 17h15
Crianças brinquedos de menino e de menina cozinha panelinhas
 (FamVeld/Thinkstock/Getty Images)
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Antes mesmo de ter filhos, ministrei um curso para pais e mães sobre brinquedos e brincadeiras na infância. Em um dos slides, fotos de meninos brincando com panelinhas e dando banho em bonecas afetaram de formas diferentes homens e mulheres da plateia. Algumas mães relataram que os filhos gostavam de brincar de comidinha, mexer nas panelas, colocar avental e chapéu de mestre cuca. Os pais reviraram os olhos. A brincadeira com bonecas pareceu incomodar mais o público em geral – parecia ser algo menos aceito, poderia gerar suspeitas, ainda que infundadas, com as quais os pais não gostariam de lidar.

Perguntei aos pais que estavam presentes se eles participavam da rotina dos filhos: banho, alimentação, troca de fraldas etc. Todos, sem exceção, disseram que sim. Por que, então, as imagens de meninos, realizando tarefas tão comuns ao universo do homem moderno geraram desconforto? Silêncio absoluto. Preconceito, como sempre, infundado. Pais trocam fralda, dão banho nos filhos, oferecem papinha, colocam para dormir, mas não podem simular as responsabilidades da paternidade com uma boneca. Incoerente. Na categoria dos “brinquedos de menina”, enquadram-se ainda as vassourinhas, carrinhos de supermercado e ferros de passar. Opções normalmente encontradas na cor rosa, licenciadas por personagens de desenho animado, provavelmente princesas.

Ouvi, certa vez, de uma educadora que as meninas eram naturalmente mais afetivas e os meninos naturalmente mais racionais. Há divergências sobre o quanto fatores biológicos interferem nessa “predisposição” ou o quanto as brincadeiras às quais as crianças são expostas ajudam a formar meninas emotivas e meninos racionais. Kits de mágica, blocos de montar, jogos de tabuleiro são comumente associados ao universo masculino e instigam o olhar curioso, a análise de dados, a tomada de decisão. A oferta de brinquedos a meninos e meninas não seria também fator de influência na formação de caráter e, até mesmo, estímulo às escolhas profissionais futuras? Vejamos a quantidade de meninas que sonha em ser engenheira ou cientista. Brincadeiras são para todos – uma pena que a gente insista em inibir a curiosidade dos pequenos.

O faz de conta estimula habilidades socioemocionais, cognitivas e linguísticas. A possibilidade de representar situações reais, cotidianas, ajuda nossos pequenos a compreender o mundo e suas convenções sociais. Ele prepara as crianças para o futuro. A menina que brinca de carrinho e joga futebol aprimora sua noção espacial e se tornará melhor motorista. O menino que brinca de boneca e cozinha nas panelinhas amplia sua autonomia e se tornará melhor companheiro. O brincar livre é garantia de aprendizagem – o resto é bobagem.

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